CULTURA

Convite à Música apresenta Sonatas de Beethoven com pianistas de Maringá e Porto Alegre

Convite à Música apresenta Sonatas de Beethoven com pianistas de Maringá e Porto Alegre
Pianista de Porto Alegre Ney Fialkow.
No projeto “Convite à Música” desta quinta-feira (1), os pianistas de Maringá, Yuri Pingo e Ticiano Biancolino e o de Porto Alegre, Ney Fialkow, apresentam as Sonatas Opp. 78, 90 e 106 (Hammerklavier), em mais uma edição do ciclo Sonatas de Beethoven. O concerto será às 21 horas, no Auditório Luzamor, com entrada franca.

O “Convite à Música” oferece concertos especiais sempre nas últimas quintas-feiras de cada mês, mostrando interpretações das 32 Sonatas de Beethoven para piano. Cada recital apresenta de duas a quatro sonatas interpretadas por pianistas.

A secretária de Cultura, Flor Duarte, explica que a interpretação das sonatas é uma parceria entre a Prefeitura e a UEM. “Os professores de Música da UEM ofereceram essa idéia e nós resolvemos colocá-la em prática. A intenção é repetir esses ciclos de apresentações todos os anos com outros autores”, destaca.

Flor Duarte aproveita para convidar a população a conferir os concertos. “Beethoven foi o primeiro escolhido por ser extremamente conhecido, admirado e respeitado. Com os seis anos de apresentações semanais gratuitas do 'Convite à Música', nosso público fiel está cada vez mais exigente. Esperamos que a comunidade compareça em mais esta edição para prestigiar os artistas maringaenses e continuar contribuindo com o sucesso do projeto”, destaca.

As Sonatas Opp. 78, 90 e 106 (Hammerklavier)

Escrita imediatamente antes da sonata Op. 81ª. (Les Adieux), a Op. 78 foi encomendada e editada por Clementi (tal qual a Op. 79), e é em alguns sentidos uma obra diferenciada das demais. Escrita na bastante incomum tonalidade de fa sustenido maior, seu primeiro movimento apresenta um prólogo lento, como já ocorrera antes, mas agora bastante curto, e com real caráter de introdução, ao contrário do que se vira até então. Trata-se de um dos momentos de maior lirismo do compositor, que se entrega livremente a arroubos melódicos (tal como acontece no segundo movimento da Op. 90), com agitações e contrastes de caráter apaixonado. O rápido segundo movimento, tomado por expansivas sequências de figurações ligeiras, soa quase como um improviso, que brinca com o tema principal e com a idéia de um efeito pré lisztiano de uso do teclado.

Depois de concluída a Les Adieux, em 1809, um considerável tempo passou até que Beethoven se sentisse novamente impelido a abordar uma sonata para piano. Foi um período tumultuado para o compositor, com sua audição seriamente diminuída, além de problemas de ordem financeira. É apenas cinco anos depois que Beethoven escreve outra sonata, a Op. 90, em 1814, a qual marca o início de sua terceira fase dentro do gênero. A lenda segundo a qual o compositor teria descrito o primeiro movimento desta obra como “A batalha entre a mente e o coração” e o segundo como “A conversa com a amada” provavelmente é mais uma das várias lendas que envolvem vida e obra de Beethoven, mas, apesar disso, faz bastante sentido. Neste ponto, o discurso do compositor já se afasta consideravelmente do que conhecemos em suas grandes sonatas do segundo período, prenunciando os caminhos que serão largamente percorridos nas cinco últimas sonatas. Grandes contrastes dramáticos são a essência do primeiro movimento, e lirismo suave a do segundo.

Considerada a obra mais difícil para piano de Beethoven, e provavelmente uma das mais desafiadoras de todo o repertório para o instrumento, a colossal sonata Op. 106 é a mais longa das 32 sonatas, e ficou conhecida pelo nome de Hammerklavier, que literalmente significa “teclado de martelos”, sendo o nome alemão equivalente do pianoforte. Esta “grande sonata para pianoforte” como escreveu Beethoven na partitura, traz as principais características de toda a produção final do compositor: a expansividade da forma sonata (quase reinventada), a utilização de harmonias modais (algo que tornou-se cada vez mais raro após a consolidação do tonalismo no século XVII), o retorno à escrita contrapontística de grandes proporções, inserida em um contexto formal e expressivo peculiar. Desde a sonata anterior, a Op. 101, essas características já são observadas, sendo agora reapresentadas de maneira bastante alargada. Como nos diz Andrew Clements em um artigo no site The Guardian, “o trio de sonatas que se segue [à op. 106] – op. 109, 110 e 111 – pode ser mais elusivo e requerer uma eloquência musical muito especial para iluminar todas as suas facetas, mas a op. 106, composta entre 1817 e 1818, testa cada aspecto da arte de um pianista, quase ao ponto da destruição.” De fato, as dificuldades de realização técnica e de concepção musical nesta obra parecem definir um ápice na produção de Beethoven, algo equiparável apenas a alguns dos últimos quartetos de cordas.

A variedade de humores contrastantes, as frases extremamente longas, o intimismo máximo nas passagens lentas e a própria duração estendida do discurso como um todo nos mostra um dos momentos mais românticos do compositor, pensando nos preceitos originais do Romantismo, estabelecidos por literatos e estetas a partir dos últimos anos do século XVIII: a música instrumental pura pretendendo falar do indizível, indo além do discurso limitado das palavras e do próprio mundo terreno. A produção final de Beethoven é a mais genuinamente romântica de sua obra, e na Hammerklavier encontramos exatamente isso: transcendência.

PROGRAMA

As 32 Sonatas para piano de Beethoven

Recital 9

Ludwig van Beethoven (1770-1827)

Sonata em fa # maior, Op. 78 (1809)

1. Adagio cantabile – Allegro ma non troppo

2. Allegro vivace

Yuri Pingo

Sonata em mi menor, Op. 90 (1814)

1. Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit

Empfindung und Ausdruck

2. Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen

Ticiano Biancolino

Sonata em si b maior, Op. 106 (1817-18)

Grosse Sonate für das Hammer-klavier

Allegro

Scherzo: Assai vivace – Presto – Tempo I

Adagio sostenuto

Largo – Allegro – Tempo I – Prestissimo –

Allegro Risoluto

Ney Fialkow