Divulgada nesta quinta-feira (4), a lista de 250 atletas beneficiados com bolsas-esporte do programa Talento Olímpico do Paraná (TOP 2016) reúne muitas histórias de perseverança, sacrifício e amor ao esporte. Histórias de treinadores dedicados e jovens atletas talentosos, que, como Amanda Francieli Costa, 14 anos, veem no programa a chance de realizar o sonho olímpico. Moradora do reassentamento São Francisco de Assis, em Cascavel, Amanda vive com a mãe, o padrasto e dois irmãos numa casa de chão batido, com cerca de 20 metros quadrados, e é um exemplo de dedicação ao esporte.Ela concilia os treinamentos de atletismo com a rotina de estudo – uma exigência do programa do governo estadual, voltado para atletas que freqüentam regularmente o ensino fundamental, médio ou superior.A família vive da agricultura familiar e do trabalho de uma irmã de Amanda como diarista – atividades que geram uma receita mensal de menos de R$ 350. Ela depende da ajuda financeira de servidores da prefeitura para custear a passagem de ônibus para treinar, pois mora a 12 km do centro esportivo municipal.Ao mesmo tempo, Amanda freqüenta as aulas do primeiro ano do ensino médio no Colégio Estadual do Reassentamento São Francisco. ”Sempre tirei notas boas. Quero ser agrônoma e preciso estudar muito. Gosto muito dos meus professores, pois eles me apóiam no estudo e no atletismo também”, diz Amanda, já selecionada para receber a bolsa de R$ 500 mensais.Mesmo com as dificuldades financeiras e a distância percorrida para treinar, Amanda sonha em representar o Brasil em uma olimpíada e quem sabe receber uma medalha de ouro. “Comecei a correr depois que meu pai faleceu, pois esse era o sonho dele. Aprendi a gostar e hoje quero representar meu país”, disse a atleta, que tem o técnico e maratonista Vanderlei Wyzykowski como exemplo profissional.A jovem atleta é considerada uma promessa do atletismo paranaense. Em apenas um ano e meio conquistou importantes títulos e colocações: primeiro lugar na prova de 800 metros nas Olimpíadas Escolares de 2010, com o tempo de dois minutos e meio; primeiro lugar na prova de 2.000 mil metros com obstáculo do Campeonato Paranaense de Atletismo de Menores, realizado em Maringá; e medalha de ouro nos Jogos da Juventude de 2010. Estou muito feliz em receber essa bolsa. Com isso, vou poder comprar um novo tênis, mais materiais e ter condições de treinar todos os dias”, disse. O auxílio vai ajudar na preparação para a próxima e mais importante competição do ano, as Olimpíadas Escolares Brasileiras, que acontecem em setembro em João Pessoa, na Paraíba, onde disputará a prova dos 800 metros rasos.Para o técnico Vanderlei, é fundamental que Amanda amplie os treinamentos e tenha uma alimentação mais balanceada para melhorar o rendimento nas provas. “Ela já mostrou talento, mesmo treinando pouco. Agora com essa ação do governo vamos ter a possibilidade de comprar um uniforme próprio e, se for o caso, vitaminas”, disse. Segundo Vanderlei, algumas vezes Amanda deixa de treinar porque gastou o dinheiro da passagem na compra de uma fruta ou lanche. “Ter que optar entre comer e treinar é muito difícil”, disse o técnico.Amanda nasceu no estado de Santa Catarina e desde os nove anos mora no reassentamento do Movimento Sem Terra (MST) em Cascavel, que atualmente é composto por outras 90 famílias. A unidade foi criada pelo governo do Paraná para abrigar moradores atingidos pela construção da barragem do Salto Caxias, em Capitão Leônidas Marques.SUPERAÇÃO – A situação não é diferente nas outras 34 modalidades olímpicas e 14 paraolímpicas que serão contempladas pelo programa do governo estadual: falta apoio e infraestrutura.
O pugilista londrinense Odair Gonçalves dos Santos Junior, 16 anos, afirma que a falta de materiais e a dificuldade financeira o prejudicaram muito no início da carreira. “Pensei em desistir, mas meu sonho foi mais forte”, afirmou Odair, que estimulado pelo tio começou a lutar em 2008 apenas para prática esportiva. “Eu era zagueiro no futebol, mas como não tinha muito talento, optei pelo boxe”, afirmou.Aluno do segundo ano do ensino médio no Instituto de Educação Estadual de Londrina, ele é apontado como uma das grandes promessas do boxe nacional e uma aposta para disputar as Olimpíadas de 2016 e 2020. A bolsa-atleta vai permitir que ele dedique tempo integral aos treinamentos, que são realizados na sede da Federação Paranaense de Pugilismo.“Esse valor vai me ajudar a comprar materiais e suplemento para aumentar minha capacidade física, sem precisar voltar a trabalhar”, destacou. Odair trabalhou como empacotador em um supermercado de Londrina e, em março, deixou o emprego para se dedicar ao sonho de chegar à seleção brasileira de boxe.Na primeira luta que disputou, o pugilista mostrou preparo e competência, nocauteando um adversário de Cascavel em dois minutos. Ele atua na categoria peso mosca (52 quilos) e com pouco mais de dois anos de atuação já coleciona importantes conquistas e títulos, como o de campeão paranaense em 2010 e a terceira colocação no Torneio das Estrelas, realizado em 2011 em São Paulo e que reuniu os melhores atletas do País. Na curta carreira, Odair subiu no ringue dez vezes, obtendo vitórias em seis delas.“O governo está oferecendo o primeiro auxílio financeiro da minha carreira. Tenho uma família estável, mas preciso do recurso. É um grande incentivo para o esporte no Paraná, que tem um boxe técnico e rápido”, disse o lutador, que aponta o pugilista filipino Manny Pacquiao, campeão mundial, como seu ídolo no esporte.Odair e seus dois irmãos moram com a mãe, autônoma, e o padrasto, trabalhador da construção civil. A bolsa vai permitir que ele permaneça treinando na cidade natal, perto dos pais e dos amigos. Atualmente, o atleta também recebe uma bolsa de inglês e informática de uma construtora de Londrina.O treinador do pugilista, César Augusto Pereira, disse que os estados de São Paulo e Santa Catarina tentaram levar o atleta para treinar fora do Paraná. “A ascensão dele foi rápida e, como ganhou posições importantes, foram aparecendo alguns interessados em levá-lo”, afirmou. Ele destacou as dificuldades financeiras dos esportistas do boxe. “Os outros estados pagavam um valor maior e os atletas paranaenses já estavam deixando suas cidades natais. Com esse benefício, a evasão vai ser mínima”, afirma o treinador.Sobre o sonho de Odair de pertencer à seleção brasileira e chegar às Olimpíadas, César considera viável e acrescenta que vai depender do trabalho do pugilista:”Para chegar lá tem que ter dedicação. O Odair é disciplinado, tem excelente capacidade física e boa técnica. Acreditamos muito no trabalho dele”.“Um investimento para que as cores do Paraná sejam levadas para todo o mundo. Os atletas têm muitas dificuldades e precisam de um Estado que trabalhe para oferecer estrutura e oportunidade”, disse o governador. Richa destacou que, nos últimos anos, o Paraná perdeu muitos talentos do esporte por não ter uma política de incentivo a prática esportiva.