O telefone de emergência da Polícia Militar, o 190, número que muitas vezes representa a segurança e esperança de muitas pessoas que se encontram em perigo, vem sofrendo com a falta de respeito de muitos cidadãos. Segundo o tenente Luiz André Moreira, a PM recebe diariamente uma média de 900 ligações, com picos de até 1.200 nos fim de semana. “Infelizmente, cerca de 40% são trotes. São pessoas que ligam e insultam os policiais, ou dão falso testemunho de crime”, afirma Moreira, comandante do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) do 4º Batalhão da Polícia Militar .Conforme o tenente, grande parte dos trotes são feito por crianças e adolescentes. “Os horários em que mais recebemos esse tipo de ligação são nos horários de saída das aulas, tanto da manhã, quanto da tarde”.Apesar da má intenção dos autores, Moreira fala que apenas 5% dos trotes geram deslocamento. “Isso significa cerca de 10 viagens sem necessidade por dia. Apesar de nossos atendentes terem treinamento para identificar um mentiroso, existem situações em que, mesmo com a dúvida, é preferível acreditar no solicitante, a ser negligente com alguém que possa estar passando por uma situação de perigo”, fala. Para o tenente a melhor forma de resolver o problema é investir em educação. “É necessário a ajuda dos pais e outros adultos que flagrem as crianças fazendo esse isso. As pessoas devem ter consciência de que, ao deslocar um policial para uma ocorrência que não existe, ela pode prejudicar outras que poderiam estar de fato necessitando de ajuda”, fala.O tenente lembra que a Polícia Militar possui identificador de chamadas e aqueles que passam trote podem ser indiciados por falsa comunicação de crime. Além disso, uma lei aprovada em março deste ano na Assembleia Legislativa do Paraná, prevê multa de R$ 135,78 para quem atrapalhar os serviços das polícias Civil e Militar, Guardas Municipais e Corpo de Bombeiros. O valor será descontado na conta de telefone do infrator (ou responsável). Perturbação ao sossego no topoCerca de 30% das ligações recebidas pelo 190 geram ocorrência. “Muitas vezes chegamos no local e os envolvidos não estão mais lá, ou a situação já se resolveu. Existem também aquelas ligações que não são direcionadas à Polícia Militar”, relata.As solicitações mais comuns no 190 são: perturbação do sossego (reclamações de barulho excessivo), acidentes de trânsito, atitude suspeita, brigas domésticas e furto qualificado (arrombamentos a casas e veículos).
TreinamentosSão 32 policiais trabalhando no Ciosp, desde o atendimento ao telefone, triagem, até o despacho das viaturas. Além de treinamentos para reconhecimento de trotes, os policiais realizaram, recentemente, através do Projeto Reconhecer, desenvolvido pelo Conselho Comunitário de Segurança de Maringá, um curso de excelência no atendimento telefônico. O curso foi disponibilizado em parceria com a Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM) e ministrado por uma psicóloga especializada no assunto. “O atendente tem que muitas vezes lidar com pessoas em pânico. É necessário receber um treinamento para lidar com a situação”, conta o tenente. Os policiais recebem também treinamento de primeiros-socorros básicos. “Por duas vezes salvamos, pelo telefone, vidas de bebês que estavam engasgados. Em uma delas, enquanto o atendente orientava a mãe, o outro avisou o Corpo de Bombeiros, que chegou rapidamente no local. Temos que estar prontos para lidar com todas as situações”, fala.Para agilizar o atendimentoO tenente Moreira dá algumas dicas para agilizar o trabalho dos policiais e garantir maior resultado nas abordagens. “Quando alguém é assaltado, por exemplo, a primeira coisa que faz é ligar para algum familiar. Somente 10 minutos depois é acionada a Polícia Militar. Se ele fizesse o contrário, a chance de pegar o ladrão seria muito maior”, relata.O policial ressalta a importância de se identificar ao fazer a ligação. “Muitas vezes, no decorrer das diligências, precisamos de mais informações sobre o fato. Se o solicitante não deixar um número de contato, pode prejudicar o trabalho”, diz.181Para aqueles que desejam passar informações que auxiliem trabalhos investigativos da polícia, sem a necessidade de identificação, o procedimento correto é ligar para o número 181. “Neste não há identificador de chamadas e a pessoa não precisa dizer o nome”, afirma.Os atendentes do 181 trabalham no 4º Batalhão da Polícia Militar e também sofrem com os trotes. “São quase 60% das ligações. Apesar disso sabemos que é um serviço necessário. Diversos traficantes e outros criminosos já foram detidos por conta dessas denúncias”, fala.