AÇÃO SOCIAL

Universidades abrem as portas para os idosos

Universidades abrem as portas para os idosos
Atividades físicas e oficinas na Universidade Aberta para a Terceira Idade.
Os movimentos do corpo já não respondem como antes. Os filhos seguiram seu caminho, a aposentadoria ampliou o tempo livre e reduziu o convívio com amigos. Preencher o vazio que pode surgir na vida das pessoas que chegam à terceira idade é o objetivo da Universidade Aberta para a Terceira Idade (Unati), programa desenvolvido no Paraná por várias universidades estaduais, com centenas de participantes.

Carlos Willian Wirthmann, de 78 anos, começou freqüentar a Unati de Guarapuava há 11 anos. Ele conta que estava cansado de passar a maior parte do dia sentado em frente à televisão. “Tinha que fazer algo diferente”, diz Wirthmann, que gosta particularmente das aulas de espanhol. “Eu considero as aulas como debates, porque permitem a troca de experiências”, afirma.

Outra veterana da Unati – Lodia Kucharsq Zubr, de 76 anos, aluna do programa em Irati há 12 anos – diz que não imagina a vida sem o convívio com outras pessoas e as aulas de dança e circo proporcionados pelo programa: “Em casa me sinto muito bem, mas gosto de vir aqui porque fiz muitas amizades”.

A aposentada Ruth Derg Lupes, 80 anos, começou na Unati este ano, e já percebe diferença no seu dia a dia. Antes, passava a maior parte do tempo em casa, sem disposição para fazer atividades. Hoje, não perde as aulas de ginástica e pelo menos uma vez por semana participa da aula de inclusão digital, no laboratório de informática. “Antes a gente comprava revistas ou perguntava para alguém como se preparava um prato. Agora sei acessar a internet, busco receitas e copio no meu caderno. A Unati me mostrou possibilidades que eu não conhecia”, conta.

PROPOSTA – As universidades da terceira idade existem em instituições de ensino superior em 154 instituições do País. No Paraná, o programa Universidade Aberta para a Terceira Idade (Uati/Unati) é desenvolvido na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) nos campus Irati e Santa Cruz, em Guarapuava; na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

O objetivo é dar aos idosos oportunidade de refletir sobre a sua realidade e de melhorar a qualidade de vida, por meio da interação com a comunidade acadêmica e da participação em atividades físicas e oficinas.

No campus Irati da Unicentro, as atividades são ofertadas duas vezes porsemana, às terças e quintas-feiras, divididas em duas partes: prática física e oficinas (ressignificar o cotidiano: linguagem, criação e expressão; inclusão digital; artes circenses; violão; artesanato; música; dança; biblioteca viva; espanhol).

A coordenadora da Uati Irati, Maria Angélica Binotto, conta que o programa começou em 1998 e que 15 acadêmicos da Unicentro – de cursos como Educação Física, Administração, Fonoaudiologia, Psicologia e Letras – auxiliam nas oficinas. É o caso de Talita Baldin, 19 anos, aluna do 3º ano de Psicologia, que atua no projeto desde o início do curso. “É importante para mim tanto por fazer uma ligação entre a teoria com a prática como pelo contato com os idosos. A gente percebe como é importante dar atenção e os resultados das atividades”, afirma.

A média de idade dos 30 alunos é de 65 anos. A instituição oferece um ônibus para transportá-los do centro de Irati até o campus. São realizados também eventos de interação com grupos de idosos de municípios da região, como festa junina, dia do idoso e olimpíadas de integração da terceira idade.

“Percebemos ganhos no sentido de melhorar a interação com pessoas, no humor, saúde física e psíquica. E também na relação entre as gerações”, disse Maria Angélica.

A Unati Guarapuava desenvolve atividades durante toda a semana com 100 idosos, desde o ano 2000. De segunda a sexta-feira, o campus Santa Cruz oferece aulas de hidroginástica; canto; dança; jogos de quadra e mesa; espanhol; tai-chi; histórias e outras linguagens: rejuvenescendo a mente; informática; dançaterapia. Também são organizados eventos paralelos em datas comemorativas.

A coordenadora da Universidade Aberta para a Terceira Idade de Guarapuava, Maria Regina da Silva Vargas, explica que o programa nasceu com a proposta de duração de dois anos, mas a maioria dos alunos permaneceu na universidade. “Com os números da população idosa em crescimento, temos que despertar nas universidades, que são as disseminadoras do conhecimento científico, e no Estado a consciência sobre a importância de políticas públicas que amenizem as dificuldades naturais decorrentes do envelhecimento”, disse.

“O que nos motivou a adotar este programa foi a questão: o que fazer com este grupo que já deu sua contribuição ativa para a sociedade e agora está em outra a fase da sua vida?”, diz Marquiana Vilas Boas Gomes, pró-reitora de Extensão e Cultura, da Unicentro. “A terceira idade agora tem papel proativo e pode dar outro tipo de retorno à sociedade, na troca de experiências com os jovens, vivenciando outros aspectos que na época em que eram mais jovens não conseguiram”, completa.

PERFIL – De acordo com Censo 2010 do IBGE, a população idosa do Paraná é de 1.170.955 pessoas. Destes, 44,3% são homens e 55,7% mulheres, A maioria (84,1%) reside em centros urbanos e 15,9% em zonas rurais.

No País, a população com 60 anos ou mais aumentou em 697 mil pessoas entre 2008 e 2009. A região Sul é, ao lado da Sudeste, a que tem a maior proporção de grupos etários de 60 anos ou mais (12,7% do total da população).
Chuniti Kawamura/AENoticia