‘A Substância’ quer te deixar desconfortável
Longa de body horror dirigido por Coralie Fargeat, com Demi Moore e Margaret Qualley no elenco, está em cartaz em Maringá.
Os padrões de beleza são impiedosos com as mulheres. O privilégio de envelhecer é mascarado pela oferta incessante de procedimentos estéticos prometendo impedir o aparecimento daquilo que, no final das contas, é irreversível: os sinais do tempo no corpo.
No cinema, a máxima ‘quanto mais jovem melhor’ existe desde o início. Hollywood é reconhecidamente impiedosa com suas maiores estrelas, elevadas a velocidade da luz aos postos de deusas na juventude e derrubadas ao ostracismo com a mesma rapidez quando envelhecem.
Demi Moore, protagonista de ‘A Substância’, em cartaz em Maringá, já sentiu na pele as demandas dessa indústria. Depois de estrelar grandes sucessos dos anos 1980 e 1990, Moore viu sua carreira afundar após alguns fracassos de bilheteria nos anos 2000. Por mais de duas décadas, a atriz esteve em filmes menores ou papéis coadjuvantes, até ressurgir com tremendo êxito no longa de body horror dirigido por Coralie Fargeat.
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A produção segue Elisabeth Sparkle, outrora uma grande estrela do entretenimento que, aos 50 anos, apresenta um programa de aeróbica na televisão. Após ser demitida por Harvey (Dennis Quaid), seu chefe repugnante, Elisabeth descobre a existência de um laboratório que oferece uma substância com a promessa de criar sua versão mais jovem e melhorada. Assim nasce a bela e perfeita Sue (Margaret Qualley).
As mulheres devem trocar de lugar a cada sete dias, sem exceção, e o conflito do filme nasce a partir daí. Quase imediatamente, Sue consegue o antigo emprego de Elisabeth e conhece todos os privilégios proporcionados por sua aparência. Não faz sentido trocar de lugar com uma velha que perde o tempo se alimentando de gordura saturada enquanto ela poderia ganhar o mundo com sua beleza, não é mesmo?
O que se segue é um espetáculo digno de David Cronenberg e capaz de deixar qualquer um de estômago embrulhado. A maquiagem e efeitos visuais excepcionais, acompanhados do design de som e trilha sonora, são capazes de tornar cenas nojentas em verdadeiramente chocantes ou, em determinados momentos, tão absurdas que vertem para a comédia escrachada.
É uma pena que o roteiro tão literal de Coralie deixe o filme sem espaços para sutilezas e, consequentemente, a crítica central sofre, esvaziada em favor do exagero e da necessidade da história em se fazer compreendida. As motivações de Elisabeth também não são muito bem esclarecidas. Na teoria, Sue e ela são a mesma pessoa, mas as mulheres não compartilham uma consciência e a insistência de Elisabeth em seguir no experimento acaba não fazendo sentido. Além disso, o exagero monstruoso dos últimos 30 minutos da história rapidamente se tornam repetitivos.
‘A Substância’ brilha onde a carne menos aparece. No silêncio e solidão de Elisabeth vemos um reflexo empático sobre como perdemos uma parte de nós quando estamos imersos na busca por aquilo que acreditamos ser necessário para viver.
Confira os horários das sessões de ‘A Substância’ em Maringá.