ACIDENTE

Maringá contra a criminalidade

Maringá, conhecida no Estado como sinônimo de qualidade de vida e terra de oportunidades, foi classificada como a cidade mais segura do País, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério de Planejamento. Baseado em dados oficiais do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confrontados com o registro de óbitos do Ministério da Saúde, o Ipea construiu um índice que mede o risco de uma pessoa ser assassinada em cidades com mais de 300 mil habitantes. Resultado: Maringá é uma cidade onde os homicídios são raros, em comparação com outras localidades no mesmo porte.

De cada 100 mil maringaenses, de acordo com a pesquisa, oito deles (7,94) têm chances estatísticas de ser assassinado no período de um ano. Serra, na região metropolitana de Vitória (ES), é a mais violenta, com um grupo de 97 pessoas em risco. Em 95% dos casos, segundo a pesquisa, os homicídios têm ligação direta com a vulnerabilidade social. Cidades mais pobres, sem as mínimas condições de infra-estrura, alta taxa de analfabetismo, problemas com os sistemas de saúde e habitação, que vivem à sombra de capitais ou metrópoles, são responsáveis pela ponta de baixo da tabela.

Onde existe distribuição de renda mais justa, entretanto, os riscos de ser assassinado diminuem bastante, segundo o mesmo estudo. Em Maringá é assim. Considerada pólo regional e prestadora de serviço, nas áreas de educação e saúde, a cidade tem uma das maiores rendas per capita do Estado, cerca de R$ 21 mil, conforme estimativa de 2003 do IBGE. Em Londrina, por exemplo, segundo pesquisa realizada pelo Ipardes, em 2000, o número é de R$ 6,395,00. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a cidade ocupa o 6º lugar no Estado (67º no País), superada apenas por Curitiba entre os municípios paranaenses de médio ou grande porte.

''Nossa situação é diferente de outras cidades, como Londrina. Maringá é prestadora de serviço e tende a ter uma distribuição de renda melhor. Sem dúvida, está aí a chave para explicar esse baixo índice de homicídios'', ponderou o professor universitário Carlos Anselmo Corrêa, presidente do Conselho Comunitário de Segurança, o primeiro do País, criado em 1983. A taxa de risco medida pelo Ipea condiz com a realidade maringaense. No ano passado, segundo a Polícia Civil, foram 18 homicídios. Em 2003, o número foi ainda menor, 12 mortes. Londrina, por exemplo, registrou no ano passado 183 assassinatos, número no mínimo 10 vezes maior quando comparado à média histórica de Maringá.

Outro redutor dos efeitos da criminalidade urbana também ajuda explicar os baixos índices de assassinatos na cidade. Em Maringá, que cresceu de forma planejada, inibindo a expansão de assentamentos e ocupações irregulares, não existem favelas. Mesmo os bairros mais pobres, que carecem de mais atenção policial, possuem o básico de infra-estrura, como posto de saúde, escola, asfalto, luz e rede de esgoto. ''Temos regiões de baixa renda, mas que estão longe de serem favelas. Para você ter uma idéia, o bairro mais carente de Maringá é um conjunto habitacional, que tem uma situação mais crítica em termos de segurança. Lá, tem gente pobre, mas o bairro oferece o mínimo de infra-estrutura'', relatou o delegado-operacional da 9 Subdivisão Policial (SDP), Paulo Roberto Machado.

Amanhã, na sequência da reportagem, a Folha publica o depoimento da população, livre do medo dos assassinatos, mas ainda insegura em relação a outros crimes como furtos, roubos e sequestros-relâmpagos.

Folha News