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Chocolate pode fazer bem, mas é bom moderar

Em época de Páscoa, nunca é demais alertar, embora algumas pesquisas recentes tenham alçado o chocolate à condição de mocinho para a saúde, o consumo excessivo pode provocar sérios danos ao coração.

Isso porque, apesar de estudos a partir de 2004 terem revelado que a versão amarga do chocolate é rica em substâncias que ajudam a baixar o nível de colesterol ruim e a pressão arterial, ainda não se sabe quais os efeitos a longo prazo e, principalmente, das demais propriedades do doce sobre o organismo.

"Aprendemos que a Medicina é a ciência das verdades temporárias", diz o cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini, Miguel Morita Fernandes da Silva.

"Por isso, temos de entender que não é porque temos uma propriedade benéfica no chocolate que seu consumo deliberado deixou de representar um vilão para o coração", afirma.

O médico explica que o chocolate, principalmente o amargo, é rico em flavonóides, substância antioxidante que ajuda a reduzir os níveis do chamado colesterol ruim (LDL).

Porém, ao mesmo tempo, contém gorduras saturadas, açúcares e, em alguns casos, a famigerada gordura trans.

"A longo prazo, estas substâncias, se consumidas em excesso, podem provocar aumento da cintura abdominal, do colesterol ruim (LDL) e da chance de desenvolver diabetes – todos relacionados ao maior risco de doenças cardiovasculares", diz Miguel.

Não existe uma quantidade certa que pode ser prescrita como ideal para o consumo diário de chocolate.

Vale sempre conferir a tabela nutricional de cada barra e optar pelos menores níveis de gordura saturada.

E dispensar qualquer índice de gordura trans.

"Para se ter uma idéia, o ideal é que a ingestão diária de gordura saturada esteja na margem de 7% a 10% do valor calórico total", ensina Miguel.

Portanto, para uma pessoa com dieta de 2.200 kcal por dia, o ideal é manter o limite de consumo diário em 17 gramas de gordura saturada.

Traduzindo – a orientação é que o bom senso permita apenas o consumo de uma ou duas barras pequenas de chocolate amargo por semana.

Entre as versões do chocolate, a mais indicada para consumo é a amarga.

"A versão ao leite contém menos flavonóides. Além disso, o leite inibe a absorção dessas substâncias", detalha o cardiologista.

"Há também outras fontes de flavonóides, como a maçã e o vinho tinto, por exemplo", completa.

Os flavonóides do chocolate só começaram mesmo a ser estudados em 1999. Cinco anos depois, um estudo publicado pelo British Medical Journal demonstrou que dietas específicas com base em vinho tinto, peixe, chocolate amargo, frutas, vegetais e alho reduziam eventos cardiovasculares. Mas não o chocolate sozinho.

"Por isso, embora o chocolate tenha subido alguns degraus na escala de alimentos saudáveis, ainda há muito o que desvendar sobre os reais efeitos desse alimento sobre a saúde humana", conclui Miguel.