JUSTIÇA

Vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton são multadas por caso análogo à escravidão.

Do valor total da multa, R$ 2 milhões serão divididos entre os 207 trabalhadores resgatados em condição de trabalho degradante na Serra Gaúcha; saiba mais sobre o caso.

Vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton são multadas por caso análogo à escravidão.
Os trabalhadores, em sua maioria baianos, foram resgatados no dia 22 de fevereiro em operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). - Foto: Reprodução/Poder360

O Ministério Público do Trabalho (MPT) assinou nesta quinta-feira (9) um termo de ajuste de conduta (TAC) com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton, envolvidas no caso de flagrante de trabalho análogo à escravidão ocorrido em Bento Gonçalves (RS), em 22 de fevereiro.

Conforme o acordo, as vinícolas devem pagar R$ 7 milhões em indenizações, sendo R$ 5 milhões por danos morais coletivos e R$ 2 milhões por danos individuais. O valor por danos coletivos será destinado a entidades, fundos ou projetos visando a recomposição e o valor por danos individuais será dividido entre as vítimas. O prazo de pagamento é de 15 dias.

Entre as obrigações do Termo de Ajuste de Conduta, estão:

  1. zelar pela obediência de princípios éticos ao contratar trabalhadores diretamente ou de forma terceirizada;
  2. abster-se de participar ou praticar aliciamento, de manter ou admitir trabalhadores por meios contrários à legislação do trabalho, de utilizar os serviços de empresas de recrutamento inidôneas;
  3. garantir e fiscalizar áreas de alojamentos, vivência e fornecimento de alimentação;
  4. somente contratar serviços de terceirização com empresas com capacidade econômica compatível com a execução do serviço contratado;
  5. fiscalizar as medidas de proteção à saúde e à segurança do trabalho adotadas pelas terceirizadas e também exigir e fiscalizar o registro regular em carteira de todos os trabalhadores contratados para prestação de serviços, bem como os pagamentos de salários e verbas rescisórias; e
  6. promover, entre outras empresas do setor vinícola e entre associados de suas cooperativas, estratégias de conscientização e orientação, contemplando seminários sobre boas práticas e cumprimento de legislação sobre direitos trabalhistas e direitos humanos, inclusive abordando temas de segurança, saúde e medicina do trabalho e trabalho em condições análogas à de escravo.

Caso alguma das cláusulas sejam descumpridas, as empresas deverão pagar multa de R$ 300 mil por violação.

EMPRESA TERCEIRIZADA ERA RESPONSÁVEL PELOS TRABALHADORES — De acordo com a apuração do caso, as três vinícolas envolvidas no caso contrataram mão de obra terceirizada fornecida pela empresa Fênix Serviços Administrativo, que teria então mantido os trabalhadores, a maioria de origem baiana, em condições análogas a escravidão.

O juiz Silvonei do Carmo, da 2ª Vara do Trabalho de Bento Gonçalves, concedeu pedido de liminar feito pelo MPT e autorizou o bloqueio de R$ 3 milhões de Pedro Augusto Oliveira de Santana, dono da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda.

O empresário se recusou a assinar o TAC com o MPT e a quantia foi bloqueada de modo a garantir o pagamento de indenizações em caso de eventual condenação criminal. A empresa já pagou, emergencialmente, no dia do resgate dos trabalhadores, R$ 1,1 milhão em verbas rescisórias.

RELEMBRE O CASO — Em 22 de fevereiro, uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores que enfrentavam condições de trabalho degradantes em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

O resgate ocorreu depois que três trabalhadores que fugiram do local contactaram a PRF, em Caxias do Sul (RS), e fizeram a denúncia.

Atraídos pela promessa de salário de R$ 3 mil, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas e oferta de alimentos estragados.

Eles relataram ainda que, desde que chegaram, no início do mês, eram coagidos a permanecer no alojamento, sob pena de pagar multa por quebra do contrato de trabalho. A PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa, que foi encaminhado para o presídio de Bento Gonçalves.

Em notas, as vinícolas envolvidas disseram que desconheciam as irregularidades praticadas contra os trabalhadores recrutados pela empresa prestadora de serviços terceirizados.

Agência Brasil
Por Gabrielle Nascimento