A Prefeitura de Maringá e o Consórcio Biopuster iniciam oficialmente nesta sexta-feira (11) o tratamento do lixo urbano com tecnologia alemã, inédita na América Latina. O investimento total vai alcançar R$ 3.076.187,26. O município realizou as obras de infra-estrutura para a instalação do empreendimento, aplicando R$ 398.135,00 de recursos próprios. O consórcio está investindo R$ 2.678.052,26.Mesmo se tratando de um termo de cooperação técnica entre o município e o consórcio, aprovado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), os investidores alemães apostam no sucesso do empreendimento. A tecnologia, utilizada há 14 anos na Europa, tem mais condições de resultados positivos em Maringá pelas condições de clima e o tipo de lixo do município, segundo o engenheiro Michael Struwe, integrante do Consórcio Biopuster. A expectativa é alcançar o tratamento de 70% do lixo coletado no município, hoje em aproximadamente 300 toneladas ao dia. O acordo permite ainda ao consórcio o tratamento do lixo depositado no aterro controlado nas últimas três décadas, solucionando o problema do passivo ambiental e prolongando a vida útil do aterro.Crescimento urbanoA tecnologia foi desenvolvida na Alemanha para liberar áreas contaminadas e permitir o crescimento urbano de algumas cidades. Através da injeção de ar comprimido enriquecido com oxigênio nos patamares de lixo, o sistema torna os resíduos estéreis, sem risco de contaminação ambiental. O material é então selecionado através de peneiras gerando recicláveis, matéria orgânica de uso agrícola e resíduos livres de contaminação.O mesmo processo é utilizado com o lixo que chega ao aterro. O material inicialmente passa por peneiras para separar especialmente resíduos orgânicos. A maior parte segue em esteiras onde os recicláveis são separados manualmente por classe, restando apenas o lixo inservível no final do processo. Estes resíduos são confinados em células de tratamento. A estrutura do Consórcio Biopuster de Maringá conta com 14 células com capacidade para mil metros cúbicos de resíduos cada. Com a célula cheia começa o tratamento com ar comprimido e oxigênio injetado através de lanças. Tubos instalados nas laterais das células vão recolher os gases gerados pelo lixo. O processo, explica Michael Struwe, elimina a emissão de gases e especialmente de chorume no meio ambiente.O tratamento é concluído em quatro semanas. O material tratado é novamente peneirado, separando o composto orgânico dos resíduos que passam novamente por processo de seleção de recicláveis. Cerca de 30% do volume tratado é rejeitado e vai para o aterro. A grande vantagem é que este material fica livre de bactérias e microorganismos, perdendo todas as condições de contaminar o meio ambiente.Solução viávelO tratamento do lixo pela tecnologia Biopuster foi a mais viável identificado pelo município, que desde 2006 estava proibido de depositar resíduos no aterro. Como o IAP não licenciou outra área, lembra o prefeito Silvio Barros, a alternativa era implantar um sistema que permitisse o tratamento dos resíduos ao mesmo tempo recuperando o passivo ambiental. O Consórcio Biopuster mostrou interesse em se instalar na cidade, investindo pesado para transformar Maringá em vitrine da tecnologia para toda América Latina. O primeiro passo do município foi retirar os catadores de recicláveis da área, que foi cercada e passou a ser monitorada. Todos os patamares de lixo foram cobertos com terra, lagoas de contenção de chorume foram instaladas dentro das normas ambientais e uma área foi preparada para instalar a estrutura de tratamento.
O secretário de Serviços Públicos, Vagner Mússio, conta que foi necessário deslocar milhares de caminhões de lixo e esgotar uma lagoa para fazer a terraplenagem da área. O município instalou ainda o piso de concreto das células de tratamento, toda rede elétrica e hidráulica e a estrutura de apoio.Equipamentos austríacosNos últimos meses o Consórcio Biopuster passou a montar os equipamentos, parte deles vindos da Áustria e montados a partir de meados de março. Neste início de operação foram contratadas pouco mais de 100 pessoas, que trabalham em dois turnos. A médio prazo a intenção é de formar mais uma jornada e fazer o tratamento 24 horas por dia. Os trabalhadores são na maioria de Maringá, Sarandi e Paiçandu. Inicialmente não existe uma previsão do volume de material reciclável e a ser tratado, mesmo porque a tecnologia é inédita e sem comparação com o tipo de lixo produzido nos países europeus onde o Biopuster atua. O mais importante do sistema, defende o prefeito Silvio Barros, é a possibilidade de retirar o máximo de material reciclável dos resíduos. “Existe uma grande disputa em todo mundo pelo lixo reaproveitável. Não se queima mais lixo”, lembra.O engenheiro do consórcio, Michael Struwe, reforça que boa parte do lixo produzido em todo mundo é material orgânico, com grande quantidade de água. “Estão investindo milhões para queimar água quando incineram o lixo”, lamenta. Ele diz ainda que a proposta do consórcio é fazer de Maringá uma vitrine da tecnologia para entrar em outros municípios brasileiros e países da América Latina.Adubo para cana O prefeito Silvio Barros reforçou ainda que toda matéria orgânica produzida pelo consórcio vai ser destinada a plantações de cana-de-açúcar. As usinas da região inclusive já se comprometeram a comprar toda produção. Ele lembrou ainda que o secretário de Meio Ambiente do Paraná, Rasca Rodrigues e o presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, conheceram a aprovaram a tecnologia. “Vamos trazer agora os ministros das áreas de interesse para conhecerem o sistema de tratamento”.O secretário de Meio Ambiente e Agricultura de Maringá, Diniz Afonso, deixa claro que a implantação da tecnologia de tratamento de resíduos urbanos não muda a política de reciclagem. O projeto ReciclAção, lançado há dois anos, faz parte dos compromissos do município com o Ministério Público do Meio Ambiente, e neste período praticamente triplicou o volume de recicláveis recolhidos para as cooperativas.São cerca de 160 toneladas de materiais coletados por quase toda cidade e distribuídos pelas cinco cooperativas, que juntas geram emprego e renda para mais de 150 pessoas. Volume superior, segundo o secretário, é coletado por autônomos. A Secretaria de Meio Ambiente tem ainda um programa de educação ambiental nos bairros, em conjunto com alunos do curso de técnico em meio ambiente do Colégio JK, levando a importância da reciclagem aos moradores de todo município.Serviço: A Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos de Maringá entra oficialmente em operação nesta sexta-feira, 11 de abril, com solenidade programada para as 9 horas, no aterro controlado, na Estrada São José, Contorno Sul.