Um estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Estadual de Maringá, procurou traçar o perfil da saúde do homem maringaense. O trabalho resultou na dissertação de mestrado defendida por Guilherme Oliveira de Arruda, que entrevistou 421 indivíduos com idade entre 20 e 59 anos, residentes em diferentes áreas do município. O foco era analisar o comportamento dessa população em relação aos cuidados com a saúde, bem como às necessidades e a utilização dos serviços de saúde.Arruda, que atualmente faz o curso de doutorado em Enfermagem, diz que o levantamento revelou que 30,4% dos entrevistados faziam uso abusivo de álcool e 19,5% eram tabagistas. Com relação à prática de atividades físicas, 86,2% declaram-se sedentários ou praticantes pouco regulares. Sobre a alimentação, 39,2% referiram manter uma dieta inadequada.O percentual dos homens que não realizavam exames preventivos também foi considerado alto pelo pesquisador (42,3%), assim como o de entrevistados que revelaram ingerir medicamentos por conta própria (44,7%). Outro dado do estudo é que 36,3% disseram que lazer não faz parte da própria rotina.Arruda afirma que as características sociodemográficas e econômicas, como faixa etária, escolaridade, situação conjugal, filhos, religião, trabalho, status ocupacional, plano de saúde, renda familiar e classe social, podem estar associadas a maior ou menor frequência dos comportamentos prejudiciais investigados.No que tange à utilização dos serviços de saúde, 42,8% dos entrevistados disseram ter utilizado algum serviço de saúde nos três meses anteriores à data da entrevista. A utilização foi maior entre homens desempregados, entre aqueles que frequentemente usam os serviços privados e entre os que foram hospitalizados nos últimos 12 meses ou disseram apresentar algum problema de saúde.
Serviços públicos - Em relação à utilização dos serviços públicos de saúde, 56,3% dos homens entrevistados disseram utilizar com mais frequência essa modalidade. Fatores como baixa escolaridade, ausência de plano de saúde, não ter companheira e estar desempregado mostraram-se associados à maior utilização de serviços públicos. Homens que procuraram os serviços por alguma doença, que referiram dificuldade no atendimento, que classificaram o serviço de saúde que mais utilizam como regular e que consideravam a atenção e prontidão como os aspectos mais importantes no atendimento à saúde, também foram os que mais utilizaram os serviços públicos. Destaca-se que maior contato com enfermeiros e outros profissionais só foram referidos por aqueles que utilizam os serviços públicos da atenção primária à saúde.Outro dado interessante é que entre os participantes do estudo, 23% perceberam a própria saúde como ruim ou regular em comparação a homens da mesma idade e 42,8% alegaram possuir algum problema de saúde, principalmente, hipertensão arterial, diabetes mellitus e problemas osteomusculares. “Características como a faixa etária, a cor da pele, a escolaridade e o status ocupacional mostraram-se associados à morbidade referida ou a autopercepção de saúde”, diz o pesquisador.Em entrevista de natureza qualitativa, com dez participantes do estudo transversal, foi possível identificar que as necessidades de saúde expressas foram: boa alimentação, prática de atividade física, realização de exames periódicos, exercício da religiosidade/espiritualidade, estar empregado e manter boas relações interpessoais.“A situação econômica, local de residência e o acesso a serviços de saúde constituem-se tanto em necessidades quanto em aspectos que diferenciam percepções e a busca de atendimento das necessidades de saúde. Os homens procuram hospitais para atenderem suas necessidades de natureza clínica, porém, também consideram possibilidades como a farmácia e a automedicação. A atenção às necessidades masculinas de saúde envolve articulação política intersetorial e postura respeitosa de profissionais de saúde”, resume Arruda.
Trabalho relevante - O trabalho foi orientado pela professora Sonia Silva Marcon, que destaca a importância de pesquisas desse porte para os gestores municipais. “Considerando que as ações em saúde são efetivamente elaboradas e desenvolvidas no âmbito dos municípios, salienta-se que o conhecimento do perfil comportamental em saúde, das necessidades e da utilização de serviços de saúde pelos homens adultos se faz premente na instância municipal”, reforça a professora.Sonia Marcon entende que compreender as necessidades de saúde sob a perspectiva de homens adultos pode ampliar o olhar de profissionais sobre a saúde da população masculina. E frente aos resultados desta pesquisa, considera-se relevante conhecer não apenas o perfil da saúde masculina no município, mas também compreender as tensões sociais, culturais e políticas que influenciam a implementação das ações voltadas à essa parcela da população. “Acredito que os achados do estudo podem contribuir para um planejamento mais contextualizado por parte de gestores e profissionais de saúde, de modo a consolidar a oferta de um cuidado profissional centrado nas necessidades masculinas e não na doença ou na imagem cristalizada do homem negligente com a própria saúde”, afirma.