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O que dizem os especialistas sobre o título de "mãe de pet"

Médica-veterinária e socióloga opinam sobre os limites nas relações entre humanos e animais.

O que dizem os especialistas sobre o título de "mãe de pet"
Amor e companheirismo desenvolvidos pelos animais de estimação podem tornar a relação tutor-animal em uma família multiespécie. - Foto: Reprodução/Petlove

Anualmente, quando chega a época do Dia das Mães, é comum que surja o debate se mãe de pet também é mãe. Para alguns, a relação materna só é possível com humanos, mas, para outros, o amor, cuidado e companheirismo desenvolvidos pelos animais de estimação são tão válidos quanto os sentimentos que se tem por filhos. Mas, afinal, o que dizem os especialistas sobre o assunto?

No Brasil, cada vez mais casais optam por não ter filhos e sim adotar animais. A taxa de fertilidade passou de seis filhos por mulher na década de 60 para 1,7 por mulher em 2019, conforme dados do Banco Mundial. A entrada da mulher no mercado de trabalho e o desenvolvimento de pílulas e outros métodos anticoncepcionais são algumas das justificativas desse decréscimo no decorrer das décadas.

Conforme levantamento de 2021 da Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), a Radar Pet, 21% das casas que possuem cachorros são de casais sem filhos. 9% moram sozinhos e 65% possuem filhos. Já no cenário de quem tem gatos, 25% são casais sem filhos, 17% moram sozinhos e 55% possuem filhos.

Ainda neste levantamento, 31% dos participantes se consideram pais dos cães e 27% pais dos gatos. Já o percentual daqueles que os consideram apenas animais de estimação está em 7% para tutores de cachorro e 13% para tutores de gatos.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Animal Waltham Pet Care Science, ter a companhia de animais pode trazer benefícios como melhorar a saúde do coração, ajudar a lidar com estresse e solidão, criar responsabilidades e principalmente aumentar a produção de ocitocina, o hormônio do amor.

"Cães e gatos criam vínculos, demonstram afeto, protegem, cuidam e, por isso, foram ocupando espaço nas famílias. Para alguns, são filhos, como se fossem da mesma espécie; para outros, são pets, não ocupam lugar de filhos, mas sempre têm um lugar especial dentro das famílias”, explica a médica-veterinária Débora Ayres Silva.

No entanto, a ligação entre animal e humano, mesmo que amorosa e fraterna, deve ter limites e sempre respeitar a natureza dos pets. A veterinária destaca que é fundamental que as chamadas “famílias multiespécie” não humanizem os animais de estimação.

“A humanização não deve estar diretamente relacionada ao animal, mas sim à relação e sobre como entender pela ótica humana o que o animal sente, o que ele precisa e como interagir no dia a dia. Assim, elevamos os padrões de cuidado com o animal, sem desrespeitar sua natureza”, destaca Débora.

A socióloga Kênia Gaedtke, especialista em "antropormofização" dos animais de estimação (transformações deles em direção a algo mais próximo dos humanos) destaca que as “mães de pet” fazem parte de um processo de se repensar os conceitos da maternidade, que pode chegar até às “mães de planta”. No entanto, também destaca que é necessário considerar as relações com os animais de forma crítica.

“Existem alguns conceitos como 'pelucização' dos animais de estimação (como se fossem animais de pelúcia), ou 'petichisimo' (tradução de conceito de Jean-Pierre Digard) — um fetiche com o pet como um bichinho completamente controlado: seus cheiros, instintos, vida sexual reprodutiva. Estas tendências caminham de mãos dadas com o consumo, em que o mercado pet é muito promissor”, explicou Gaedtke em entrevista à BBC Brasil.

Grande dependência emocional e o excesso de cuidado impedindo que o animal viva como um animal são algumas das consequências negativas para aqueles que humanizam demais os bichinhos de estimação.

Débora destaca que a existência de mães de pet não anula a existência das mães de pessoas e, por isso, não importa se as mulheres se consideram mães ou simplesmente tutoras, o importante é oferecer aquilo que o animal necessita, somado a afeto, carinho e respeito. “Essas ‘mães’ fazem tudo o que for necessário para garantir saúde e bem-estar, assim como uma mãe faria a seu filho humano e, por isso, nessa data, todas merecem receber todo amor do mundo”, finaliza.

Apenas em 2020, segundo o Instituto Pet Brasil, o mercado pet teve faturamento de R$ 40,8 bilhões no país. Isso inclui atividade de pet shops, clínicas e hospitais veterinários, entre outros.

Maringa.Com, com informações da BBC Brasil e Cães e Gatos.
Por Gabrielle Nascimento