CINEMA

O que é realidade e ficção em ‘Conclave’, filme ganhador do Oscar sobre a seleção de um novo papa

Produção levou estatueta de Melhor Roteiro Adaptado e, de acordo com especialistas, é bem fiel ao processo que deve acontecer em breve no Vaticano.

O que é realidade e ficção em ‘Conclave’, filme ganhador do Oscar sobre a seleção de um novo papa
Ralph Fiennes em 'Conclave. - Foto: Divulgação/Diamond Films

‘Conclave’, filme baseado no livro homônimo do escritor Robert Harris que mostra a morte de um papa fictício e o processo de escolha de um novo pontífice, se tornou um dos principais assuntos dos últimos dias devido à morte do papa Francisco, na segunda-feira (21), e da proximidade de um conclave real.

Coincidentemente, o longa ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado acabou de chegar ao Prime Video. Com a disponibilidade no streaming e a morte do papa, o interesse em entender como funciona o ritual fez com que a quantidade de streamings do filme aumentasse cerca de 280% no mundo inteiro desde o dia 21 de abril, com 6,9 milhões de minutos assistidos. A popularidade é tanta que em algumas cidades brasileiras ‘Conclave’ até voltou aos cinemas.

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Um ritual ‘guardado a sete chaves’

Isabella Rossellini em ‘Conclave’. Créditos: Divulgação/Diamond Films

O nome vem do latim “cum clave” (fechado a chave) e gera curiosidade devido à aura de mistério que acompanha o processo. Mas, de acordo com especialistas, a representação do filme é bastante fiel à realidade, com alguns elementos ficcionalizados para garantir a dramaticidade de uma produção hollywoodiana.

“O processo de votação foi muito bem feito”, de acordo com o padre Thomas Reese, escritor de diversos livros sobre a igreja católica — incluindo ‘Inside the Vatican: The Politics and Organization of the Catholic Church’, que detalha o processo do conclave —, em entrevista à rádio norte-americana NPR.

Enquanto o processo acontece, os cardeais ficam isolados na Casa Santa Marta, comandada por freiras que, assim como no filme, são fundamentais para o funcionamento do local, mas praticamente invisíveis. Eles podem interagir entre si, mas são proibidos de manter contato com o mundo exterior.

No conclave, todos os cardeais com menos de 80 anos se reúnem na Capela Sistina e votam para eleger um novo papa. Não há candidatos prévios e o consenso só é alcançado quando um cardeal recebe dois terços dos votos. Segundo Thomas Reese, a urna de prata, usada para depositar as cédulas, e o local de queima dos votos são réplicas perfeitas dos reais.

Drama da realidade e detalhes ficcionalizados

Sergio Castellitto em ‘Conclave’. Créditos: Divulgação/Diamond Films

As tensões políticas entre conservadores e liberais, que no filme são representadas pelos personagens Tedesco (Sergio Castellitto) e Bellini (Stanley Tucci), também existem dentro da igreja. “Costumamos dizer que a igreja é uma instituição divina governada por homens, e eles não são anjos e santos”, explica Reese. “Então, quando existem pessoas que estão trabalhando pelo melhor da igreja, haverá desentendimentos e isso é humano, é normal”, completou.

O que acaba sendo um dos principais pontos do filme é a chegada inesperada de Benitez (Carlos Diehz), descrito como um cardeal “in pectore”, processo no qual o papa nomeia um cardeal em segredo.

Na realidade, ele só seria reconhecido como tal caso o papa revelasse seu nome antes de morrer. No filme, Benitez era desconhecido do decano Lawrence (Ralph Fiennes) e dos demais cardeais próximos do papa até o momento de sua aparição.

Além disso, Lawrence realiza a função de dois cargos diferentes: o de decano, que comanda o Colégio de Cardeais, e de camerlengo, pessoa que assume a liderança da Santa Sé após a morte do papa.

Na vida real, as posições são ocupadas pelos cardeais Giovanni Battista Re e Kevin Farrell, respectivamente.

Atenção aos detalhes

‘Conclave’. Créditos: Divulgação/Diamond Films

O roteirista do longa, Peter Straughan, afirmou que a equipe do filme foi bem recebida no Vaticano e chegaram a participar de uma visita guiada exclusiva, que serviu como pesquisa de campo. “É um mundo fascinante, teatral e queríamos acertar todos os detalhes”, afirmou.

Em entrevista, Ralph Fiennes disse que a precisão foi uma preocupação de toda a equipe do longa. “Nós tivemos um conselheiro religioso no set todos os dias para garantir que mesmo as coisas mais simples do nosso comportamento, como a maneira que posicionamos nossas mãos em oração, [estavam corretas]”.

“Tenho certeza que algumas pessoas vão falar que erramos isso ou aquilo, mas houve um grande esforço para sermos precisos em relação aos detalhes religiosos no filme”, completou o ator indicado ao Oscar.

O conclave que vai escolher o novo papa deve acontecer na primeira semana de maio. O Vaticano ainda não divulgou a data exata.

Maringa.Com
Por Vanessa Santa Rosa