EXPOSIÇÃO

Com curadoria da maringaense Roberta Stubs, obras de Túlio Pinto chamam atenção no MON

Para entender melhor a complexidade da exposição e a importância de sua curadoria, entrevistamos Stubs sobre esse trabalho de grande renome na capital do estado.

Com curadoria da maringaense Roberta Stubs, obras de Túlio Pinto chamam atenção no MON
Para a curadora de Maringá, participar da exposição de um artista renomado em um dos principais museus do Brasil é, além de uma conquista pessoal, um ato político de descentralização cultural. - Foto: Gustavo Barrionuevo

A exposição "Buraco no Céu", do renomado artista gaúcho Túlio Pinto, está em exibição no Olho do Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, até o dia 22 de outubro. Com curadoria da maringaense Roberta Stubs, as obras são uma experiência intrigante que desafia as noções tradicionais de escultura e instalação.

Roberta Stubs descreve o trabalho de Túlio Pinto como uma exploração de elementos comuns do cotidiano, como vigas de aço, placas de vidro, e pedras, que são destituídos de sua função original para criar uma sensação de perplexidade no espectador. A exposição é uma mistura de elementos pesados que se equilibram de forma frágil, gerando uma sensação de leveza em meio à densidade.

O primeiro contato de Stubs com o artista se deu em uma exposição colaborativa entre a Secretaria de Cultura de Maringá e o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC). “Essa é uma história muito bacana que eu acho que merece ser contada. Quando fiz a curadoria da exposição ‘Tempos de opacidade’, pelo Semuc, fui até Curitiba e tive acesso a um acervo maravilhoso com mais de 2 mil obras de artistas muito relevantes do MAC-Pr. Entre essas obras, estava a do Túlio. Eu já conhecia o trabalho dele, eu já gostava, já admirava, então pensei ‘é óbvio que vou levar’”, conta.

Roberta destaca que a obra escolhida tinha uma montagem muito complexa, por serem estruturas que ficam equilibradas. E, por isso, o contato com Túlio foi inevitável.

“É necessário encontrar o ponto de equilíbrio perfeito. É um objeto composto por uma escada que leva a lugar nenhum, uma placa de vidro e duas pedras. São itens pesados. E aí, nesse processo de montagem, eu entro em contato com o Túlio, falo da dificuldade, e a gente começa uma relação de troca de ideia sobre os trabalhos dele, sobre as propostas”, explica.

Alguns meses depois desse primeiro contato, o artista convidou Stubs para fazer a curadoria de sua exposição no MON, destacando que precisaria de um texto em 48 horas. “É sempre assim, né? E eu super topei. Eu estava pensando e escrevendo sobre o trabalho do Túlio, então foi só uma otimização de coisas que eu já estava fazendo”.

A curadoria

O processo curatorial da exposição "Buraco no Céu" envolveu uma cuidadosa seleção de obras que representam a trajetória criativa de Túlio Pinto, desde seus primeiros trabalhos até suas criações mais recentes. O resultado é uma exposição que desafia o espectador a questionar, refletir e imaginar, enquanto experimenta a sensação de tensão e leveza em meio à densidade das criações do artista.

“Ele trouxe os trabalhos que gostaria que estivessem na amostra, pensamos juntos, sugeri que outros entrassem a partir do conhecimento que eu tinha dos trabalhos dele, trabalhos que eu julgo que são fortes dentro dessa sua trajetória como artista. A partir daí, pensamos na distribuição deles no Olho, que é um lugar muito desafiador, porque ele é diferente dessas salas expositivas que são uns cubos brancos, paredes brancas por todo o lado. O Olho é arredondado, muito mais alto. Então a gente teve o desafio de montar a exposição lá, que ficou muito potente. Tá linda”.

Foto: Anderson Astor
Foto: Anderson Astor

Entre as obras que chamaram a atenção da curadora estão "Nadir #8", que equilibra elementos aparentemente incompatíveis, como uma escada, uma placa de vidro e duas pedras, criando uma sensação de estável-instabilidade e, ao mesmo tempo, uma harmonia visual. Outra obra notável é "Territórios", na qual Túlio Pinto cria um arranjo de elementos muito único se valendo de cadeiras, blocos de concreto, mesa, placa de vidro e cabo de aço.

No texto curatorial da exposição, Stubs destaca: “Estar diante dos trabalhos de Túlio Pinto é dividir um estado de suspensão com materialidades sólidas que parecem flutuar. Mover nosso corpo entre suas esculturas e instalações é transitar num tempo e espaço interrompido, onde as leis da física, regidas aqui por outra lógica, cedem lugar a um encantamento em estado de alerta, posto que atravessado pela iminência da queda.”

“Ela gera perguntas, ela tem essa capacidade de gerar perplexidade e perguntas. Então quando a gente vê um trabalho do Túlio, a gente pergunta assim, como ele fez isso? A gente vai encontrar várias formas de pensar isso, mas não vai ter resposta”, explica a curadora.

Foto: Anderson Astor
Foto: Anderson Astor

Visibilidade além dos centros

Para Roberta Stubs, a realização desta exposição no MON tem um significado especial: uma oportunidade de descentralizar a produção cultural, mostrando que profissionais qualificados estão trabalhando em outras regiões do estado, fora das grandes capitais. De acordo com a curadora, essa exposição é vista como um gesto político de visibilidade, abrindo portas para outros agentes culturais e criando vínculos entre instituições culturais em diferentes territórios.

“É uma descentralização cultural que eu entendo que abre caminhos para que outras pessoas também possam fazer esse trânsito. É óbvio que hoje esse deslocamento está muito mais facilitado do que era há muitos anos atrás, mas ainda assim a gente percebe uma concentração nas grandes capitais. Então, pra mim, participar dessa exposição no MON tem essa perspectiva política mesmo, de ser uma janela para mostrar que há profissionais muito qualificados trabalhando também em outras regiões do estado, não só na capital”, celebra Stubs.

Vale destacar que o catálogo com todas as fotos da exposição “Buraco no Céu”, que também inclui uma versão estendida do texto curatorial de Roberta Stubs, já está disponível para compra na loja do MON e, em breve, também estará na loja online do museu.

SERVIÇO

Exposição "Buraco no Céu"
Local: Olho - MON (R. Marechal Hermes, 999 - Centro Cívico - Curitiba)
Horário: Terça a domingo das 10h às 18h
Preço: Visitação gratuita todas as quartas-feiras. Nos outros dias, R$ 15 a meia e R$ 30 a inteira. Clique aqui para comprar os ingressos.

Maringa.Com
Por Gabrielle Nascimento e Vanessa Santa Rosa