ENTRETENIMENTO

O cartunista maringaense Lukas "brinca" desenhando cartuns

Marcos Cezar Lukaszewing, Lukas, nasceu em Mandaguari em 1962. Aos 5 anos, sua mãe leu para ele a revista do Wall Disney e o cartunista Lukas pode ter nascido neste momento. Entre as lembranças que ficaram marcadas para sempre em sua vida, ele recorda de um dos quadrinhos da personagem Margarida.

Aos 16 anos deu seus primeiros passos para o Cartum quando comprou a revista do Tim Tim do autor belga, Hergê. Começou a publicar oficialmente para o “O Jornal de Maringá”, em 1987. Atualmente desenha para “O Diário” onde trabalha desde 1991.

Seu apelido foi sugerido pelo cartunista jaguar do “Pasquim”, por achar seu sobrenome difícil de falar . Lukas, diz ter passado fome e hoje se diz realizado dentro de suas possibilidades de trabalho. Lançou o livro “o que vier eu traço”, em 88 e “Demos Graças”, em 2000.

Amante da madrugada, o cartunista gosta de observar o mundo e usa as mesmas observações como matéria prima para os seus desenhos. Simples na aparência e na vida, gosta do anonimato e de tomar cerveja.

MC - O que o Cartum significa para você?

Lukas – O Cartum para mim é um meio de vida, de sobrevivência, acima de tudo é um gosto que eu tenho, não sei fazer outra coisa. Para mim, se você me oferecesse um emprego na parte burocrática de um banco, eu não gostaria de fazer, nem se fosse para ganhar duas ou três vezes mais do que eu ganho. Na minha vida o Cartum é tudo. Vivo só pensando “porcaria” para produzir. É oficialmente o que eu gosto de fazer.

MC – Você acredita em Deus?

Lukas – Eu sou meio dividido. Tem horas que eu fico questionando a existência de Deus quando eu vejo alguma coisa errada. A minha mulher lê a Bíblia eu não, e ela fala para mim que eu estou errado. Eu vejo notícias de guerra, coisa errada, gente explorando os outros, passando fome, aí eu falo: “Pó, que Deus é esse?”. Deus do velho testamento não gosto muito. Mas ao mesmo tempo já me peguei falando de Deus. Uma vez fiz um Cartum da bomba atômica, em 91, quando terminei o esboço levantei da mesa e disse assim: “Obrigado Deus”.

MC – Dá para ficar rico apenas com Cartuns em Maringá?

Lukas – Quando eu comecei em 88, tinha um emprego público, de 82 até 89, trabalhava em uma empresa do governo, já gostava de fazer cartuns, produzir, mas não ganhava nada. Levava para “O Diário”, para a revista “Pois È”, sem ganhar nada. Um belo dia resolvi arriscar, pedi as contas do emprego e disse: “Vou viver de cartuns”. No começo fiquei um ano e meio morando sozinho, com o dinheiro que ganhei dos direitos trabalhistas. Comprei um apartamento. Então não ganho assim um salarião, mas tudo que tenho foi do dinheiro do Cartum.

MC – Qual sua inspiração para o desenho?

Lukas – Eu faço um punhado de coisas, um bazarzão. Presto muita atenção como quando estou andando de ônibus. As vezes num boteco tomando uma cerveja escuto alguém falando, não que eu vá copiar, mas serve de inspiração. A notícia dos jornais também é uma importante fonte para as minhas charges.

MC – Você se inspira em algum cartunista?

Lukas – Quando comecei a desenhar, antes de ir trabalhar no jornal, nem imaginava que ia ser cartunista, tinha na época 16 anos. Nessa fase , comprei uma coleção ( em partes) do “Tim Tim”, uma cartunista belga, Hergê. Inspirado no personagem comecei a desenhar. Eu era o Tim Tim da época, ele incorporou em mim. Depois que comecei a fazer cartuns meus. Grandes inspiradores além do Hergê foram Karl Barx, da revista Mad e no Brasil, Laerte, que é para mim o maior cartunista do mundo.

MC – O que é fome para você que já passou?

Lukas – Fome é o negócio mais triste do mundo. Quando eu era garoto, antes de ser cartunista, meu pai ficou desempregado, era uma época de sobe e desce, meu pai arrumava um emprego e ficava três meses, depois era mandado embora. Tinha época que a gente comia maisena com água e pegava umas salsinhas para dar uma temperada, as vezes sem sal. Não foi um período muito longo da minha vida, mas eu senti na pele a fome. Quando fui morar sozinho para trabalhar fiquei três dias sem comer, no terceiro dia, na quarta-feira, levantei do colchão e fui no mercadinho, comprei 2 kilos de arroz, uma dúzia de ovos e duas latas de sardinha. Comi que nem um condenado. Almocei e jantei ao mesmo tempo.

MC – Você é realizado profissionalmente?

Lukas – Tenho algumas frustrações, já levei muito, mas não tenho mágoa de ninguém. Em 89 eu ia lançar um tablóide semanal de humor, produzi uns dois ou três, um jornalista que atualmente não mora mais aqui, prometeu vender minha propaganda, porque ele conhecia muita gente, caí de cabeça. Fiquei uns 5 meses produzindo esse material, desenhei pra caramba, mas não foi em vão, porque depois eu fiquei um ano sem produzir, apenas colocando meus cartuns para o jornal. Nada é em vão, acho que não era para dar certo mesmo.

MC – O que você quer transmitir com o Cartum?

Lukas – O que eu quero é que as pessoas pensem e se divirtam ao mesmo tempo.

MC – O que você espera do futuro?

Lukas – Não sei nem o que vou jantar hoje.

Liziane Neu