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Violência nas escolas: Especialistas destacam como abordar o tema com crianças e adolescentes

Veja 10 dicas de como pais e professores devem acolher e escutar os estudantes diante do cenário de constante violência contra escolas no Brasil.

Violência nas escolas: Especialistas destacam como abordar o tema com crianças e adolescentes
Adultos devem ficar disponíveis para poder responder às perguntas das crianças, ouvir e pensar com elas sobre as questões que elas têm. - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Com os constantes ataques a escolas no Brasil, dialogar com as crianças sobre o que está acontecendo requer que os pais superem a perspectiva ingênua de acreditar que a violência na escola é algo relativo ao ambiente escolar. Acolher questionamentos e sentimentos nesse momento é a palavra adequada, segundo a professora de psicologia Belinda Mandelbaum, da Universidade de São Paulo (USP):

“Em um primeiro momento, é necessário escutar o que chegou até elas. Escutar os medos e as impressões. A partir dessa escuta, os adultos podem, de alguma maneira, contribuir para uma ampliação da compreensão da criança sobre aquilo que ocorreu”.

Assim, os adultos devem ficar disponíveis para poder responder às perguntas das crianças, ouvir e pensar com elas sobre as questões que elas têm.

Para a psicopedagoga Ana Paula Barbosa, que também é professora de psicologia e pesquisa o desenvolvimento infantil, é fundamental que os adultos não neguem às crianças a possibilidade de sentir e se emocionar. É preciso que as famílias estejam dispostas para essa conversa.

“Elas vão perguntar: ‘mãe, o que está acontecendo?’, ‘morreram crianças?’" Não negue e não se afaste. Acolha a criança e pergunte em que espaço ela ouviu aquela informação. Então, traga a criança para perto. Perguntar o que ela está sentindo e explicar o que é o medo”, pondera a professora do Centro Universitário de Brasília.

A professora recomenda que é possível explicar que o medo é um sentimento e que as famílias e as pessoas na escola estão trabalhando para cuidar da segurança dela.

Uma oportunidade, segundo Ana Paula Barbosa, para identificar que não é bom ser violento, mas que algumas pessoas utilizam a violência.

“Podemos falar sobre o medo para criança externalizar esse sentimento de algum modo. Ela ainda está em processo de desenvolvimento. Deixar claro para ela que, se a criança tiver medo na escola, pode chamar a professora, pedir ajuda, falar sobre os sentimentos”.

Até porque, segundo a pesquisadora Danila Zambianco, da Universidade de Campinas (Unicamp), por vezes, o adulto causa mais temor ainda na criança, uma vez que potencializa algo que até pode ter passado despercebido. “É importante que as famílias deem espaço para as crianças falarem o que percebem e que elas expressem sentimentos”.

Ao invés de inquirir a criança se ela sabe algo sobre a violência, questionar se algo de diferente chamou atenção. “Isso quer dizer que é necessário que o adulto tome cuidado para não julgar o que a criança trouxe”.

Segundo as pesquisadoras, os adultos também transmitem ansiedade e preocupação. E esses sinais são captados pelas antenas da sensibilidade das crianças.

Embora consigam refletir sobre as crises de uma forma mais elaborada, adolescentes requerem também atenção bastante especial em relação ao que ouvem e recebem do mundo. “A gente ainda acha que o adolescente tem algumas capacidades a mais do que a criança, mas o cérebro do adolescente também está em desenvolvimento”, pontua a professora Ana Paula Barbosa.

"Adolescentes vivem em meio a descobertas e chegam a registrar alguns episódios de maneira também distorcida, idealizada ou até romântica. Para lidar com o adolescente, não se costuma utilizar componentes lúdicos. A gente vai ter que encarar uma conversa que traga alertas e possibilidades de riscos para que a pessoa compreenda melhor o que se passa."

Outra providência que adultos podem tomar é chamar a atenção para que adolescentes não satirizem os eventos, chamando-os à responsabilidade moral diante das notícias de tragédia. “Que tipo de humor é esse que se faz por cima do sofrimento de algumas pessoas?”

A exposição chega à sala de casa a partir da TV ligada ou do celular que alguém traz sempre à mão.

Paralelamente ao momento terrível de violência, Gina Vieira aponta que as crianças estão expostas a uma espécie de “abandono digital”. “Os pais estão soterrados de trabalho. As famílias sobrecarregadas e as crianças muitas vezes estão entregues a dispositivos móveis”.

A psicopedagoga Ana Paula Barbosa orienta que os responsáveis se aproximem das crianças e observem aquilo que elas estão olhando ou ouvindo. Ela enfatiza, entretanto, que isso não deve ser motivo para evitar o assunto porque as informações podem chegar deturpadas de outro lugar.

Essas distorções via redes sociais são perigosas, diz a professora Belinda Mandelbaum, pesquisadora do Laboratório de Estudos da Família, da USP. "É preciso entender o que toda essa tecnologia significa para elas e poder mostrar também os riscos que estão envolvidos. Tudo aquilo que as crianças não tenham ainda condições de enxergar.”

Essa aproximação em relação aos meios digitais é papel da família e da escola, cada um com suas características e responsabilidades. “As crianças podem receber informações que podem ser muito perigosas. Elas precisam de adultos”.

Resumidamente, confira 10 dicas de como acolher e orientar jovens e crianças:

  1. É importante preservar as crianças, mas não esconder, mentir ou fugir de temas como a violência nas escolas;
  2. Crianças devem ser informadas que os adultos estão atentos à segurança delas;
  3. Fundamental que o adulto mostre-se disponível para conversar;
  4. Adultos não devem julgar os sentimentos dos pequenos (nem dos adolescentes);
  5. Observar e se aproximar das crianças para identificar o que estão recebendo via redes sociais;
  6. Importante não potencializar um evento;
  7. Explicar que o medo faz parte da vida de todo ser humano e que as crianças são protegidas pelos adultos;
  8. Pais e profissionais da educação devem estar mais próximos para garantir a serenidade diante do momento;
  9. Adultos devem orientar adolescentes contra a satirização ou distorção dos eventos;
  10. Crianças devem ser incentivadas a se expressar, mas não forçadas.
Agência Brasil
Por Gabrielle Nascimento