SUSTENTABILIDADE

Lojas de produtos usados ganham destaque com a tendência de reaproveitamento

Lojas de produtos usados ganham destaque com a tendência de reaproveitamento
A estilista Jacqueline Rubim inaugurou a Gaia de Saia, além de roupas usadas, ‘vende’ conceito
Se houve um tempo em que o estigma assombrava quem comprava produtos de segunda mão, isso ficou no passado. Hoje o que está colado à prática é o crédito pelo consumo responsável, que leva em conta a preocupação com o meio ambiente e com um mundo mais igualitário.

Aproveitando a mudança de paradigma, a estilista e consultora de imagem Jacqueline Rubim inaugurou em Maringá, há cinco meses, a Gaia de Saia, que além de roupas usadas, ‘vende’ conceito. A carioca decidiu abrir o negócio na cidade, onde veio buscar colocação há cinco anos, depois de realizar bazares ao estilo ‘desapega’, comuns no Rio de Janeiro. “A aceitação foi bacana, então montei um espaço para mostrar às pessoas a mesma ideia dos eventos que promovia. Comprar roupas usadas, que se tornam novas para quem está comprando, é legal, é sustentável.”

‘As roupas mais sustentáveis são as que já existem’ é o lema estampado no caixa da loja instalada no centro da cidade. Lá o visual, que nem de longe lembra brechós empoeirados, é composto por móveis sustentáveis, não há copos descartáveis e a cápsula de café é reciclável. As peças são expostas em cabides de madeira certificada, levam tag de papel kraft e são entregues para os clientes em sacola de TNT, reaproveitáveis.

O movimento de consumidores nesses primeiros meses anima. As vendas já são suficientes para manter o negócio funcionando sem precisar fazer dívidas, o que Jacqueline considera satisfatório para quem começou sem capital de giro – o prazo estimado para retorno do investimento é de um ano.

A empresária justifica a procura e os elogios que a loja vem recebendo principalmente pela qualidade dos produtos. Ela garante isso ao garimpar roupas no armário de quem oferece o que já não usa. Pelo quilo de tecido, paga R$ 15. Depois disso, higieniza as peças, que são vendidas ao preço médio de R$ 35.

O foco, agora, está no trabalho de divulgação para conquistar clientela, o que não é feito a todo custo. “Costumo dizer que só se deve comprar se for realmente usar. Preciso de dinheiro, é um negócio, mas um negócio com propósito. Há estudos que mostram que viveríamos décadas sem a produção de novas roupas, tamanho o desperdício, e quero fazer diferença”, acrescenta.

Livros

No Sebo Cultura, localizado na região central de Maringá, há mais de 60 mil títulos de livros, CDs, DVDs, revistas, vinis e brinquedos, estes últimos passaram a ser vendidos recentemente. Os itens mais procurados são romances de autores atuais como Nicholas Sparks, mas também há raridades, como edições antigas de Guimarães Rosa.

Embora não fale em faturamento, a empresária Claudinea Basques Fernandes diz que o negócio vem registrando crescimento desde a abertura, em 2001. De lá para cá, foi preciso ampliar a loja, que passou de 200 metros quadrados para os atuais 500. Uma equipe de cinco pessoas, incluindo ela, é responsável pelo atendimento.

Integrante de uma família dona de 40 sebos, negócio que nasceu em Londrina, Claudinea acredita que além dos preços atrativos, a partir de R$ 1, e da variedade não encontrada no mercado dos novos, a difusão do consumo consciente tem se tornado um atrativo. “O hábito de reciclar é uma tendência necessária. Quem compra, apoia essa ideia e ainda economiza.” Outro fator favorável às vendas é a moda retrô, o que afasta ainda mais dos livros e de outros itens do sebo o estigma de produto usado. “Estamos em uma época em que o retrô, o material antigo, está em alta, tem charme”, avalia a empresária.

Economia
O consumo de itens de segunda mão também foi afetado pela crise econômica dos últimos anos, mas de forma curiosa. As plataformas de compra e venda on-line teve resultados positivos no Brasil.

O movimento da empresa da internet foi semelhante no Danilo Móveis Usados, instalado há nove anos na avenida Mandacaru. Aliás, em tempos de crise na economia, lá é sempre assim: menos gente vendendo os móveis porque não pode renovar a casa, ao mesmo tempo em que mais consumidores buscam montar a sua gastando pouco. O resultado é um estoque menos diverso.

Em geral, os produtos mais requisitados são pia e eletrodomésticos como geladeira e fogão, justamente os que mais faltam quando a economia balança. “Às vezes, deixamos de vender porque não temos determinado produto. Mas isso não chega a atrapalhar o negócio. Não posso reclamar. Os últimos anos têm sido ótimos”, comenta o empresário Danilo Neres Silva.

Ele conta que comprou a empresa do antigo patrão imaginando que a tendência de crescimento de Maringá e do número de universitários na cidade alimentaria o negócio. A ideia do reaproveitamento, o que não passava pela cabeça dele uma década atrás, também tem fortalecido as vendas.

“A procura cresceu de uns anos para cá. Excluindo os consumidores de alta renda, todos os outros, o que inclui estudantes, recém-casados, profissionais que vêm de fora, nos procuram”, diz Silva.

O empresário frisa que é preciso manter elevado o padrão dos produtos. “As pessoas estão dispostas a comprar usados, mas querem qualidade. Tendo isso, fazemos a divulgação pela internet e nos preocupamos em fazer um bom atendimento, começando sempre por receber o cliente com um sorriso”, frisa.

Requinte é a palavra de ordem

Na A.Yoshii, a venda dos móveis e outros itens do apartamento decorado – uma reprodução fiel à planta do imóvel, toda decorada a fim de tornar real a experiência dos visitantes – acontece depois que o empreendimento lançado estiver 100% comercializado. E surge, segundo a construtora, pelo interesse dos clientes que compraram apartamentos no empreendimento e não por iniciativa da empresa.

O apartamento decorado é negociado completo, com tudo incluído, para um cliente que comprou unidade no respectivo empreendimento. O valor de venda é menor do que o investido em razão da depreciação natural de móveis e objetos.

Segundo a gerente de marketing da A.Yoshii, Maria Fernanda Benelli Vicente, a comercialização dos decorados não é vista como negócio. “A oportunidade de venda surge com o interesse dos clientes que visitam os decorados, não como estratégia comercial. Mas é extremamente gratificante quando o encantamento do cliente se materializa na transposição da decoração para a sua futura casa.”

Maria Fernanda diz que os decorados são sempre um desejo dos clientes. “Trazemos as principais tendências para mostrar como os ambientes podem ser aproveitados e as soluções de projeto e acabamento. Expomos também peças de designers de renome. Além disso, investimos em marketing sensorial incluindo aromas, iluminação diferenciada e trilhas acústicas, materializando a sensação de desejo em viver nesse ambiente”, completa.

ACIM