Espetáculo “Não me chame de mãe”, que aborda a culpabilização materna, estreia em Maringá
Monólogo de Carolina Damião terá seis apresentações gratuitas no Teatro Barracão. Saiba mais.
“Não me chame de mãe”, monólogo de Carolina Damião com direção cênica e artística de Luciana Navarro, estreia dia 14 de maio no Teatro Barracão e realiza outras cinco apresentações gratuitas em Maringá, nos dias 15 de maio, e em junho nos dias 6, 7, 13 e 14. O projeto, que é viabilizado por meio do Prêmio Aniceto Matti, também inclui três oficinas teatrais e uma publicação digital, o Manual de Sobrevivência na Maternidade, informativo bem humorado que se propõe a ser um material de acolhimento e apoio para mães e pessoas que desejam ter filhos.
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O espetáculo teatral foi concebido a partir da vivência da maternidade solo que atravessou a trajetória de vida das duas artistas. A dramaturgia, assinada por Damião e Navarro, apresenta a história de Elisa, uma mãe solo que, em determinado dia, é surpreendida pelo fato de o genitor de sua filha cumprir, pela primeira vez, o horário estabelecido de convivência com a criança. Ela, então, consegue uma hora livre em seu dia e se vê diante da oportunidade de escolher e realizar todas as tarefas que ficaram pendentes nos últimos anos, inclusive relaxar.
A escolha do que fazer, porém, é atravessada pela culpa, pelo cansaço e pelas tarefas por fazer. Integrando as linguagens da comédia, da poesia e das artes visuais, a peça aborda questões como a rotina materna, a invisibilidade das tarefas diárias de cuidado, as sobrecargas e as tentativas de reinserção a contextos sociais e profissionais de uma mãe.
A obra vem ao encontro do trabalho da atriz, escritora, produtora e criadora de conteúdo Carolina Damião, que desde 2021 atua no instagram @carolina_damiao_, já com mais de 56 mil seguidores, para falar de forma bem humorada sobre a desromantização da maternidade buscando caminhos para que as mães possam desfrutar de uma vida para além da maternidade. O objetivo é ampliar os debates sobre o tema e questionar a culpabilização materna, a invisibilidade das tarefas de cuidado e o descomprometimento da sociedade em geral para com a criação, o bem estar e a garantia dos direitos das crianças.
As pesquisas feitas por Carolina e Luciana para o projeto indicam que, enquanto a mãe ideal está sempre presente na poesia, na ficção e nos filmes, a mãe real encontra pouca ou nenhuma representatividade, tanto nas obras de arte quanto em outras esferas, o que dificulta a identificação das mães com a própria realidade em que estão inseridas. Isso permite que o ideal materno, no qual o padecimento da mãe é tido como caminho para o alcance do paraíso e a sobrecarga materna é aplaudida como ato de amor, continue a se propagar.
Assim, a culpabilização materna prossegue como instrumento de controle, impedindo que as mães sequer se sintam dignas de descansar. Por isso, em “Não me chame de mãe” a escolha da personagem por descansar na hora que lhe resta, antes do filho retornar da convivência com o genitor, é tão complexa.
Ao escolher ter um momento para si, Elisa (a personagem) torna evidente a quantidade de tarefas que deixarão de ser realizadas e os impactos que a não realização delas gerará nos cuidados com a criança e no acúmulo de tarefas que lhe será resultante. Valerá, então, a pena, Elisa descansar por esta uma hora? E como descansar estando tão acostumada à exaustão? Ela conseguirá não ser uma mãe que dá conta de tudo? Como lidará com a culpa, já que a fizeram pensar que se ela olhasse um pouco para si ela estaria abandonando, também, sua filha, que já foi abandonada pelo próprio pai?
Todas as apresentações serão seguidas de rodas de conversa e a artista irá ministrar oficinas com o tema “Teatro como Ferramenta de Comunicação para a Liberdade”, para as quais é necessário inscrição prévia (são apenas 20 vagas para cada turma). Mais informações em @naomechamedemae.