Apesar da crise econômica e da perda de vigor do comércio exterior brasileiro em geral, alguns segmentos no Paraná estão conseguindo driblar as dificuldades e ampliar exportações, impulsionadas pela desvalorização do real frente ao dólar, pela recuperação da economia dos Estados Unidos e pelo crescimento de países da América Latina.Setores como de papel e madeira, bens de capital, compressores e bombas, carnes e café seguem em frente no mercado externo, com aumento de vendas acumuladas no primeiro semestre de até 51% na comparação com o mesmo período do ano passado.“Os resultados desses setores demostram que, não obstante o cenário nacional um tanto quanto desfavorável, as exportações do Paraná vêm respondendo às demandas de recuperação do mercado internacional, privilegiando os produtos de maior valor adicionado, além da natural pujança do agronegócio”, afirma Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes).
MADEIRA - A recuperação do mercado imobiliário nos Estados Unidos ajudou a colocar o setor de madeira paranaense novamente na rota das exportações. Os embarques de madeira serrada cresceram 16,7% no primeiro semestre na comparação com igual período do ano passado, para US$ 64,9 milhões. As exportações de madeira compensada e contraplacada, por outro lado, tiveram desempenho 18,6% maior e alcançaram US$ 185,3 milhões na mesma base de comparação.A madeira paranaense – principalmente MDF e compensada – é usada pelas indústrias da construção e de móveis nos Estados Unidos. Com o estouro da bolha imobiliária americana e a crise a partir de 2008, os EUA reduziram as compras e as exportações desabaram. “O Paraná chegou a enviar 50% da sua produção de madeira para os EUA. Essa participação caiu para 15% na crise e agora está em 22%. Os Estados Unidos voltaram a construir e as exportações estão melhorando”, diz Roberto Zürcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).Dentro do setor florestal, a indústria de papel é outra que tem tido desempenho acima da média, com alta de 13,8% no semestre, para US$ 274,09 milhões. O movimento segue os investimentos das indústrias do setor no Estado, que investiram em ampliações de produção.
BENS DE CAPITAL - Mesmo com indústria de máquinas praticamente parada em todo o País, o Paraná vem se destacando na exportação desses equipamentos, que são fabricados aqui por empresas como CNH Industrial Latin America e Caterpillar. O movimento está sendo puxado pela retomada de obras de construção, especialmente em países da América Latina e do Oriente Médio.No primeiro semestre, as exportações paranaenses de máquinas e aparelhos de terraplanagem aumentaram 51,2%, para US$ 88,7 milhões.
O México, principal destino das exportações de máquinas do Paraná, aumentou em 10% suas encomendas – para US$ 25 milhões - no primeiro semestre, segundo levantamento do Ipardes com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Mas os grandes destaques foram os crescimentos do Chile, com alta de 245,85%, para US$ 12,7 milhões, e da Arábia Saudita, com US$ 7,87 milhões, com avanço de 265,48%.Fabricantes de compressores e bombas também estão conseguindo superar o cenário adverso e aumentaram em 12,9% as vendas externas, para US$ 64,9 milhões no período, puxadas pelas compras da Alemanha, Venezuela e França. “Por enquanto são os segmentos já tradicionalmente exportadores que estão aproveitando o dólar valorizado para ampliar suas vendas. Eles, de certa forma, estão antecipando a tendência que vamos ver nos demais segmentos, que devem apostar mais no comércio exterior também para compensar o mercado interno bastante deprimido. Com a melhora no câmbio, as exportações passam a ser uma alternativa”, diz Roberto Zürcher, da Fiep.
PROJEÇÃO - A previsão é que as exportações ganhem ritmo no segundo semestre, ajudando a compensar a queda geral verificada na primeira metade do ano. De janeiro a junho, as exportações totais do Estado registraram um recuo de 12,9%, cerca de US$ 7,3 bilhões.A tendência de melhora começou a aparecer em junho, quando houve um aumento das exportações da soja, que estavam represadas pelos produtores. O avanço da comercialização deve ser um dos pontos positivos das exportações nos próximos meses. “Há uma previsão de melhora dos números a partir de agora. Com o impacto positivo da soja, que teve safra recorde, é possível reverter a queda acumulada no ano e fechar 2015 com números muito próximos dos de 2014”, afirma Suzuki Junior. No ano passado, o Estado exportou US$ 16,3 bilhões.O cenário de exportações do Paraná deve melhorar gradativamente, com resultados mais expressivos a partir de 2016, de acordo com o presidente do Ipardes. No próximo ano, o efeito do novo patamar do dólar, mais benéfico às exportações, deve se consolidar nos resultados. Da produção industrial do Paraná, 14% têm como destino as exportações, de acordo com a Fiep. Mas esse percentual já foi maior – chegou a 22% em 2006.
Carnes e Café puxam exportações do agronegócioNo agronegócio, os destaques do semestre ficaram por conta das exportações da avicultura, da suinocultura e do café. A abertura de novos mercados e os preços elevados da carne de boi – principal concorrente das carnes de aves e suínos – deram fôlego para as vendas no Exterior, de acordo com Francisco Carlos Simioni, diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.Os embarques de frangos e suínos do Paraná cresceram, respectivamente, 8,1%, para US$ 1,015 bilhão, e 29,3%, para US$ 56,2 milhões. Na avicultura, a Arábia Saudita, China e Emirados Árabes foram os principais mercados. Na carne suína, os principais compradores são Hong Kong, Uruguai e Rússia.Os bons preços internacionais e o aumento do consumo mundial também têm resultado em uma melhor performance das exportações de café. A versão solúvel – cujos principais destinos são Estados Unidos, Rússia e Japão - registrou um aumento de 8,9%, para US$ 139,8 milhões nas vendas externas. No caso do café cru em grão, por sua vez, as exportações tiveram alta de 21,6% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado. Puxadas por Estados Unidos, Itália e Alemanha, elas somaram US$ 53,3 milhões no período.