HISTÓRIA

Cripta subterrânea, vitrais e mais: Conheça a história e segredos da Catedral de Maringá

Destaque nacional e internacional pela sua arquitetura icônica, o monumento símbolo de Maringá completa 51 anos de uma história repleta de inovação e curiosidades.

Cripta subterrânea, vitrais e mais: Conheça a história e segredos da Catedral de Maringá
Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória foi inaugurada em 1972 e, desde então, se tornou o monumento ícone da cidade. - Foto: Instagram @maringacom

Algumas características de Maringá fazem a cidade ser reconhecida Brasil afora: o verde das árvores, a qualidade de vida e a Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, símbolo icônico que completa 51 anos de sua inauguração neste dia 10 de maio, mesma data do aniversário de 76 anos da Cidade Canção.

O projeto do monumento de destaque nacional e internacional, devido a sua arquitetura inovadora, começou a ser desenvolvido a partir de 1958, após a chegada do primeiro bispo de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho. “Nós já tínhamos uma Catedral de madeira, que foi inaugurada em 1950. Quando ele [bispo Dom Jaime] chegou na cidade, em 1957, percebeu a necessidade de dar início a um grande projeto que pudesse unir os fiéis e, para isso, ele pensou em uma nova Catedral”, explica o pesquisador da história maringaense, Miguel Fernando.

Primeira Catedral de Maringá, construída em madeira. A estrutura contava com duas torres e sinos, mas Dom Jaime achava inferior a capacidade em potencial da cidade de Maringá. Foto: Reprodução/Maringá Histórica

Catedral de Maringá e sua arquitetura ousada

1959 foi um ano simbólico para os entusiastas da arquitetura. A construção de Brasília e dos prédios de Oscar Niemeyer estavam a todo vapor, o Museu Guggenheim, em Nova York, foi inaugurado e o projeto da Catedral de Maringá começou a sair do papel.

Construção da cúpula da Câmara dos Deputados, em Brasília. Foto: Reprodução/Arquivo Instituto Moreira Salles
Museu Guggenheim, em Nova York. Foto: Reprodução/Guggenheim

A obra é do arquiteto paulistano José Augusto Bellucci, que foi convidado a realizar alguns projetos em Maringá pela Companhia Melhoramentos do Paraná, empresa responsável pela colonização da região. Além da Catedral, Bellucci é responsável pela idealização do Hotel Bandeirantes, do Maringá Clube, da Prefeitura, do cemitério municipal e de algumas praças, explica o arquiteto e professor do curso de Arquitetura da UEM, Aníbal Verri Júnior.

“Toda catedral tem um significado para sua cidade, seja pela importância cultural e religiosa, seja pela imponência de sua construção”, afirma Verri. “E a sua forma verticalizada e cônica imprimiu uma monumentalidade que cabe a todas as catedrais”, completa o arquiteto.

José Augusto Bellucci em Maringá na década de 1950. Foto: Reprodução/Maringá Histórica

A Catedral foi construída entre julho de 1959 e maio de 1972, época em que a arquitetura brutalista se popularizou no Brasil. Caracterizada pelo uso aparente dos materiais construtivos, como o concreto, esse movimento arquitetônico surgiu na Europa durante o pós-guerra e as formas frias das obras do estilo conquistaram arquitetos brasileiros, tanto que edifícios importantes do país tem características brutalistas, como o MASP, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e, também, a Catedral de Maringá.

“Como solução construtiva para a catedral, o arquiteto adotou o uso do concreto armado, muito utilizado no Brasil. A maneira de construir com o concreto, com a utilização de formas de madeira, foi incorporada a expressão plástica da obra de maneira que podemos associá-la à corrente brutalista”, afirma Verri.

Museu de Arte de São Paulo. Fotro: Divulgação/MASP
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de USP. Foto: Divulgação/USP

Com 124 metros de altura — 114 metros do cone e 10 metros da cruz posicionada em seu topo — a Catedral é o maior monumento religioso da América do Sul e a 23.ª estrutura mais alta do Brasil. Em comparação com outros monumentos mundo afora, a igreja é mais alta que o Big Ben (96 metros), a Estátua da Liberdade (93 metros), a Torre de Pisa (57 metros) e o Cristo Redentor (38 metros).

O formato cônico e inusitado não foi escolhido ao acaso. Segundo o‘designboom’, publicação importante de arquitetura, arte e design — que colocou a Catedral como um dos oito exemplos mais relevantes da arquitetura modernista do Brasil —, o projeto de Bellucci foi inspirado nos satélites soviéticos da época.

Além de ser uma decisão estética, a forma também teve benefícios durante o processo da construção, como explica Verri. “Apesar da altura de 124 metros, a forma cônica é muito propícia para a transferência do peso [da Catedral] para o chão. As paredes dos cones têm 20cm de espessura, com a forma e a técnica construtiva em concreto absolutamente alinhadas”.

Registro da construção da Catedral de Maringá na segunda metade da década de 60. Foto: Reprodução/Maringá Histórica

Na década de 60, Maringá tinha prédios de, no máximo, quatro andares. Por isso, na época de desenvolvimento do projeto da nova Catedral de Maringá, a população da cidade tinha dúvidas a respeito da construção ser audaciosa demais. “Um projeto em formato cônico com mais de 120 metros de altura causou não só uma estranheza, mas receio pela impossibilidade de ser executado”, destaca Miguel Fernando.

Mesmo desacreditada, a grande e inovadora catedral foi inaugurada em maio de 1972, quando Maringá celebrou seu jubileu de prata. No entanto, as obras ainda estavam longe de serem concluídas.

“Apesar da cerimônia de inauguração no dia 10 de maio de 1972, a construção ainda estava bruta. As obras da Catedral tiveram fim apenas em outubro daquele ano, quando teve início a fase de acabamentos. Os vitrais e as obras de arte foram finalizados apenas na década de 80”, explica o pesquisador.

Curiosidades e segredos da Catedral de Maringá

Mesmo sendo o principal ponto turístico da cidade, a Catedral de Maringá tem alguns segredos desconhecidos pelos moradores. Conheça alguns: 

Cripta subterrânea

Construída logo abaixo do altar da igreja, a Catedral de Maringá possui uma cripta subterrânea para enterros. No espaço, há capacidade para 24 bispos e 24 párocos mas, atualmente, há apenas uma pessoa enterrada: Dom Jaime Luiz Coelho, o primeiro bispo de Maringá e que deu início ao projeto da Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória. 

Registros do primeiro bispo de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho, quando chegou a cidade em 27 de março de 1957. Foto: Reprodução/Maringá Histórica

Significado dos vitrais

Além das artes, até o posicionamento dos vitrais da Catedral de Maringá possuem um significado bíblico. São 16 monumentos de vidro: os quatro maiores, de 20 metros de altura, simbolizam os pontos cardeais e os outros 12, com 12 metros de altura, representam os apóstolos. 

Nos desenhos dos vitrais, de forma abstrata e colorida, é retratado um homem caminhando. A proposta, de acordo com o pároco Virgílio Cabral dos Santos, é representar a caminhada da humanidade rumo à glória celeste

“Lida” no sentido horário, a trajetória dos vitrais parte da condição do pecado, representado em roxo, passa pelo batismo, em verde, e segue no crescimento espiritual até a santificação.

Vitrais da Catedral de Maringá. Foto: Reprodução/AGP/Carolina Werneck Bortolanza

Elevador inclinado

Desde 2018, a Catedral de Maringá possui um elevador para substituir os 600 degraus que chegam até a parte superior do templo, no mirante da Catedral. No entanto, a tecnologia precisou de adaptações para ser instalada na igreja. 

Devido ao formato cônico, a estrutura teve que ser colocada de forma levemente inclinada passando do eixo tradicional de 90° para 80,6°. A mudança é imperceptível e não oferece riscos. A visita para o mirante da catedral de Maringá foi suspensa em 2010 e ainda não possui data de previsão para ser reaberto. 

Vista do mirante da Catedral de Maringá, fechado para visitação desde 2010. Foto: Reprodução/GMC Online

Atualmente, a Catedral de Maringá realiza missas todos os dias da semana. De segunda a sexta são três missas por dia às 07h, 12h e 18h30. Aos sábados, as cerimônias são às 07h e 19h. Já aos domingos, há missas às 07h30, 09h30, 12h, 17h30 e 19h30.

Maringa.Com
Por Gabrielle Nascimento e Vanessa Santa Rosa