CULTURA

Personagens e sinais de suas personalidades compõem a exposição de Zezé e Rafaela Tasca

Um ambiente cuidadosamente preparado, luzes com intensidade elaborada, imagens, letras e objetos improváveis de outrora compõem o local.

Personagens e sinais de suas personalidades compõem a exposição de Zezé e Rafaela Tasca
- Foto: Bulla Jr.

No vernissage uma trilha sonora criada por um DJ aponta para uma outra direção, mas Madame Vichy está lá, com um olhar estático e sereno de quem já está ciente de sua atual situação e do futuro líquido que a espera. As sensações estão lá a espera de espectadores, ou melhor, apreciadores que queiram interagir com uma exposição que aponta para muitos caminhos. Um olhar rápido e desatento pode deixar passar os vários nuances que a exposição Personagens, em cartaz desde o dia 8 de novembro no Museu Helenton Borba Cortes, anexo ao Teatro Calil Haddad, possibilita.

Em princípio, a exposição mostra a junção pouco provável de duas artistas bastante distintas. Zezé, com suas pinturas, cria uma ligação bastante direta, quase explícita com o nome da mostra. Suas pinturas retratam “personagens” como Madame Vichy. Já Rafaela Tasca, parte das criações de Zezé para dar volume e voz às figuras que desfilam pelas telas de Zezé e com isso, mesmo ficcionais, empresta uma autencidade para, assim, dar narrativa temporal e novos sentidos aos retratados. Ela cria dois discursos para materializar seus conceitos em relação ao trabalho; Legendagem e Caderno de Segredos. Segundo Rafaela o termo Legendagem não existe no vocabulário, foi criado para dar um sentido mais preciso à proposta. “As Legendagens tem um quê de terceira pessoa ou depoimentos de anônimos (todos inventados) e se expressam nas paredes com grandes letras”.

Uma exposição que acontece em São Paulo, no SESC Avenida Paulista, o Festival Internacional de Arte Eletrônica Sesc Videobrasil, tem como tema curatorial as aproximações entre vídeo, cinema e artes visuais. Entre os artistas convidados está o britânico Peter Greenaway, que montou uma instalação com uma atmosfera e uma proposta que remete à exposição Personagens. Greenaway expõe objetos reais (92 maletas) de um sujeito fictício, Tulse Luper que percorre episódios fundamentais do século 20 e depois desaparece, como também ocorre com Vichy.

Os rastros desses dois personagens estão, em suas respectivas exposições. Um outro aspecto similar nas duas montagens é uma atmosfera de realismo fantástico que permeia e impressiona o espectador.

Rafaela levanta uma outra questão muito cara ao nosso tempo, que é a criação do mito. Os vários fragmentos, deixados pelos personagens, sugerem, mas nunca explicam. O clima enigmático e poético e o desejo de romper com os limites físicos da tela e da narrativa literária, contribuem para esta abordagem.

A exposição é a mais importante, mas não única de várias propostas elaboradas que compõem um conjunto de ações. Antes da montagem de Personagens, realizou-se um curso no Atelier de Redação de formação de monitores. A grande maioria dos alunos está recepcionando, auxiliando e instruindo os visitantes na mostra. Outro evento que acontece é o Caffè Gourmet “O texto e a imagem à mesa”, um café cultural com presença de Rubens Pileggi, Fernando Nunes e Clarice Zamorano. Estes eventos paralelos à exposição, mostram o perfil inquieto e o lado político de Rafaela Tasca que mesmo depois da bem sucedida montagem, rejeita o título de artista, “Prefiro o termo comunicadora estética”, finaliza.

Período: 08/11/2007 a 25/11/2007
Local: Sala de exposições do museu Helenton Borba Cortes, anexo ao Teatro Calil Haddad
 

Kimura