CULTURA

Filme "A Religiosa Portuguesa" é atração do Convite ao Cinema neste sábado( 17)

Filme "A Religiosa Portuguesa" é atração do Convite ao Cinema neste sábado( 17)
Exibição será no Auditório Hélio Moreira, às 20 horas
O Auditório Hélio Moreira exibe o filme "A Religiosa Portuguesa". Julie de Hauranne, uma jovem atriz francesa chega pela primeira vez a Lisboa, onde vai rodar um filme baseado nas Cartas Portuguesas, escrito pelo francês Guilleragues no século XVII.

Entrada é gratuita e classificação: 16 anos.

Com uma curta carreira, iniciada em 1999 com "Todas as Noites" (exibido em julho pelo Convite ao Cinema), mas já uma enorme admiração por parte da crítica e dos cinéfilos antenados com o que há de melhor na cinematografia mundial. Eugène Green, americano que adotou a França como pátria, é um artista da palavra, com uma fixação quase doentia pelo barroco. E assim sendo, não poderia deixar de ir a Portugal, um dos berços do barroco. Foi lá que realizou "A Religiosa Portuguesa", baseado em Gabriel de Guillerages, considerado até agora o seu grande filme. O resultado, antes de qualquer coisa, é de uma delicadeza quase petulante, elevada a uma potência poética insuspeita. E quanto mais insuspeita, mais irritável – penso ser assim as obras inteligentes que nos confrontam, que nos colocam diante da nossa palermice. No filme, Julie (a portuguesa Leonor Baldaque – de leveza angelical) é uma atriz francesa, de ascendência portuguesa, que se encontra pela primeira vez em Lisboa para as filmagens de "Cartas Portuguesas". Nos intervalos das filmagens (quando personagem se confunde com a atriz, e vice versa), Julie perambula pela cidade, conhece pessoas, indaga sobre um certo sentido da existência e, inadvertidamente, de forma inesperada e irremediavelmente religiosa (numa esfera poética), acaba se deparando com a possibilidade de transcendência. Green, como é de costume, faz seus atores falarem diretamente para a câmera, confrontando-nos. Isso, ao mesmo tempo em que pode nos incomodar, também pode fazer com que possamos assumir (de forma muito terna) uma cumplicidade com os personagens. É uma das belezas do cinema de Green: colocar-nos frente a frente com os dilemas de seus personagens. E eles, pra que saibam todos, são de uma delicadeza assustadora, quase que a nos dizer que nosso mundinho banal e ordinário pode, e deve, ser transmutado em direção a um elevado senso de humanidade e destreza verbal. A palavra, aqui, assume dimensões tão belas como se estivéssemos a ler um livro, desses que já não se escrevem mais. "A Religiosa Portuguesa" é um filme, no mais, apenas para quem esteja aberto á novas e inteligentes experiências de cinema. Elegantes e, acima de tudo, profundamente humanistas. É um filme contra as facilidades dedicadas aos imbecis. E desses, o mundo está repleto. Lamentavelmente. (Paulo Campagnolo – Curador e Coordenador do Convite ao Cinema)