A tecnologia impulsionou uma antiga ferramenta de investigação policial. O retrato falado, que já havia ganhado uma versão digital, agora é incluído em um novo programa de auxílio à busca por criminosos no Paraná.As imagens feitas pelos artistas forenses com informações fornecidas pelas vítimas passam por busca em um banco de dados com 78 mil fotos de pessoas com passagem pela polícia ou pelo Departamento de Execução Penal (Depen) paranaense. O sistema filtra perfis semelhantes e ajuda a apontar suspeitos da autoria de crimes.O programa, desenvolvido por uma empresa de informática de Curitiba, passou a ser utilizado em janeiro desde ano. Entre vários casos, o mais conhecido solucionado graças à ferramenta foi a prisão dos envolvidos no assalto ao restaurante Madero, no bairro Cabral, em Curitiba, no início de abril.O projeto, inicialmente, atende a Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) e suas respectivas delegacias: Furtos e Roubos, Furtos e Roubos de Veículos, Roubo de Cargas e Estelionato.“A implantação do programa corrige uma lacuna que tínhamos por falta de boas filmagens nas cenas dos crimes e de fotos de criminosos. Precisávamos de um meio de fazer essa identificação e o sistema tem auxiliado a polícia na resolução dos crimes”, afirmou o delegado-titular da DCCP, Francisco Caricati. Ele informou que há uma parceria com a Celepar (Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná) para a ampliação do sistema.
Por enquanto, três investigadores – além de outro em treinamento – atendem as vítimas para a elaboração dos retratos falados. O trabalho, produzido no computador, é minucioso, leva de duas a quatro horas para ser finalizado. Centenas de fotos com recortes do formato de rostos, cabelos, olhos, boca e nariz compõem o sistema. As imagens são de criminosos ou de pessoas comuns que se voluntariaram para serem fotografadas.“O mais importante para o desenho é o triângulo da face, que envolve olhos, boca e nariz. A atenção das pessoas nesses detalhes é importante para não ser escolhida uma imagem aleatória, que poderia caracterizar erroneamente um indivíduo”, disse o investigador Fabio Belem.Formado na faculdade de Belas Artes, ele trabalhou por 15 anos com computação gráfica. Se a farta experiência com a tecnologia ajuda, ele confessa que o mais difícil é a entrevista com as vítimas, que precisa ser feita com cuidado e atenção para se extrair o máximo de características do suspeito.A investigadora Daiane Zanon Griesbach conta que a vítima de um crime, em geral, grava muito mais detalhes de um rosto. “Se alguém tentar fazer um retrato falado de uma pessoa que vê todos os dias, bem conhecida, tem mais dificuldades. Quando o indivíduo está vivendo um momento de tensão, de terror, existe maior irrigação de sangue em algumas partes do corpo, uma delas é o cérebro, por isso elas conseguem lembrar melhor”, explicou Daiane.Ela afirma que as mulheres são mais detalhistas nas narrativas e que a reação diante de uma imagem conta muito na hora da identificação. “Muitas vezes as pessoas choram, ficam nervosas, falam que parece estarem olhando para o criminoso, tamanha a semelhança”, acrescentou a investigadora.