SAÚDE

Exercícios demais interferem na capacidade reprodutiva

É consenso no meio médico que a prática de exercícios físicos e uma dieta equilibrada são fundamentais à manutenção do peso e, como decorrência, de condições mais saudáveis de vida. Mas os excessos são condenáveis: no homem, pode causar problemas relacionados à diminuição da produção de espermatozóides e, na mulher, pode afetar seriamente a ovulação. "Uma carga normal de exercícios não afeta a fertilidade dos casais. Já para os que se excedem, a endorfina liberada nesses casos inibe a hipófise, que controla as glândulas de secreção endócrina do organismo, comprometendo a ovulação e a espermatogênese", explica Joji Ueno, especialista em Reprodução Humana, da Clínica Gera, em São Paulo.

Segundo o médico, não é fácil precisar os limites da atividade física para cada pessoa, por isto não se pode criar uma regra geral a respeito do assunto. O limite individual só pode ser estabelecido em academias e clínicas de fisiatria, onde é avaliada a relação entre gordura e massa muscular para determinar aspectos como freqüência e carga do exercício. "Entretanto, há estudos demonstrando que correr mais de 20 km por semana já pode ser considerado demais para quem está tentando conceber. A prática intensa de exercícios, por mais de duas horas diárias, sobretudo de esportes com grande esforço físico e concentração, como ginástica olímpica e balé clássico, também acabam se tornando impeditivos da concepção", diz Joji Ueno.

O principal problema do excesso de exercícios é que ele ocasiona a magreza excessiva ou a perda anormal de peso que podem levar a um decréscimo significativo nas taxas dos hormônios sexuais, decisivos para o desenvolvimento dos óvulos e dos espermatozóides. Hoje, o mecanismo do overtraining, síndrome do esgotamento muscular, que só atingia atletas profissionais também é diagnosticado nas academias, atingindo alunos ‘viciados em malhação’ e corredores amadores. "Ao invés de se tornar um meio de alívio das tensões, a prática exagerada de exercícios só aumenta o estresse, fator que também dificulta a concepção", diz o medico.

Hormônios femininos

Para o estabelecimento de uma gestação, é fundamental que as funções de diversos hormônios estejam equilibradas no organismo feminino. Para que a mulher ovule e consiga engravidar, deve haver uma correta interação entre hormônios produzidos pela hipófise, sob estímulo do hipotálamo e que atuarão sobre os ovários. Os ovários, por sua vez, produzirão principalmente dois hormônios: estradiol e progesterona (que é o hormônio da gravidez, produzido quando a mulher ovula).

"Os principais hormônios da hipófise que participarão do estímulo ovariano são o FSH (hormônio folículo-estimulante) e o LH (hormônio luteinizante), que são inibidos com o excesso da prática de exercícios", explica o médico, diretor da Clínica Gera. A hipófise também produz outros hormônios importantes, como o TSH (que estimula a tireóide), a prolactina (importante para a amamentação) e o GH (que é o hormônio do crescimento). "Quando existem disfunções na produção destes hormônios, este desequilíbrio pode levar a um quadro de falta de ovulação, com conseqüente infertilidade", conclui.

*Joji Ueno é ginecologista, especialista em reprodução humana. Integra e dirige o corpo clínico da Clínica Gera

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