ECONOMIA

De acordo com economista, Brasil precisa voltar a crescer próximo de 3%

De acordo com economista, Brasil precisa voltar a crescer próximo de 3%
Economista Luiz Gustavo Medina, que acredita num cenário positivo para a economia brasileira
Embora o ritmo esteja bem abaixo do ideal, o economista Luiz Gustavo Medina, o Teco Medina, vê a economia brasileira no caminho certo para a retomada do crescimento e defende o retorno imediato de investimentos por parte da classe empresarial. “Se tivesse uma empresa e tivesse que fazer negócio hoje, eu faria”, assegura.

O economista, entretanto, reconhece que a desconfiança, que tem paralisado tanto consumidores quanto investidores, é justificável, uma vez que o governo ainda não apresentou um discurso convincente de que conseguirá aprovar a reforma da Previdência e colocar a agenda econômica em prática. “A agenda é boa, mas precisa ser feita”, cobra.

Temas recorrentes do quadro ‘O Assunto é Dinheiro’, do qual Medina é titular na Rádio CBN, as expectativas e as apreensões no cenário econômico nacional foram foco de uma palestra proferida pelo economista em Maringá, no mês passado, a convite da A. Yoshii Engenharia.

Autor dos livros ‘Investindo em ações – os primeiros passos’, ‘Investindo sem erro’ e ‘Investindo no Futuro’, o economista conversou com a Revista ACIM sobre os rumos da economia e deu dicas de investimentos:

Aprovada na CCJ, a reforma da Previdência ainda tem um longo caminho até a aprovação no Congresso. O que pode acontecer com a economia até lá?

O que já está acontecendo: o país inteiro parado, sentado no sofá e acompanhando o processo pela televisão, em vez de produzir, investir, gastar e consumir. Embora haja expectativa e confiança, as pessoas não têm certeza de que a reforma vai passar. Estamos em maio e já deveríamos ter certeza da aprovação da reforma. Por culpa do governo, que não consegue passar essa confiança, ainda há dúvidas. E uma empresa multinacional para investir US$ 1 bilhão no país, precisa ter certeza. Então, está todo mundo esperando.

Economicamente falando, quais avanços o país obteve nos primeiros meses de 2019? E por que a retomada da economia tem sido tão lenta?

Cem dias de governo é pouco tempo para resultados. Tivemos alguns leilões de aeroportos e ferrovias que o ex-presidente Michel Temer tinha deixado engatilhado. Há a reforma da Previdência, que é um projeto bom e robusto. Neste caso o governo, de certa forma, conseguiu fazer o que se esperava dele. O que falta é uma comunicação melhor com a sociedade, para as pessoas e os empresários, e de convencimento de que há uma agenda boa na mão que será colocada em prática e vai gerar crescimento mais forte da economia para 2020, 2021 e 2022. Durante cinco anos nossa economia ficou estagnada ou andou para trás. As pessoas estão mais otimistas, mas ao mesmo tempo estão cansadas, porque esse ciclo está sendo muito longo. Cabe ao governo dissipar essa névoa. A partir daí as pessoas vão colocar a mão no bolso para consumir, investir, financiar, planejar férias, trocar de carro e fazer a roda girar.

Como será o desempenho da economia neste ano?

Será mais um ano de crescimento baixo, mas provavelmente melhor do que o ano passado. Devemos crescer 1,5%. É muito menos do que poderíamos, deveríamos e precisamos. O Brasil precisa voltar a crescer mais perto de 3%, porque 1% e 1,5% não geram nada. Não gera melhora substancial na vida das pessoas, no desemprego, na sensação de que as coisas estão indo para frente ou nas empresas. É um índice muito baixo para o tamanho do problema do Brasil.

E os juros estão em níveis adequados?

Os juros estão nos níveis mais baixos da nossa história. Eles já ficaram um ano nesse patamar e vão ficar pelo menos mais um ano. Obviamente que poderiam ser menores, mas o problema do Brasil hoje não é a taxa de juros. O problema é que precisamos destravar para a economia voltar a crescer. Existe uma agenda muito grande e boa do governo para melhorar o ambiente de negócio, a vida das empresas e das pessoas: desregulamentação, desburocratização, simplificação, um pouco de lógica, menos interferência do governo, que tornam o Brasil um lugar mais fácil para empreender.

Quanto as polêmicas em redes sociais envolvendo integrantes do governo e pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro interferem nas questões econômicas?

Interferem porque a cada bobagem dita e a cada inimigo que se faz se perde muito tempo refazendo, desfazendo e arrumando. É tempo que se está perdendo para conseguir formar uma base aliada, discutir projetos e conseguir apoio para ideias. O governo vem criando confusão para si mesmo desde o dia que assumiu. Cria um problema na segunda-feira para resolver na sexta e voltar exatamente para onde estava na segunda. Isso serve para os tweets , para as acusações e declarações, para o caso da Petrobras. O governo tem sido muito ruim neste ponto e isso evidentemente atrapalha.

O senhor vê as exportações brasileiras, especialmente para os países árabes, ameaçadas com as declarações do presidente Bolsonaro e a política externa adotada até o momento?
A política externa vai para o caminho errado. Talvez façamos algumas bobagens, mas não vejo isso interferindo na pauta econômica. Há um limite e em algum momento alguém da área da economia ou do agronegócio deve alertar que se o Brasil ultrapassar esse limite, vai perder bilhões e o governo vai recuar.

Em março, o índice Ibovespa atingiu pela primeira vez 100 mil pontos. Por que o mercado está tão otimista se as projeções de crescimento vêm sendo reduzidas e o desemprego segue em alta?

Quanto mais a economia cresce, mais ajuda as empresas a lucrarem. Porém, o que temos visto no Brasil, nos últimos três anos, é um crescimento do lucro, independente da economia. No ano passado, a economia cresceu 1,1%, e o lucro das empresas listadas na Bolsa cresceu quase 45%, porque elas passaram por ajustes, cortaram gastos, demitiram gente, melhoraram processos. É este o lastro da alta das ações. A cada trimestre, vemos as empresas divulgando lucros maiores, e se têm mais lucro, o preço das ações evidentemente sobe. Mas é claro que tem um limite de quanto as empresas conseguem crescer e lucrar em um país em que a economia não cresce.

Com a reforma da Previdência, investir em previdência privada é um bom negócio?

Independentemente da reforma, as pessoas precisam se preocupar com o futuro. Vamos viver mais e está claro que não vamos contar com o governo. Temos que ter uma grana guardada, para quando quisermos parar de trabalhar. Você também pode comprar dez imóveis, alugar todos e isso será a sua aposentadoria. Pode comprar ações e viver de dividendos. A previdência é um veículo e cada um pode escolher aquele que prefere. Pessoalmente, prefiro outros veículos. Acho que é possível fazer uma carteira de investimento melhor e mais líquida que não cobre tanta de taxa de administração, para ter a sua poupança e lá na frente usar esse dinheiro.

Quais investimentos de boa rentabilidade sem risco?

Sem correr risco, título do tesouro. Tem títulos pagando quase 9% ao ano, os pré-fixados. Tem os indexados à inflação dando juro real de 4,5% mais a inflação. Com médio risco, há os fundos imobiliários, fundos multimercados, CDB.

E para quem está disposto a correr riscos?

De alto risco tem ações e moedas. Continuo otimista quanto ao mercado de ações e continuo achando que o dólar deveria cair, portanto acho que não tem investimento em dólar nesse momento. Mas isso pode mudar depois de amanhã.

Há um cenário favorável para investir no mercado imobiliário?

Para investir no mercado imobiliário precisa de juros baixos, o que temos. Precisa de crédito, também temos. Precisa de confiança, e isso temos mais ou menos. Estamos prontos para ver os imóveis voltarem a ser vedetes, as empresas lançarem empreendimentos, as pessoas comprarem, os proprietários alugarem por preço bom. O que está faltando é a economia andar um pouco mais rápida e forte.

O senhor vê um cenário favorável para a retomada dos investimentos por parte das empresas?

Acho que é um ótimo momento para investir. Mas entendo perfeitamente que o cara que está há cinco anos tomando tombo diário precisa de um pouco mais de certeza para pôr a mão no bolso.

O Brasil perdeu mais de 43 mil vagas de empregos formais em março. Há previsão de quando este cenário será revertido?

Se a economia continuar crescendo 1%, teremos um mês positivo, outro negativo e o saldo no final do ano talvez seja positivo, mas não o suficiente para incluir todos os profissionais que chegam ao mercado anualmente. Empregos só serão gerados se a economia crescer.

Há boas perspectivas de o Brasil receber investidores internacionais? Há um cenário interessantíssimo. O Brasil viveu a pior década da história do país. Nunca um país cresceu tão pouco. Nessa mesma década o mundo nunca cresceu tanto. E agora o mundo começa a desacelerar e, em tese, o Brasil começa a acelerar porque estamos na ponta ascendente do ciclo econômico. Se imaginarmos o mundo desacelerando, e o Brasil acelerando, é natural que as empresas procurem lugares onde a economia esteja pujante. Mas para entrar aqui, a empresa precisa achar que o país não vai quebrar, que o presidente vai cumprir o mandato de quatro anos, que a reforma da Previdência vai ser aprovada, que a economia vai andar, porque se não ela faz essa fábrica ou investimento em outro lugar. Acho que o momento para o Brasil é muito interessante.

ACIM