“Sem motivo identificado”. Esse é o motivo da maior parte dos casos de baixa freqüência escolar de alunos cadastrados no programa Bolsa Família, no Paraná, em fevereiro e março deste ano, de acordo com o Ministério da Educação (MEC).O acompanhamento, que vem sendo feito pelo órgão desde 2005, prevê que as escolas comuniquem o motivo da falta do aluno ao ministério sempre que a presença for inferior a 85%. Mas do total de 9.281 estudantes que estavam nessa situação no Estado no período, 5.942 entraram no item “sem motivo identificado”.No ranking dos Estados, o Paraná ficou em sexto lugar na quantidade de estudantes que tiveram baixa freqüência, perdendo para a Bahia (9.340), Rio de Janeiro (10.828), Ceará (10.844), Minas Gerais (17.783) e São Paulo (54.464).Contudo, embora ainda existam em patamares considerados altos pelos especialistas, as taxas de evasão escolar no Paraná vêm diminuindo gradativamente ano a ano.Em 2007, a quantidade de alunos do ensino fundamental (5.ª a 8.ª série) que desistiu de estudar no Paraná chegou a 4,6%, enquanto que no Ensino Médio ficou em 11%.Em 2006, as taxas foram de 5% e 11,6%, respectivamente, e em 2005, 3,9% e 6,1%. Os levantamentos são da Secretaria Estadual de Educação (Seed) e do MEC.
Na opinião da presidente em exercício da Associação de Conselhos Tutelares de Curitiba, Dagmar Nascimento, a escola vem perdendo a sua função e isto pode ser um dos resultados do desinteresse do aluno pelos estudos e o conseqüente abandono da escola.“A escola perdeu o chamamento para o aluno, poucas têm atrativos. Hoje muitos estudantes saem da quarta série sem saber ler e escrever. Os estudantes não são estimulados a pensar”, comenta.Outros fatores mesclados, como a falta do pai e da mãe em casa - reflexo dos dias atuais em que toda a família está no mercado de trabalho - aliado aos “atrativos” das drogas e da criminalidade, também podem contribuir com a evasão, segundo Nascimento.O fracasso do estudante na escola também pode ser uma das causas da evasão, na opinião da pedagoga, psicopedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Simone Carlberg. Para ela, esse fracasso pode ser causado pelo enfraquecimento do poder da escola e do professor.“E tudo isso é proposital. A relação pedagógica da escola está deixando de existir. E não é porque os educadores não querem, o problema é que a maior parte deles não tem estrutura para trabalhar, e a evasão acaba sendo um dos sintomas. É preciso resgatar isso por meio da formação continuada do professor e da sua valorização”, afirma a especialista.Segundo ela, não se deve jogar a responsabilidade apenas para a família ou para o conselho tutelar, mas sim dar mais atenção à escola. “Sabemos que os pedagogos das escolas não dão conta porque sua rotina é desgastante”, disse.