HISTÓRIA

Maria Glória Poltronieri: quem foi a bailarina que dá nome ao Teatro Reviver Magó

Conheça a história da artista maringaense, para além do caso de feminicídio.

Maria Glória Poltronieri: quem foi a bailarina que dá nome ao Teatro Reviver Magó
Por meio de uma lei de autoria do vereador Onivaldo Barris, Maria Glória foi homenageada e leva o apelido no Teatro Reviver Magó. - Foto: Divulgação

Maria Glória Poltronieri, conhecida carinhosamente como Magó, foi uma importante artista que marcou Maringá de forma positiva através dos seus projetos de dança. No entanto, além dos feitos artísticos, seu nome também ficou marcado na história da cidade devido a uma tragédia: vítima de feminicídio, a bailarina de 25 anos foi encontrada morta em uma chácara em Mandaguari, onde tinha ido acampar, em janeiro de 2020.

De acordo com o exames do Instituto Médico-Legal (IML), a jovem sofreu violência sexual e foi asfixiada. O crime de feminicídio causou comoção na região e, desde então, sua família não descansou em busca de justiça. Atualmente, o acusado aguarda julgamento na prisão.

Maria Glória em projeto para a CIA DUO DUE, no antigo Aeroporto de Maringá. Foto: mariagloria.com.br

Como uma forma de manter viva a lembrança de quem Magó era e estabelecer o repúdio contra o feminicídio, diversas homenagens foram prestadas à professora e artista que, agora, dá nome ao antigo Teatro Reviver, localizado na Praça de Todos os Santos, onde também foram inauguradas duas obras de arte em sua memória.

Quem foi Maria Glória Poltronieri

A jornada de Maria Glória como bailarina começou cedo, quando ela aprendeu a dançar na Academia Daisa Poltronieri, fundada por sua mãe. Lá ela se apaixonou por essa forma de arte e tal paixão a levou a se aprofundar em diversos estilos, como Ballet Clássico, Dança Contemporânea, Acrodança e Educação Somática.

Espetáculo “Ballet The Fairy Doll” da Academia Daisa Poltronieri no Teatro Calil Haddad. Foto: mariagloria.com.br
Espetáculo da Academia Daisa Poltronieri, em 2013, no Teatro Calil Haddad. Foto: mariagloria.com.br

Aos 15 anos, Magó se mudou para São Paulo, onde recebeu treinamento técnico da Royal Academy of Dance, com professores londrinos certificados. Seus estudos incluíram Ballet Clássico e Dança Contemporânea, com renomados professores como Ricardo Scheir, Neide Rossi e Eduardo Menezes.

Nos anos seguintes, se juntou à CIA Carne Agonizante, dirigida por Sandro Borelli, e ao NIC - Núcleo Improvisação em Contato, sob a direção de Ricardo Neves. Nessas companhias, ela teve a oportunidade de trabalhar com figuras de destaque no mundo da Dança Contemporânea, Educação Somática e Contato Improvisação.

Em 2017, já em Maringá, fundou a CIA DUO DUE de dança contemporânea, ao lado de sua parceira e irmã, Ana Clara Poltronieri Borges. Juntas, elas criaram e apresentaram espetáculos como "Onomatopéias Silenciosas," "Fragile" e "Noite Oceânica, Geral Sentiu."

Magó e sua irmã, Ana Clara Poltronieri. Foto: mariagloria.com.br

“Magó é indefinível porque ela sempre foi muitas coisas. Posso começar com verdadeira. Ela colocava verdade e coragem em tudo o que fazia. A verdade e a clareza guiavam todas as suas ações. Com coragem ela ia tecendo a vida, tropeçando, caindo, mas levantando com coragem sempre. Única. Um ser único. Tinha um sorriso doce, que quebrava qualquer coração congelado e fazia crescer uma semente de esperança onde nunca se tinha ouvido falar de esperança antes”, declara Ana Clara Poltronieri sobre a irmã.

CIA DUO DUE durante espetáculo “Fragile”. Foto: mariagloria.com.br

Magó também idealizou e concretizou o "PROJECT.ATO a DANÇA COMO ATO" em Maringá. Esse projeto trouxe profissionais de todo o Brasil para ministrar oficinas de diversos tipos de dança e apresentar espetáculos gratuitamente. O projeto foi possível graças ao Prêmio Aniceto Matti, da Secretaria de Cultura de Maringá, em 2019.

Além de sua paixão pela dança, também era integrante da Associação Cultural Capoeira Angola Paraguassú e do Grupo Sambaiá de samba, onde estudava música, percussão e as culturas populares brasileiras.

Homenagens e protestos

Em homenagem à Maria Glória Poltronieri, foram criadas várias iniciativas e obras de arte. A praça Todos os Santos e o Teatro Reviver Magó, localizados em Maringá, são exemplos de locais dedicados à sua lembrança com duas obras. A primeira delas é a escultura "Madeixas de Magó" do artista Paolo Ridolfi, que retrata seu cabelo e sua dança.

Madeixas de Magó, por Paolo Ridolfi. Foto: Divulgação/PMM

Outra intervenção instalada na Praça de Todos os Santos é "Magó, o feminino é sagrado", uma homenagem e manifestação contra a violência às mulheres. Essa obra de arte, composta por cerâmica, mosaico e plantas, visa valorizar o sagrado feminino ancestral e foi desenvolvida com o apoio das artistas Isabel C. Bogoni, Aurilene A. da Cruz e Sheilla Souza. Em torno das peças em cerâmica, os artistas do coletivo Rosa dos Ventos: Denilson Marinho de Oliveira e Daniel Zeidan Marinho de Oliveira criaram composições em mosaico.

Magó, o feminino é sagrado. Foto: Divulgação

A violência contra Magó teve visibilidade nacional e, além de Maringá e São paulo, duas cidades onde a artista trabalhava ativamente, outras manifestações também ocorreram no Rio de Janeiro (RJ), Itaparica (BA), Campo Mourão (PR), Ponta Grossa (PR), Florianópolis (SC), Londrina (PR), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (BH), Rio Branco (AC) e Gamboa (SC), assim como em cidades de países como Chile, Itália e Argentina.

Manifestação #MagóPresente, em São Paulo. Foto: mariagloria.com.br
Reunião #MagóPresente no Dia Internacional das Mulheres. Foto: mariagloria.com.br
Manifestação #MagóPresente, em Curitiba. Foto: mariagloria.com.br

Em Curitiba, na câmara dos vereadores, a vereadora Maria Letícia, ativista pelos direitos da mulher, criou uma lei para nomear um Jardinete no Bairro da Fazendinha com o nome de Maria Glória Poltronieri Borges. Em Mandaguari, a Prefeitura instituiu o dia 25 de janeiro como Dia Municipal na Luta Contra o Feminicídio.

Jardinete Maria Glória Poltronieri, em Curitiba. Foto: Angelo Rigon
Maringa.Com
Por Gabrielle Nascimento