AÇÃO SOCIAL

Moradores do Santa Felicidade e bairros vizinhos apresentam proposta de desenvolvimento para a regiã

Uma palestra para apresentar a atuação dos Conselhos Municipais foi a primeira ação realizada pelos moradores do Santa Felicidade e dos bairros vizinhos Jardim Ipanema, João de Barro, Cidade Alta e Jardim Universo, em Maringá. O resultado do trabalho realizado até o momento pela comunidade dentro da implantação das Redes de Desenvolvimento Local – uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e do Serviço Social da Indústria (Sesi) – foi apresentado na noite desta quarta-feira (24), na escola Benedita Natalia, durante o chamado pacto pelo desenvolvimento, uma das etapas da proposta. O evento reuniu cerca de 60 pessoas, entre moradores, empresários e representantes do poder público.

A primeira ação promovida pela comunidade apresentou à população os Conselhos Municipais de Saúde, Segurança, Tutelar, Idoso e de Assistência Social. A palestra foi realizada no último dia 10 deste mês e reuniu em torno de 60 participantes. Segundo a articuladora da Rede de Desenvolvimento Local em Maringá, Vanessa Souza Santos, o evento serviu para que os moradores conhecessem melhor os direitos e deveres deles enquanto cidadãos. “A apresentação dos conselhos municipais foi válida para saber de quem é a responsabilidade do que, de quem cobrar, como dar sugestões e a importância de participar ativamente dos serviços prestados a eles”, explicou Vanessa.

Outras duas ações já foram iniciadas pelos moradores: a limpeza do campo de futebol e do córrego e espaço onde passa o trópico de capricórnio no Santa Felicidade. O problema com o lixo, frequentemente jogado na região é outro problema a ser enfrentado. Pensando nisso, a comunidade pretende promover ações de conscientização ambiental. Durante a limpeza nos arredores do córrego, os moradores retiraram 20 sacos de lixo, dos mais diversos itens como cadeiras e pneus. “Acredito que foi muito bom a oportunidade que veio pra nós. A gente só tem que agradecer o trabalho que vem realizando. Meio lento, como já falamos, mas se Deus quiser vamos chegar lá e tem muita coisa para ser feita. Como o exemplo que foi citado, que a nossa cidade com mais de 300 mil habitantes se todos fizerem uma parte acho que nós conseguimos realizar muitos sonhos do pessoal. Sabendo que tudo que estamos fazendo é para nós mesmos. Para estarmos evitando e corrigindo alguma falha que tem como a jogação de lixo e entulho. Isso faz parte da nossa caminhada do dia-a-dia, conversando com os nossos vizinhos”, reforça o presidente da Associação de Moradores do Cidade Alta, José Floriano de Lira.

O diretor de Desenvolvimento Econômico de Maringá, Shudo Yasunaga, que esteve no evento representando o prefeito do município, Silvio Barros, concorda que a participação dos cidadãos na definição de prioridades facilita o trabalho do poder público. “Acho que esse trabalho que a comunidade do Santa Felicidade está fazendo em prol do seu bairro diretamente está contribuindo com o poder público. É lógico que tem coisas que o poder público também deveria estar fazendo, mas os próprios moradores do bairro, por exemplo, fazem de uma forma voluntária. Aquela limpeza que eles estão fazendo é uma limpeza no quintal das casas deles. Essa é uma conscientização de todos os maringaenses e o pessoal do Santa Felicidade está de parabéns e com certeza todos deverão ver como modelo para nos seus respectivos bairros colocarem em prática um projeto de tamanha envergadura”, destacou Yasunaga.

O pacto pelo desenvolvimento serviu também para buscar o comprometimento de mais moradores, empresários e todos os interessados em promover melhorias na região. Segundo a presidente do Rotary Club Maringá Parque do Ingá, Alika Terumi A. Nakashima, a iniciativa das Redes de Desenvolvimento no Santa Felicidade veio de encontro com a proposta da entidade, a qual já promove alguns projetos na localidade desde 2009. “Nós sentíamos que precisávamos de parceiros e a Fiep com toda a metodologia e conhecimento realizado já com esse projeto da Rede de Desenvolvimento Local foi extremamente importante para que nós possamos atender melhor a comunidade. Através do evento de hoje nós percebemos que esse projeto foi muito mais além. A conscientização e uma maior união de lideranças que já existem no bairro, mas que estavam adormecidas. Através do trabalho fantástico com essa metodologia dentro da Rede de Desenvolvimento Local, nós percebemos que somou à nossa visão inicial e hoje está crescendo para que nós possamos desenvolver e conseguir os sonhos dos moradores”, acredita a presidente do Rotary Parque do Ingá.

A próxima ação programada é a organização de uma caminhada com orientação médica e de um profissional de educação física. A cabeleireira e uma das moradoras mais engajadas e entusiasmadas com a rede desenvolvimento local, Rita de Cassia Goulart, conta que já há universidades interessadas em contribuir com esta ideia. Outra proposta que ela espera tirar do papel em breve é a formação de uma cooperativa de costureiras, visando criar uma fonte de renda extra para as mulheres do Santa Felicidade e região.

O vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM), responsável pela área de Assuntos de Desenvolvimento de Bairros, Renato Tavares, acredita que as Redes são o futuro e o canal para a solução dos problemas comunitários. “A questão das Redes eu acho que é muito importante no sentido de que até então tínhamos praticamente as decisões sendo tomadas pelas lideranças políticas. E a rede vem fazer exatamente o inverso disso, trabalhando com as pessoas que estão no bairro, que sabem as necessidades e as prioridades que têm que ser tomadas. E daí fica fácil até para o próprio poder Executivo ou para as entidades que colaboram nesse processo para facilitar a solução desses problemas”, afirma. “E crescendo essas comunidades, com certeza o município cresce e as pessoas irão ter uma situação melhor de vida, uma cidade mais gostosa para se morar e é isso que importa. O comércio é mais uma peça deste processo. O comerciante também tem as mesmas dificuldades do morador, como segurança, uma rua bem cuidada. E tudo isso estando bem feito também é proveitoso para ele”, completa.

Atualmente, são 175 localidades, em 17 municípios - a grande maioria em Curitiba e Londrina -, utilizando a metodologia das Redes de Desenvolvimento Local. De acordo com o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, a entidade, como representante das indústrias, está atuando como facilitadora do processo. “A Indústria, além do seu papel econômico, de geração de empregos, tem o papel de contribuir com o desenvolvimento da sociedade. A ideia das Redes de Desenvolvimento Local é que as comunidades evoluam, adquiram consistência, sejam mais fortalecidas e procurem os seus direitos, pratiquem a cidadania”, disse.

O coordenador das Redes de Desenvolvimento, José Marinho, explica que nem tudo que significa desenvolvimento precisa vir do poder público. "Algumas soluções são simples e passam por pequenas ações dos moradores. A ideia é que o cidadão assuma o protagonismo do desenvolvimento local", ressalta. Segundo ele, diversas comunidades já realizam ações por meio da articulação de seus atores locais.

Perfil

O Santa Felicidade foi fundado na década de 1970 quando diversas famílias, que se encontravam em casas degradadas ou irregulares pela cidade, foram realocadas durante um processo de reurbanização promovido pela prefeitura municipal. De acordo com dados do censo 2000 do IBGE, o bairro tem cerca de 1300 habitantes. Possui toda a infraestrutura, no entanto, o asfalto e a rede de esgoto são precários. O Santa Felicidade tem uma escola municipal, uma creche, quadra de esportes, campo de futebol, bares e muitas igrejas. Por ser uma área pequena, vários serviços são utilizados nos bairros vizinhos, como o posto de saúde na Cidade Alta, além de hospital e mercados no Jardim Ipanema. Na região, encontram-se também algumas indústrias. O projeto de reurbanização do Santa Felicidade hoje está sendo implementado com recursos do PAC através do Programa de Requalificação Social ZEIS Santa Felicidade e será financiado pelo Ministério das Cidades. A proposta prevê a transferência de algumas famílias para outros lugares e ampliação dos terrenos existentes no local.

Redes de Desenvolvimento

As Redes de Desenvolvimento começaram a ser disseminadas em 2008, a princípio em um bairro de Curitiba, no Jardim Santos Andrade; em Londrina (Vila Recreio, Heimtal, Jardim Maringá, Jardim Felicidade, Jardim Nova Esperança, Vila Yara e Jardim Castelo); em Ponta Grossa (Vilas Santana e Barreto); e Maringá (Ney Braga). As Redes são pessoas conectadas que interagem entre si, assumindo o papel de protagonistas do processo de desenvolvimento da localidade em que vivem. Por meio de uma metodologia específica, podem definir o que desejam e traçar um caminho para realizar os sonhos. Nas redes, não há hierarquias e todos interagem horizontalmente como cidadãos, conscientes de que sem cooperação não existe desenvolvimento.

As Redes de Desenvolvimento Local são induzidas pelo Sistema Fiep, mas elas não são propriedade de ninguém e constituem um bem público dos que moram e trabalham em cada localidade que resolver articulá-las. Para viabilizar a iniciativa o Sistema Fiep oferece recursos logísticos e humanos para implantar o programa no bairro, inclusive um agente de desenvolvimento capacitado para servir como articulador e animador da Rede de Desenvolvimento Local.

Conforme conta o coordenador das Redes, José Marinho, a metodologia seguida no projeto é inspirada no DLIS (Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável), composta por oito passos, variando de acordo com o perfil das pessoas e conveniência do grupo envolvido no processo. "Adotamos também conhecimentos a partir da metodologia da Investigação Apreciativa, que consiste em resgatar histórias positivas do passado para sonhar um futuro dentro da perspectiva de se construir uma agenda positiva de desenvolvimento. A metodologia passa a ser uma ferramenta e não o centro dessa proposta", afirmou. Para ele, o essencial é agregar nesse processo a tecelagem de redes de pessoas, dos mais variados círculos de convivência, para que se tenha uma multiplicidade de ideias, interesses e que se contemplem todos os eixos do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental.