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Leão de Maringá passa por procedimento inédito para voltar a andar

Leão de Maringá passa por procedimento inédito para voltar a andar
Leão Ariel passará pelo tratamento em São Paulo
O leão Ariel, de três anos e com paralisia desde 2010, será submetido nesta quarta-feira (20) a uma espécie de hemodiálise para retirar o plasma sanguíneo. Para suportar o procedimento, ele terá a ajuda de três grandes felinos do interior de São Paulo, que doaram dois litros de sangue cada.

Nascido de cesariana depois que a mãe passou por situação de muito estresse, Ariel sofreu já nos primeiros momentos de vida com muita dificuldade para respirar. Com acompanhamento de especialistas, teve um crescimento normal até que, há um ano, começou a mancar e em poucos dias parou de andar.

O leão Ariel, que nasceu em cativeiro em Maringá no ano de 2008, perdeu o movimento das patas traseiras após ficar doente; as causas da doença são desconhecidas

O leão Ariel perdeu o movimento das patas traseiras após ficar doente; as causas da doença são desconhecidas

"Procuramos muitos atendimentos e especialistas, mas sempre recebíamos laudos inconclusivos", lembra o treinador de animais e proprietário de Ariel, Ary Borges da Silva.

Segundo ele, após uma cirurgia que não resolveu o problema, foi constatado que o leão tinha uma doença degenerativa autoimune. "Para muita gente, o caminho da eutanásia seria o mais fácil, mas nossa prioridade é o bem-estar do animal", afirmou.

A médica veterinária Lívia Pereira Teixeira, que faz o acompanhamento diário de Ariel em São Paulo, decidiu pesquisar os tratamentos realizados em humanos que possuem esse tipo de doença, em que os próprios anticorpos do sangue atacam células do corpo.

"Eu pensei: 'se há humanos se curando, podemos extrapolar para os animais' e decidimos adaptar um equipamento para o sangue do leão", disse Teixeira.

Segundo ela, o tratamento, chamado plasmaferese, consiste em retirar o plasma, filtrar as células de defesa e depois substituir pelo plasma do sangue doado. Veterinários ouvidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária disseram saber do uso da técnica em cães e bois, mas não em leões.

Segundo o médico veterinário professor da Universidade Federal de Goiás, Adilson Donizeti Damasceno, o procedimento em animais é raro no Brasil e não é possível afirmar se já foi realizado em um leão.

"Ainda não sabemos se o sangue doado vai ser suficiente, mas como as amostras são compatíveis o procedimento vai acontecer", afirmou a veterinária Teixeira.

O diretor do Parque Ecológico Municipal de Americana (127 km de São Paulo), Gustavo Malufe, soube que Ariel teria alguma chance de recuperação e não hesitou em ajudar. "O Ary [Silva] entrou em contato e explicou o procedimento, foi tranquilo e os animais já estão bem, em exposição novamente", disse Malufe.

De acordo com ele, o momento da anestesia ainda foi aproveitado para procedimentos de rotina dos animais, como tratamento de garras, dentes e juba. Além do leão e a leoa de Americana, outra fêmea de Piracicaba (160 km de São Paulo) também doou.

"Para nós foi gratificante, ele está lutando para viver e nós podemos contar com pessoas que se sensibilizaram e têm disposição para tentar reverter o quadro", afirmou Silva.
Folha.com