Brasileiros com menor renda consomem mais arroz e feijão e menos industrializados
Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares, divulgada na última sexta-feira (21) pelo IBGE.
Arroz, feijão, pão francês, farinha de mandioca, milho e peixes frescos estão mais presentes na mesa das pessoas com renda mais baixa do que na daqueles com renda mais alta. Já a maioria das frutas e produtos industrializados teve maior frequência nas classes de rendimento maior. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, divulgada na última sexta-feira (21) pelo IBGE.
O gerente da pesquisa, André Martins, explica que embora haja diferença na frequência de consumo de arroz e feijão entre as pessoas de classes de rendimento diferentes, esses produtos ainda são bastante presentes na dieta dos brasileiros em geral. Mas na classe de rendimento mais baixa a quantidade consumida é maior. “Já os produtos industrializados, que têm valor de mercado maior, são mais encontrados nas famílias de rendimento per capita mais alto”, afirma.
A POF considera como frequência de consumo o percentual da população com 10 anos ou mais de idade que afirmou ter consumido um determinado alimento nas 24 horas que antecedem a entrevista. Já o consumo médio per capita mede a quantidade de um alimento, em gramas, consumida por uma pessoa por dia.
Além de produtos como doces, pizzas, salgados fritos e assados e sanduíches serem mais frequentes na classe de rendimento mais alta, a quantidade consumida também é maior entre eles. Um exemplo é a pizza, alimento referido por 4,6% dos moradores dos domicílios com maior rendimento, no período pesquisado. Nos domicílios de renda mais baixa esse número era de 1%. Em relação à quantidade, os moradores com 10 anos ou mais de idade, das famílias do primeiro quarto de rendimento (renda mais baixa) consomem, em média, 1,8 gramas de pizza por dia, enquanto aqueles do último quarto (renda mais alta) consomem 12,5 gramas.
“Isso acontece porque as pessoas de maior rendimento têm condições de comprar alimentos mais variados. A renda permite que essas pessoas façam opções por esses alimentos, que embora não tenha uma qualidade nutricional muito desejada, custam mais caro”, afirma André. A pesquisa também aponta a diminuição na frequência de consumo de arroz e feijão pela população nos últimos dez anos. Nesse período, houve uma redução no consumo de arroz e feijão e aumento das preparações à base desses alimentos. O consumo de feijão variou de 72,8%, em 2008-2009, para 60%, em 2017-2018.
De acordo com André Martins, embora o consumo desses alimentos venha diminuindo, eles ainda são bastante presentes na mesa do brasileiro. “A gente observa que a alimentação ainda é muito baseada na culinária tradicional brasileira, com a presença de arroz, feijão e carne. Isso é muito bom, levando-se em consideração que quase 70% da nossa energia diária média vêm dos alimentos in natura ou minimamente processados. Mas ainda consumimos uma quantidade de legumes, frutas e verduras abaixo do recomendado”, analisa.
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ADOLESCENTES – A frequência do consumo de frutas, verduras e legumes foi menor entre os adolescentes que entre adultos e idosos. As únicas exceções foram açaí e batata inglesa. Além disso, o consumo de ultraprocessados, como salgadinhos chips, salsicha e refrigerantes, foi maior entre os mais jovens. O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, desaconselha o consumo desse tipo de alimentos. De acordo com o guia, eles são nutricionalmente desbalanceados e tendem a ser consumidos em excesso.
Outra diferença nos hábitos alimentares entre os grupos de idade foi indicada pela POF: idosos consomem com mais frequência leite, café, chá e sopas e caldos que adolescentes e adultos. A salada crua está mais presente na alimentação de adultos (22,3%) e idosos (21,1%) que na de adolescentes (14,7%).
“As pessoas de 60 anos ou mais têm um consumo maior de frutas do que os adolescentes. E esse grupo etário também tem uma maior participação na energia consumida vinda de produtos in natura e minimamente processados. Já nos adolescentes, essa participação é menor”, explica André. Isso acontece, de acordo com o pesquisador, pelas escolhas alimentares feitas por adolescentes e idosos ao longo do dia.
“Isso se mantém desde a última POF. Os adolescentes consomem menos frutas, legumes e verduras e tem alto consumo de pizza, salgados e outros itens ultraprocessados. Esse é um tipo de alimentação que favorece o aparecimento de obesidade e outras doenças crônicas”, ressalta a médica e consultora da pesquisa, Rosely Sichieri.
VERDURAS, LEGUMES E FRUTAS – Em relação à divisão por sexo, a frequência de consumo de todas as verduras, legumes e frutas foi maior entre as mulheres que entre os homens. A única exceção foi a batata inglesa. As mulheres também apresentaram maior frequência de consumo para biscoitos, bolos, doces, leites e derivados, assim como café e chá.
Além disso, as mulheres também consomem uma maior quantidade da maioria de verduras e frutas, enquanto os homens consomem uma maior quantidade de quase todos os demais alimentos. Já a média diária per capita de consumo de cerveja entre os homens foi mais que o triplo da média feminina (54,5 g/dia contra 16,4 g/dia).