QUALIDADE DE VIDA

Maringá integra o ranking de melhor cidade para se viver atrai profissionais e famílias de todo país

Maringá integra o ranking de melhor cidade para se viver atrai profissionais e famílias de todo país
‘Nascida’ da prancheta do urbanista Jorge Macedo Vieira, na década de 1940, Maringá construiu ao longo dos seus 70 anos uma reputação positiva pela qualidade de vida oferecida aos moradores. No ano passado, a consultoria Macroplan atribuiu a ela o título de ‘melhor cidade para se viver’ entre os cem maiores municípios brasileiros. Também é considerada uma das mais inteligentes, arborizadas e limpas do país.

Em 2014, estava na lista dos 50 melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo com nota 0,808, atribuída pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No ano seguinte foi apontada como a cidade mais desenvolvida socioeconomicamente do Paraná pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). Destaca-se ainda pela gestão eficiente do dinheiro público.

Não à toa é cobiçada por aqueles que por aqui passam e até por quem nunca pisou em solo maringaense. O paulistano Alex Tobias de Souza é exemplo disso. Em busca de qualidade de vida, ele decidiu trocar São Paulo por Maringá antes de conhecer a cidade pessoalmente. Chegou há cerca de três meses e está feliz com a escolha.

Embora os planos de deixar a capital mais populosa do país fossem antigos, a decisão veio depois que o analista de suporte de informática calculou as horas perdidas no trânsito diariamente. Eram seis horas para ir e voltar do trabalho de carro.

Decidido a mudar de vida, Souza iniciou pesquisas na internet e lá se deparou várias vezes com o nome Walter Fernandes de Maringá entre as melhores cidades brasileiras para se viver. Além disso, encaixava-se no porte que procurava. “Não queria uma cidade muito pequena. Procurava uma com mais de 400 mil habitantes”.

Maringá tem hoje 408 mil habitantes. Estima-se que até 2047, a população chegue a 575 mil habitantes, indicando um crescimento médio de 1,2% ao ano, pautado, em grande parte, pela chegada de novos moradores, a exemplo de Souza.

O paulistano confessa que no início ficou indeciso entre Maringá e Ribeirão Preto/SP. Na lista de prós e contras, a representante paulista levava vantagem pela proximidade com Bebedouro, cidade onde vivem seus familiares. Maringá ‘desbancou’ a concorrente pelo atraente mercado de trabalho no setor de tecnologia de informação.

“Procurei ofertas de empregos, e aqui tinha mais e melhores opções do que Ribeirão”, conta o analista que já fez algumas entrevistas e tem outras agendadas. “Estou tranquilo e confiante que logo estarei trabalhando. Os salários oferecidos são inferiores aos de São Paulo, porém, condizentes com o custo de vidadaqui”, diz Souza, que no mês passado fechou o contrato de aluguel de um apartamento pelo período de um ano e se matriculou em um MBA de uma instituição de ensino da cidade.

Apesar do pouco tempo, o paulistano garante estar bem-adaptado à cidade e encantado com a limpeza, arborização e organização urbana. Ele também elogia as opções de entretenimento e a ausência de favelas.

Amor à primeira vista

A relação de Scarlet Stela Medeiros com Maringá é um típico caso de amor à primeira vista. Quando desembarcou na cidade, em junho do ano passado, ela não teve dúvidas: era aqui que iria morar. Estava tão certa disso que nem voltou à cidade natal. Coube ao marido, Renato do Nascimento Medeiros, a tarefa de buscar a mudança da família no Rio de Janeiro.

“Infelizmente o Rio está muito violento. Estávamos há dois anos procurando uma cidade mais tranquila para morar. Fiz pesquisas na internet e estava em dúvida entre Maringá e Joinville/SC. Ao chegar aqui tive certeza que queria ficar. Não quero ir embora nunca mais”, diz a nova maringaense.

Pesaram na decisão do casal a infraestrutura e os índices de segurança da cidade. “Morava em Bangu [bairro da zona oeste do Rio] e tínhamos horário para voltar para casa por medo de assalto. Até as 21h30, no máximo 22h, estávamos em casa. Aqui já voltei de madrugada, o que jamais faria no Rio”, revela.

A qualidade do serviço público é outro ponto positivo apontado pela família. A pequena Sofia, de 3 anos, estuda na rede municipal de ensino e a mãe é só elogios à estrutura física e pedagógica da creche que, na sua opinião, não está muito distante da rede privada. “Somos vegetarianos e quando a Sofia entrou na creche, houve a preocupação dos profissionais de se inteirar sobre o cardápio para ela”, elogia.

Sem plano de saúde desde que chegou à cidade, a família recorre ao posto de saúde que fica em frente ao prédio onde mora, no Jardim Tabaetê, e se diz satisfeita com o atendimento.

Além da qualidade de vida, a mudança para Maringá permitiu ainda que Stela colocasse em prática o plano de ter um negócio próprio. Ela aluga kits de decoração para festas de aniversário e não esconde a satisfação de voltar ao mercado após uma pausa para se dedicar à maternidade.

Já o marido não teve dificuldade para conseguir emprego como coordenador comercial em uma empresa local de lonas e banners. E embora os ganhos sejam inferiores aos do cargo de gerente de marketing que ocupava no Rio, asseguram o mesmo padrão de vida à família.

Questionada se tem saudades das paisagens cariocas, a nova maringaense é categórica: nenhuma. “Bangu fica longe, então era raro a gente ir à praia. Por outro lado, aqui tem vários parques e o melhor: tudo de graça e pertinho. No Rio, além de longe, tudo é pago, até mesmo uma ida ao zoológico ou ao Jardim Botânico”.

Lar doce lar

“Minha Maringá”. É desta forma que Paulo Amaral se refere ao novo lar nas postagens feitas na rede social Facebook. “Se puder, fico aqui por pelo menos 20 anos”, diz o gerente de Inteligência de Mercado da Unicesumar. Casado e pai de três filhos pequenos, ele trocou a agitação de São Paulo há dez meses e afirma ter encontrado aqui a tão sonhada qualidadede vida pretendida à família. “Lá as crianças viviam doentes, com problemas respiratórios por causa da poluição. Desde que chegaram a Maringá estão com uma saúde ótima”, comemora Amaral, que é pai de uma menina de sete anos e de um casal de gêmeos de dois anos e meio.

O gerente descobriu a vaga na universidade maringaense na internet. A primeira entrevista foi on-line, e os oito anos que trabalhou na Fundação Getúlio Vargas (FGV) contaram a seu favor. Só depois ele veio conhecer a cidade do qual pouco tinha ouvido falar até então. E de cara encantou-se pelas ruas e avenidas arborizadas e limpas, pelo asfalto conservado e pelo planejamento viário.

O que mais encanta o novo morador, no entanto, são os ‘túneis’ verdes nas ruas e avenidas. “É lindo. Mesmo em dias de muito calor, caminhar ali é gostoso”, diz referindo-se à Zona 1 que, segundo ele, lembra os Jardins, bairro nobre da capital paulista. Os jardins e canteiros floridos e bem-cuidados e os parques também enchem os olhos de Amaral. E os shoppings, na opinião dele, assemelham-se aos padrões paulistas.

E não é só isso que o faz sentir-se em casa. Ele conta ter ouvido por aqui gírias paulistanas tamanha a empatia dos maringaenses por São Paulo e não raro esbarra em torcedores de times paulistas. “O pessoal daqui adora a capital paulista, vai para lá passar o fim de semana ou assistir aos shows, espetáculos e jogos de futebol. Essa proximidade faz com que os paulistas sejam bem-vindos. Desde que cheguei fui bem recebido”, elogia.

Amaral diz que o sentimento de felicidade com a mudança é partilhado com a esposa e os filhos, principalmente com a primogênita. Ela passa parte do tempo brincando com os novos amiguinhos nas áreas de convívio social do condomínio onde a família mora, na avenida Londrina. “Esses dias ela estava de férias em São Paulo e pediu para voltar para Maringá porque estava com saudade. Isso me trouxe alívio, porque o único motivo que me faria deixar a cidade seria se minha família não se adaptasse”.

Diferenciada desde o início

Mas afinal, o que faz de Maringá diferenciada? Para muitos, é o constante planejamento, iniciado a partir do conceito de cidade-jardim do inglês Ebenezer Howard. Outros atribuem à localização estratégica e ao solo fértil.

Há quem defenda que Maringá é destaque por causa da bem-sucedida parceria público-privada e do espírito cooperativista. A visão empreendedora e a habitual hospitalidade dos moradores também são apontadas como características peculiares da cidade.

É bem provável que o segredo do sucesso esteja atrelado à soma de todos esses fatores. A cidade foi inicialmente planejada pela Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná. O traçado urbanístico de parques e avenidas largas e arborizadas é obra do urbanista Jorge Macedo Vieira na época de sua criação, em 1947.

Nas décadas seguintes, a cidade passou por um crescimento acelerado, sem perder a ‘essência’ de ser pensada e preparada para o futuro. Foram esses os objetivos dos documentos Maringá 2020 e Maringá 2030, elaborados em 1997 e 2007, respectivamente, por iniciativa do Codem, e mais recentemente do Masterplan.

O projeto arrojado iniciado em 2015, por meio da contratação daconsultoria PwC, tem por objetivo fundamentar o caminho a ser trilhado até 2047 – ano do centenário. É por meio desse planejamento que a administração pública e a sociedade civil organizada pretendem consolidar Maringá e ascidades conurbadas no mapa global de negócios e eventos, dando segurança para futuros investimentos nacionais e internacionais.

A primeira etapa do Masterplan foi concluída no ano passado com a entrega do relatório socioeconômico, resultado de um profundo estudo de números, projeções e entrevistas feitas junto às lideranças públicas e privadas. O documento aponta quatro áreas: saúde, educação, intermediação financeira e desenvolvimento de sistemas.

Presente

Mas não é apenas para o futuro de Maringá que estão voltados os olhares. O presente também se revela próspero. “Os índices econômicos do município são resultados do trabalho conjunto do poder público, da sociedade civil organizada e do Codem, que realizam estudos a fim de auxiliar no planejamento socioeconômico, identificando áreas que podem ser desenvolvidas e auxiliando no desenvolvimento econômico e social”, destaca a diretora do Codem, Juliana Franco Afonso.

Ela cita o crescimento de 80,6% do Produto Interno Brasileiro (PIB), entre 2010 e 2015, uma média de 16,1% ao ano e superior ao PIB da China. “O forte crescimento do PIB está ligado ao desenvolvimento do setor agrícola”, ressalta.

A criação de 706 empregos com carteira assinada em 2017 é outro indicador a ser comemorado, com destaque para os setores de serviços e comércio, com 1.167 e 865 vagas, respectivamente. Por outro lado, a construção civil fechou 1.112 postos.

“Além disso, Maringá vem se tornando um ótimo destino a profissionais de outras regiões, principalmente na área de TI. Isso se deve às ações realizadas para fortalecer o setor e atrair novos profissionais e empresas para a região”, diz a diretora do Codem.

Segundo o relatório socioeconômico do Masterplan, em 2010 Maringá recebeu 39 mil trabalhadores de outras cidades, número que saltou, de acordo com projeção do Codem, para 60 mil em 2017.

Em relação ao consumo, Maringá ocupa posição de destaque entre as cidades do interior. Estudo do IPC Maps mostra variação positiva de R$ 4,3 bilhões, o maior crescimento no Paraná entre 2010 e 2015.

Com potencial turístico também

Protagonista em rankings de qualidade de vida, índices econômicos e gestão pública, Maringá segue o mesmo caminho quando o assunto é destino turístico. Há uma mobilização por parte da iniciativa pública e privada para alavancar o setor. E um importante passo foi dado no final de 2017 com a campanha natalina Maringá EnCantada.

“Essa campanha deu o start no projeto de transformar o natal maringaense em um grande evento e produto turístico. É claro que isso demanda tempo e envolvimento do empresariado e do trade turístico tal como ocorre em Gramado”, destaca a superintendente do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau, Yara Linschoten, referindo-se à cidade gaúcha famosa pelo Natal.

Pesquisa realizada pelo Observatório do Turismo e Eventos, em parceria com o projeto Maringá em Números, do Codem, mostrou que os enfeites de rua e as atrações artísticas atraíram bom público da região no final do ano passado, além de encantar os maringaenses. Segundo a sondagem, 37,2% do público daMaringá EnCantada não morava na cidade. Porém, a maioria (87,5%) era do Paraná.

Moradores de Sarandi (8%), Paiçandu (2,9%) e Marialva (2,2%) lideram as visitas. “Essas pessoas vieram conferir a decoração. A campanha ganhou audiência nas redes sociais e rendeu muita mídia espontânea. Porém, o nosso objetivo é atrair turistas que venham e se hospedem na rede hoteleira, façam compras no comércio, em restaurantes e bares, ou seja, movimentem a economia local”, explica Yara.

Além da campanha natalina, o Convention tem ações para incentivar o turismo de eventos e negócios. “Queremos atrair eventos para a cidade, especialmente dos quatros setores identificados como chaves à economia local pelo Masterplan”, cita Yara. Os setores em questão são saúde, educação, intermediação financeira e desenvolvimento de sistemas.

Outra possibilidade, esta uma realidade por conta da infraestrutura da Vila Olímpica, é sediar eventos esportivos, que também atraem turistas e movimentam a cidade.

Acim