Com aumento da gasolina, uso de apps de transporte tem sido afetado em Maringá
Demora para encontrar carros disponíveis e alto índice de cancelamento são algumas das inconveniências enfrentadas; motoristas enfrentam prejuízos devido a alta do combustível
O aumento da gasolina tem desagradado o bolso dos brasileiros. Em Maringá, um cidadão protestou de forma inusitada: utilizando um carro no estilo Flintstones, com “tração humana”. Andar com carro movido a combustível tem sido cada vez mais caro e, para quem trabalha com transporte, o peso no bolso é ainda maior.
Em Maringá, apps de transporte como 99 e Uber têm deixado a população na mão e o motivo também é a alta na gasolina, que está custando cerca de R$ 6,79 na cidade. Com o preço, as viagens acabam se tornando inviáveis e podem causar prejuízos aos motoristas — que têm desistido de trabalhar com transporte.
A dificuldade no trabalho com transporte faz parte da realidade de Marcos Neves, que trabalha com os aplicativos Uber e 99 há três anos. O jovem de 28 anos afirma que nunca cancelou tantas viagens quanto atualmente. “Hoje em dia, eu preciso analisar se compensa aceitar ou não uma viagem. Dependendo da distância e valor cobrado, o que antes valia a pena, hoje pode acabar me dando prejuízo. Antes eu fazia cerca de 20 a 30 viagens por dia, atualmente tenho feito no máximo 10”.
Com as desvantagens em trabalhar com transporte, muitos motoristas têm abandonado os apps. Embora as empresas não divulguem quantos de seus motoristas deixaram a plataforma, a Associação Brasileira de Locação de Automóveis (Abla), que representa metade da frota de veículos de aluguel no país, diz que “uma a cada quatro pessoas que alugam carro para trabalhar como motorista de aplicativo abandonou a atividade”. Um dos motivos para isso, segundo a entidade, foi o reajuste de cerca de 30% no preço da locação.
“Ainda restam 170 mil veículos alugados a esses motoristas, mas esse número poderia ser de 250 mil, se o litro do combustível voltasse a ficar entre R$ 4 e R$ 5”, diz Paulo Miguel Júnior, presidente da Abla.
Essa “debandada” de motoristas nos aplicativos afeta diretamente os usuários, que demoram para ter suas viagens aceitas devido a grande quantidade de cancelamentos. Guilherme Lima, que sempre utilizou os apps para se locomover, afirma que ultimamente é mais viável andar de ônibus.
“Até pouco tempo atrás eu utilizava Uber e 99 para ir a qualquer lugar. Era sempre muito rápido e barato. Agora eu passo por uns três ou quatro motoristas até um finalmente aceitar a viagem, além da demora, os preços também estão altos. Para o trabalho, sempre paguei algo em torno de 12 ou 13 reais, agora chega até a 25 reais o mesmo trajeto”, relata Guilherme.
Além da recusa de vários motoristas, aumentando o tempo de espera dos usuários, muitos parceiros dos apps de transporte aceitam a corrida e, após o tempo limite, acabam obrigando o cancelamento, o que resulta em uma taxa de cobrança.
Diante deste cenário, muitos clientes notificaram órgãos como o Procon. No Rio de Janeiro, por exemplo, as reclamações foram tantas que resultaram em uma ação contra as empresas, exigindo esclarecimentos sobre as constantes notificações.
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Com Guilherme, algo semelhante já aconteceu. Enquanto aguardava um Uber às 2 horas da manhã de um sábado por mais de 15 minutos, um motorista finalmente aceitou a viagem. Há aproximadamente 8 minutos do local de embarque, pelo aplicativo, era possível notar que o motorista estava parado com o intuito de fazer o usuário cancelar a viagem. Após 10 minutos de espera, Guilherme cancelou o pedido e teve que pagar uma taxa de R$ 5.
“Além de perder quase uma hora tentando voltar pra casa, ainda tive que pagar uma multa por sacanagem do motorista. Ainda bem que o aplicativo oferece a opção de reportar algum problema. Reportei contando o que aconteceu e felizmente fui ressarcido”, conta o jovem.
O motorista Marcos diz que, muitas vezes, recebe mensagens de usuários pedindo para que a viagem não seja cancelada. “A grande maioria dos passageiros que aceito a viagem já mandam mensagem pelo aplicativo pedindo pelo amor de Deus pra não cancelar, que estão atrasados ou que muitos motoristas já cancelaram”.
Sobre as expectativas para os próximos meses, Marcos afirma que vai manter a atividade enquanto der, mas que o cenário tem sido cada vez mais desanimador. “Eu não julgo os colegas que cancelam, não tá fácil pra ninguém e tudo que a gente mais queria era estar trabalhando e ganhando nosso dinheiro. Infelizmente com o litro da gasolina a preço de ouro, esse tipo de prestação de serviço pode ficar cada vez mais difícil de se manter”, finaliza.
REGISTRO DE MOTORISTAS — Nesta segunda-feira (8), o Ministério Público do Trabalho em São Paulo abriu quatro ações civis contra empresas de aplicativos como Uber, 99, Rappi e Lalamove exigindo o vínculo empregatício com os motoristas de todo o país.
De acordo com o MPT, o registro deve ser realizado imediatamente, sob pena de multa de R$ 10 mil por trabalhador em situação irregular. As informações são do portal Brasil de Fato.
Além da precarização e do impacto sobre a renda das famílias dos motoristas e entregadores, os procuradores ressaltam que o país deixa de arrecadar impostos por conta da manobra adotada pelas empresas – que se referem aos trabalhadores como “parceiros”.
De acordo com a promotora Tatiana Simonetti, os números mostraram que, dos 10 mil motoristas que trabalhavam pela plataforma 99 entre 2018 e 2019, 99% trabalharam ao menos 4 dias por semana. "A tese de que não há continuidade ou permanência [do trabalho dos motoristas] cai por terra", afirmou Simonetti ao UOL Notícias.
Conforme a Consolidação das Leis do Trabalho no Brasil (CLT), “considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”, realidade de muitos motoristas que dependem dos apps para renda.