CIDADANIA

Hortas comunitárias proporcionam alimentos, integração social e qualidade de vida

Hortas comunitárias proporcionam alimentos, integração social e qualidade de vida
O sol ainda se insinua no horizonte quando o dia começa na horta comunitária do Conjunto Guaiapó, em Maringá. Em meio aos canteiros de verduras e legumes transitam homens e mulheres prontos para mais um dia de intenso trabalho. Logo chega o café trazido por Idalina Marcelino, mãe de 7 filhos e avó de 12 netos.

A jovialidade com que encara a rotina, sempre com um sorriso fácil no rosto, desmente seus 52 anos. “Sou uma pessoa feliz e faço do trabalho na horta uma terapia diária”, resume a matogrossense, há 10 anos em Maringá, para em seguida se dedicar a cuidar dos canteiros de alface, almeirão, couve, beterraba, brócolis, rúcula, chicória, salsinha e até plantas medicinais.

Idalina Marcelino integra uma das 899 famílias envolvidas com o programa das hortas comunitárias, criada em julho de 2007, incentivando moradores a criar e manter espaços verdes com produção de horticultura em bairros da cidade. Ao todo, são 37 hortas comunitárias instaladas, incluindo a horta do distrito de Floriano e outra em fase de implantação no distrito de Iguatemi. O preço das verduras e dos legumes varia entre R$ 1 e R$ 3.

Idalina foi uma das primeiras pessoas a ganhar canteiros da 22ª horta comunitária da cidade, inaugurada em abril de 2012. Ela ficou com o canteiro número 1 no sorteio. A rotina sempre é a mesma: regar as plantas, retirar plantas daninhas, colher e disponibilizar os produtos para a venda diretamente do produtor para o consumidor, sem intermediários.

Sentado na outra ponta do improvisado banco de madeira, Aldevandro dos Santos larga a frase em alto e bom som: “a beterraba para crescer deve ser plantada em noite de lua cheia. Na minguante, ela cresce com a cabeça maior”. O aposentado de 67 anos chega cedo na horta e fica até o anoitecer. “Seo Vandro” é o ′guardião′ da horta comunitária e conta que o trabalho voluntário tem funcionado como ′remédio′ para ele

“Fui diagnosticado com câncer de próstata há anos. Antes de criar intimidade com os canteiros, passava até cinco dias internados Nos últimos meses o jogo virou”, afirma, referindo-se ao bem que cuidar das plantas lhe fazem. Paranaense de Cruzeiro do Oeste, Aldevandro já fez de tudo um pouco na vida para sustentar a esposa e os três filhos.

“A primeira tarefa que faço é dar ′bom dia′ às plantas”, conta o aposentado, acrescentando que esse ′diálogo′ com verduras e legumes faz parte de uma convivência saudável. Mas pelos canteiros têm muitos Aldevandros e Idalinas dedicando-se uma rotina de trabalho para fazer das hortas comunitárias um projeto bem sucedido.

Outros 17 moradores passam horas cuidando de canteiros com tamanhos variáveis entre 10 e 15 metros de comprimento por um metro de altura. “O cultivo de alimentos não proporciona apenas alimentos saudáveis, mas também estimula a convivência, fortalece vínculos e rende dinheiro para os voluntários”, diz o gerente das hortas comunitárias, Maurílio Donizete de Jesus.

Projeto

O espaço e toda a infraestrutura das 37 hortas comunitárias é cedido para que moradores plantem e cuidem do canteiro a que têm direito. O local é do município, as terras são preparadas e os canteiros são montados pela Secretaria de Serviços Públicos (Semusp), que também disponibiliza sementes e mudas.

Atualmente, cerca de 899 famílias são beneficiadas de forma direta com as verduras. A produção é em média de 1.066 mudas por mês. Mais duas unidades serão implantadas ainda este ano: uma no Parque Hortência e outra no Jardim Sumaré. O projeto atende preferencialmente às famílias de baixa renda.

O município promove orientações e custeio de maquinário agrícola, esterco, compostagem, assistência básica com mangueiras, regadores, insumos para plantio, adubação, terra, serviços de roçada, limpeza, pedriscos e fiscalização com engenheiro agrônomo.

O manejo agrícola tem vistoria da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e da Secretaria de Serviços Públicos (Semusp). Interessados em fazer parte do projeto devem ir até os Centros de Referência de Assistencial Social (CRAS) ou falar com o próprio presidente do bairro.

Central de compostagem

A Central de Compostagem, local onde é produzido adubo orgânico para abastecer as hortas comunitárias funciona desde janeiro de 2016. As toneladas de verduras e legumes produzidas não contém nenhum tipo de agrotóxicos e venenos, tudo para o controle de doenças e aumento da produtividade.

De acordo com o gerente das hortas comunitárias, o adubo é produzido por meio de resíduos industriais doados por diversas empresas. A estrutura, localizada na estrada São Luiz (estrada Gleba Pinguim), é de 10 mil metros quadrados de extensão. A cada 90 dias são produzidas 800 toneladas de adubo.