SAÚDE

Você consegue identificar a compulsão alimentar?

É preciso diferenciar os sinais, afinal nem todo episódio compulsivo configura transtorno

Você consegue identificar a compulsão alimentar?
Pessoas com compulsão alimentar podem estar lutando para lidar com a tristeza, a raiva, o estresse, a ansiedade e outros sentimentos e emoções. - Foto: Freepik

Para quem ainda não conhece, a compulsão alimentar é a prática recorrente de comer excessivamente e de modo descontrolado em um curto espaço de tempo, além de ser em uma quantidade maior que o organismo realmente necessita, conforme define o Blog da Saúde. Além disso, os sentimentos de culpa ou arrependimento costumam acompanhar os episódios compulsivos. 

Segundo Rafael Marques Soares, nutricionista e pesquisador do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração de São Paulo, o primeiro ponto a ser esclarecido é que a compulsão alimentar é um sintoma que se manifesta como um comportamento de algumas doenças psiquiátricas, entre elas o Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA).

Ele pontua que nem todo episódio de compulsão é considerado o transtorno em si. Pode acontecer de, em momentos específicos, existirem exageros alimentares, até compulsão mesmo, mas que por si só não configuram um quadro clínico. Essa diferenciação é importante porque esse sintoma, que faz parte do TCA, tem critérios de diagnóstico bem estabelecidos.

“Hoje com as redes sociais vemos pessoas que postam foto de dois brigadeiros e falam: ‘nossa, tive uma compulsão’. Ou que comeram duas fatias de pizza ou um pedaço a mais de bolo de aniversário. A partir daí, outras pessoas começam a se questionar se estão tendo uma compulsão por fazerem algo parecido. Por conta desses modismos dietéticos, por essa preocupação exagerada e até por algum desserviço que as redes sociais prestam, é preciso diferenciar bem o que pode ou não ser sintoma de doenças graves como, por exemplo, bulimia e TCA. Dissociar isso um pouco para que as pessoas não fiquem desnecessariamente culpadas ou preocupadas por estarem comendo normal”, explica.

Por isso, é importante ficar atento aos sinais, principalmente se a situação descrita lá no comecinho tem se tornado uma rotina na sua vida. Uma vez que pessoas com compulsão alimentar podem estar lutando para lidar com a tristeza, a raiva, o estresse, a ansiedade e outros sentimentos e emoções.

Qual é o limite entre a fome e a vontade de comer?

Sentir fome, além de saudável, é fundamental. Afinal, é assim que nosso corpo obtém a energia necessária para se manter em funcionamento. Acontece que esse ato tão natural pode, por alguma razão, ficar desregulado.

A compulsão alimentar pode ser responsável pelo surgimento de outras doenças?

Sim! Por envolver o consumo excessivo de alimentos e, na maioria das vezes, estamos falando de ultraprocessados, a compulsão alimentar pode se configurar como fator de risco para o surgimento de doenças como: obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. 

Também pode estar associada à anorexia, bulimia, entre outros transtornos.  Pode ainda indicar ou levar ao agravamento de quadros depressivos, ansiosos, outros transtornos alimentares, abuso de substâncias e problemas com a autoimagem corporal.

“Quando o episódio se conclui a sensação de fracasso, de remorso, incapacidade e descontrole é muito grande. E isso monta um ciclo muito ruim na vida desse indivíduo, que fica abalado emocionalmente. Ele está com alguma questão da vida que o impulsiona a comer, e aí come porque está ansioso. Quando termina o episódio, a ansiedade não diminuiu com o alimento. Agora ela está aumentada. Como resolver isso? Comendo de novo. Então ele entra nesse ciclo: está ansioso porque comeu muito ou comeu muito porque está ansioso”, explica o nutricionista. 

Como é feito o tratamento?

O tratamento do transtorno de compulsão alimentar, quando assim se configura, envolve o acompanhamento com psicólogo, psiquiatra e nutricionista. O primeiro passo é avaliar critérios diagnósticos, investigar a possibilidade de transtornos associados e compreender a complexidade da temática. Também é importante o apoio da rede familiar e uma abordagem sem estigmas para entender melhor o que se passa com essa pessoa e, assim, direcionar adequadamente o tratamento.

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