MEIO AMBIENTE

Aquecimento global pode reduzir diversidade de espécies do Paraná em até 54%

Pesquisa foi realizada pelo NAPI Biodiversidade com o Centro de Computação Científica e Software Livre da UFPR. Saiba mais.

Aquecimento global pode reduzir diversidade de espécies do Paraná em até 54%
Na lista de espécies em risco de extinção no território paranaense com o aumento da temperatura está o pinhão, a erva-mate e a gralha-azul. - Foto: Reprodução/Bio in Foco

Imagine um Paraná sem pinhão. A araucária, árvore símbolo do estado e fonte do pinhão, corre risco de desaparecer totalmente do território paranaense até o final deste século. É o que aponta o estudo preliminar do NAPI Biodiversidade - Serviços Ecossistêmicos em parceria com o Centro de Computação Científica e Software Livre da UFPR.

E não é só a iguaria que representa a identidade e a cultura local que está em perigo. De acordo com a pesquisa, o aquecimento global pode extinguir localmente até 54% das espécies nativas do Paraná até 2100.

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Na lista de espécies em risco de extinção no território paranaense com o aumento da temperatura também está a erva-mate, que pode perder até 60% do ambiente propício para seu crescimento. Com a perda dessas espécies, desaparecem também as conexões essenciais da natureza, como a gralha-azul, ave vital para dispersar as sementes da Araucária.

É um retrato sombrio de um futuro em que o sabor, o ecossistema e a memória paranaense podem se perder para sempre.

“À medida que a temperatura aumenta, os impactos sobre a biodiversidade crescem de forma acelerada, não linear. Aumentos aparentemente pequenos, como entre 2,9°C e 3,5°C, podem representar a diferença decisiva entre a sobrevivência ou extinção local de muitas espécies”, explica Victor Zwiener, pesquisador do Departamento de Biodiversidade da UFPR em Palotina e integrante do projeto.

Segundo Zwiener, grupos biológicos como anfíbios, plantas e répteis são os mais sensíveis às mudanças, com até metade das espécies desses grupos podendo perder mais de 50% do habitat disponível no Paraná.

“Em cenários pessimistas, até 15% dessas espécies correm risco de extinção local, o que representa uma perda irreparável para os ecossistemas do estado”, destaca o pesquisador.

As regiões dos Campos Gerais, e da floresta estacional, que compreende as áreas predominantemente nas bacias dos rios Paraná e Paranapanema, são apontadas como as mais vulneráveis devido ao aquecimento projetado, que pode chegar até 5,3°C no cenário mais grave.

“Essas áreas já são historicamente fragilizadas pelo desmatamento e fragmentação. A alta temperatura combinada com o habitat degradado torna o ambiente inóspito para as espécies nativas”, relata Zwiener.

O pesquisador ressalta que as análises consideraram apenas os efeitos climáticos, sem incluir impactos adicionais como desmatamento contínuo, o que pode agravar ainda mais a situação.

O estudo, desenvolvido em parceria com os pesquisadores Marcos Carlucci, André Padial e Weverton Trindade, do Departamento de Botânica, também chama atenção para os efeitos indiretos do aquecimento sobre a economia local e o bem-estar das comunidades.

Um exemplo emblemático é a erva-mate, planta fundamental para a cultura e economia do Paraná, que pode perder até 68% das áreas aptas para cultivo em cenários pessimistas.

A redução de polinizadores e anfíbios pode desequilibrar o funcionamento dos ecossistemas e elevar o uso de agrotóxicos, impactando diretamente a saúde humana e ambiental das populações locais.

Na primeira fase do projeto, foram modeladas a distribuição de cerca de 76% das plantas, 95% das aves, 85% dos mamíferos, 89% dos répteis, 83% dos anfíbios e 67% dos peixes nativos do Paraná, permitindo a identificação das áreas prioritárias para conservação e restauração no estado.

“Restaurar as áreas degradadas e proteger as ainda preservadas é fundamental para a resistência da biodiversidade a curto prazo”, afirma Weverton Trindade, um dos pesquisadores do projeto.

Ele ressalta a importância do fortalecimento das Unidades de Conservação e a criação de corredores ecológicos para permitir o deslocamento das espécies frente às mudanças climáticas.

“A médio e longo prazo, é essencial o monitoramento contínuo e a atualização constante dos planos de manejo, alinhados às políticas públicas para combater as causas das mudanças climáticas”, conclui Weverton Trindade.

Segundo Weverton, apesar do aumento da temperatura pressionar para a redução da biodiversidade no território paranaense, as projeções da pesquisa não resultam obrigatoriamente na extinção das espécies analisadas.

“Existem araucárias, por exemplo, registradas no Espírito Santo e na Bahia, o que mostra que alguns indivíduos podem suportar temperaturas mais altas, embora ainda não saibamos se conseguem reproduzir e produzir pinhões. As projeções indicam tendências e cenários possíveis. Por isso, não devemos nem nos desesperar achando que não podemos fazer nada porque está tudo perdido, nem achar que todas as espécies vão dar um jeito de se adaptar. Contudo, o estudo serve para nos alertar para os impactos das mudanças climáticas, e para nos mostrar caminhos para reduzir esses efeitos", conclui o pesquisador.

Assessoria de imprensa