ENERGIA

Hidrelétricas usam água de reservatórios para amenizar efeito da seca nos rios

Parcelas dos estoques dos reservatórios estão sendo utilizados para garantir a vazão mínima necessária à manutenção da vida nos rios.

Hidrelétricas usam água de reservatórios para amenizar efeito da seca nos rios
Estiagem no reservatório de Foz do Areia em 2003.

A estiagem que há cerca de dois meses atinge os três estados do Sul do País não inspira preocupação em relação ao atendimento ao consumidor de energia, mas já tem reflexos sobre os níveis de armazenamento de água nos reservatórios das principais usinas hidrelétricas da região.

De acordo com a Copel, a tranqüilidade em relação à geração de energia decorre da interligação do sistema elétrico brasileiro, que permite transportar, por grandes distâncias, blocos de energia gerada em outras regiões. Mas, nos reservatórios, os efeitos da seca já são perceptíveis.

A vazão nas Cataratas do Iguaçu, onde os reflexos da estiagem são mais evidentes, vem sendo mantida praticamente apenas com as vazões liberadas pela Usina José Richa (ou Salto Caxias). Diante da incerteza do retorno das chuvas, a geração de energia na hidrelétrica foi reduzida durante os dias do feriado de Páscoa pelo ONS (Operador Nacional do Sistema), com o objetivo de prolongar o uso da água ainda disponível no reservatório e evitar que o rio seque.

A mesma preocupação guia a operação das demais usinas, que no conjunto apresentam preenchimento médio de 35% da capacidade de armazenamento. A prioridade do ONS é poupar as disponibilidades, dosando seu uso para manter pelo maior tempo possível uma vazão mínima capaz de manter a vida do rio.

CONTROLE – As barragens constituem um mecanismo essencial para regularizar a vazão dos rios, seja em períodos de estiagem ou de cheia. “Durante os períodos de seca, os reservatórios das hidrelétricas atuam liberando parcelas de seus estoques, mantendo vazões mínimas necessárias à manutenção da vida no rio. Nas cheias, amortecem seus impactos e efeitos ao reter parte das vazões afluentes, minimizando ou até evitando inundações rio abaixo”, explica Jaime de Oliveira Kuhn, diretor de geração e transmissão de energia da Copel.

O uso de barragens para controlar um rio é um conceito bastante antigo: há 4 mil anos, os egípcios já faziam obras hidráulicas nas margens do rio Nilo para reter a água das cheias e fertilizar o solo. Na Europa, rios importantes como o Danúbio e o Ródano têm barragens construídas em quase toda a sua extensão, o que assegura o uso múltiplo da água tanto para a navegação, regularização, abastecimento público, geração de eletricidade, lazer e perenização da biodiversidade. “No Brasil, infelizmente, a falta de informação e o desconhecimento ajudaram a propagar um conceito de que as barragens são nocivas e prejudiciais ao meio ambiente, quando acontece justamente o contrário”, afirma o diretor da Copel.

VOLUME MÍNIMO – Durante o final de semana da Páscoa, a vazão nas Cataratas do Iguaçu atingiu um mínimo de 350 mil litros de água por segundo – o menor volume de água medido neste ano nas quedas –, refletindo a redução nos níveis de geração na usina de Salto Caxias. “Essa redução de geração já aconteceu há seis anos, no auge da última grande estiagem verificada no Paraná”, diz Kuhn.

“Naquela oportunidade, a produção de energia em Salto Caxias foi reduzida por dois meses e a menor vazão observada nas Cataratas do Iguaçu chegou a 200 mil litros de água por segundo”, lembra o diretor. “A vazão liberada pela Usina de Salto Caxias foi essencial para manter a vida no trecho de 200 quilômetros de rio entre a barragem e as quedas”, acrescenta.

DEMAIS USINAS – Existem cinco hidrelétricas de grande porte no curso do Rio Iguaçu. Três delas pertencem à Copel: Governador Bento Munhoz ou Foz do Areia (1.676 megawatts), Governador Ney Braga ou Segredo (1.260 megawatts) e Governador José Richa, ou Salto Caxias (1.240 megawatts).

Na Usina de Foz do Areia, a maior central geradora da companhia, o reservatório está com 23% da sua capacidade preenchida. “Isso é resultado das baixas vazões do rio em fevereiro e março, que na média corresponderam, pela ordem, a 70% e 60% das vazões históricas medidas em 80 anos de observação”, afirma Jaime Kuhn.

Por ser o primeiro e também o maior dos cinco reservatórios do Iguaçu, o lago de Foz do Areia assume importância estratégica por ajudar a regularizar as vazões para as hidrelétricas instaladas rio abaixo. Mas, com os baixos níveis atuais de vazão, este reservatório também assume a atribuição de dosar a água para fins de preservação ambiental.

Nestes dez primeiros dias de abril, as vazões médias do Iguaçu medidos em Foz do Areia têm se situado em torno dos 170 mil litros de água por segundo – menos de 40% da vazão de 478 mil litros por segundo esperada nesta época do ano. O espelho d’água do reservatório está na cota de 713,2 metros em relação ao nível do mar – 5 metros acima, ainda, do nível mais baixo já atingido, de 708,4 metros, em outubro de 2003.

Por causa das baixas vazões, situação que se reproduz também nas usinas localizadas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a Região Sul está recebendo 5 mil megawatts médios de energia pelas linhas de interligação com a região Sudeste. Adicionalmente, o Operador Nacional do Sistema determinou o acionamento de usinas termelétricas para a complementação das necessidades do mercado consumidor – entre elas, a Usina Termelétrica de Araucária, que pertence à Copel e utiliza gás natural como combustível.