ELEIÇÕES

Número de eleitores em 26% das cidades do PR levanta suspeitas

A eleição deste ano será realizada sob a suspeita de irregularidades no cadastro de eleitores em um quarto das cidades paranaenses (26%). Dos 399 municípios do estado, 105 têm um número de eleitores superior a 80% da população. Essa proporção entre o número de habitantes e o eleitorado, segundo regras da Justiça Eleitoral, é um indicativo de que pode haver fraude na lista de eleitores, de que há mortos ainda cadastrados ou de que há muitas pessoas que não vivem mais na cidade mas que ainda não mudaram o domicílio eleitoral.

Em cidades pequenas, os eleitores “de fora” podem ser decisivos para eleger prefeitos e vereadores, pois o pleito muitas vezes é definido por menos de uma dezena de votos. Se uma localidade tiver 50 candidatos e cada um deles alistar oito parentes vindos de outras cidades como eleitores da cidade, serão 400 votantes. Parece pouco – mas é o equivalente a mais do que 10% do eleitorado em 100 cidades do Paraná.

Quase todos

O caso mais alarmante é o do município de Altamira do Paraná, na Região Central do estado. Em tese, apenas 36 dos 4.369 habitantes da cidade não têm título de eleitor. Ou seja, 99% da população teria título eleitoral. A discrepância pode ser fruto da debandada em massa de moradores. A população da cidade diminuiu 37% nos últimos 11 anos. É como se quatro de cada dez moradores tivessem ido embora. E muitos dos que se mudaram não teriam transferido o domicílio eleitoral.

Altamira não foi incluída na lista daquelas que precisaram passar, até maio deste ano, por um recadastramento eleitoral. O motivo pode ser uma falha de cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O instituto projetou a população da cidade com base em um índice de redução gradativa do número de habitantes. Por conta disso, Altamira aparecia nas estimativas de habitantes 34% maior do que na verdade era. Ter 4,3 mil eleitores numa população de 6,6 mil pessoas – proporção de 65% – parecia razoável. Isso teria despistado a necessidade de realistamento. O procedimento, agora, só pode ocorrer daqui a quatro anos.

Mesmo cidades que passaram pelo recadastramento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) continuam com alta proporção de eleitores. A situação é mais alarmante em Iracema do Oeste (Oeste do estado) e Miraselva (Norte) – municípios que convocaram e realistaram todos os votantes e ainda assim estão com mais de 90% da população com título de eleitor. Do total de 107 cidades que concluíram o recadastramento, 11 ainda estão acima do patamar de referência da Justiça Eleitoral.

A revisão em Miraselva, por exemplo, resultou no cancelamento de 420 títulos de eleitor. O número é significativo, diante do universo de eleitores que restou (1,7 mil votantes). Mesmo assim, a proporção da quantidade de eleitores no total de habitantes ainda ficou em 90,7%.

O chefe do cartório eleitoral, Frederico Amorim Oliveira, conta que Miraselva tem poucas ofertas de emprego e muitas pessoas buscam trabalho em outras localidades – mas sem cortar o vínculo com a cidade. Quando havia suspeita de que o endereço fornecido não estava correto, uma equipe da Justiça Eleitoral fazia visitas-surpresa. Muitas irregularidades, segundo Oliveira, foram detectadas dessa forma.

Outra ocorrência intrigante foi registrada na cidade de Floresta, no Norte do estado. Após a revisão do eleitorado – determinada justamente devido à desconfiança acerca da quantidade de títulos – a proporção de votantes entre os moradores aumentou.

Gazeta do Povo