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Cervejarias artesanais miram paladares apurados

Cervejarias artesanais miram paladares apurados
Para quem aprecia cerveja artesanal, opções não faltam, afinal em Maringá há pelo menos quatro cervejarias artesanais que distribuem uma variedade considerável de rótulos em bares, restaurantes e mercados da cidade e região. As cervejarias têm ganhado mais força no mercado porque além de profissionalismo, qualidade, prêmios e organização do setor, a cidade conta com a promoção de eventos relevantes. O Festival da Cerveja Artesanal, por exemplo, foi incluído no calendário oficial e é realizado pelo Núcleo das Cervejarias de Maringá (Nucem), da ACIM. Recentemente, Maringá entrou para o circuito da Oktoberfest, sendo que a primeira edição será de 15 a 17 de setembro no Pavilhão Azul do Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro, com foodtrucks de 48 cervejarias artesanais e comerciais.

Uma das fabricantes pioneiras de Maringá, por atuar desde o final de 2012, é a Cervejaria Araucária, que integra a Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva). A empresa é conduzida pelos irmãos e engenheiros químicos, Rodrigo e DiovaniFrigo, e pelos investidores Maurício Partala e Marcel Leal, que produziam cerveja caseira, por hobby, quando observaram que poderiam unir a paixão com o segmento em expansão. “Antes de adquirir a fábrica, porém, passamos um bom tempo pesquisando, desenvolvendo receitas e fazendo testes até o produto ter qualidade suficiente para comercialização”, comenta Rodrigo.

O foco, segundo o empresário, estava em fabricar cervejas artesanais. Abrir um bar não estava nos planos. A ideia mudou quando a demanda cresceu. Foi, então, que surgiu a TastingRoom, mais conhecida como loja da fábrica, em que o cliente compra cervejas, participa dedegustação e eventos, e ainda conhece a produção. “Cerveja fresca é como o pão que acaba de sair do forno, é muito mais saborosa. Queremos que mais consumidores desenvolvam o paladar e percebam que a bebida artesanal é muito diferente da massificada, porque é feita com matéria-prima de primeira qualidade”, enfatiza.

No início, a Araucária produzia dois rótulos, a Gralha Azul e a Vêneta, com média de dois mil litros por mês. Hoje, são seis tipos de cerveja, além das opções sazonais servidas em barril, e a produção mensal é de seis mil litros. “A bebida é distribuída no Paraná, mas em dois meses vamos aumentar a capacidade de fabricação para expandir a comercialização Brasil afora”, adianta o sócio. Rodrigo está sempre participando de cursos e conta com o auxílio da esposa, Andressa, que é sommelier de cervejas. “Prezamos pelo equilíbrio dos ingredientes”, garante: a Araucária tem ganhado prêmios, como no Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau/SC, em 2015 e 2017, e a Copa Sul Americana de Cerveja, também em 2015. “Os concursos tornam os produtos mais conhecidos, tanto que até os restaurantes começaram a perceber que podem imprimir mais sofisticação ao cardápio se os pratos forem acompanhados por bebidas adequadas”, informa o cervejeiro.

Cervejaria cigana

David Redmerski Júnior e Edvaldo Correia também observaram a tendência promissora quando ainda produziam a bebida no fundo do quintal. E assim o hobby virou a empresa RedCor no primeiro semestre de 2015.

Sem recursos para investimento, os sócios optaram pela proposta de cervejaria cigana, que terceiriza a estrutura e o serviço de fabricação. Inicialmente, a RedCor contava com a parceria da Cervejaria Araucária para a produção de dois rótulos, um bem escuro e amargo e outro claro e refrescante. “Ambas são muito saborosas e aromáticas. Produzíamos cerca de 500 litros mensais e vendíamos tudo em Maringá e região”, afirma Júnior.

A partir de 2016, a produção da RedCor passou a ser feita na Cerveja Blumenau, em Santa Catarina. Hoje, a marca conta com seis rótulos “Desenvolvemos e testamos nossas receitas em panelas caseiras. Nos dedicamos diariamente ao estudo para obter a qualidade desejada”, destaca o cervejeiro, que junto com Correia faz o curso Sommelier pela Escola Superior de Cerveja e Malte de Blumenau/SC.

Embora o aperfeiçoamento seja um processo contínuo, o reconhecimento veio no ano de inauguração da marca por meio de concursos no Brasil e na América do Sul. Hoje a RedCor distribui a bebida em mais de 250 pontos em todo o Brasil. “Somente este ano produzimos mais de 20 mil litros e a expectativa é de crescimento. Vamos lançar novos rótulos”, adianta.

Na torneira

No caso dos sócios Daniel Chaves, Guilherme Palu e Marcelo Baptistella, a ideia de criar uma cervejaria artesanal surgiu durante o trabalho de conclusão de curso em Engenharia. Em 2014, após diversas experimentações caseiras, decidiram tirar o projeto do papel e fizeram a primeira produção comercial, fundando a Cervejaria Cathedral.

Na fase inicial, a fábrica atuava com duas linhas de cervejas engarrafadas. Uma delas, chamada de ‘Escolas Cervejeiras’, tinha quatro rótulos: Helles Bock, da escola alemã; BelgianBlond, da escola belga; IPA, da escola americana; e Stout, da escola inglesa. A outra linha era sazonal, chamada ‘Fim dos Tempos’, e oferecia dois estilos: Armagedom (Imperial IPA) e Apocalipse (Imperial Stout).

“Quando começamos a ter visão mais aprofundada deste mercado, percebemos que era possível mudar a estratégia da empresa. Então, decidimos abrir um brewpub, ou seja, um bar para servir cervejas frescas”, ressalta Chaves. Após um período de estruturação, a Cathedral Fábrica Bar foi inaugurada em novembro de 2016. “Nesta etapa, paramos a produ- ção de cervejas engarrafadas e optamos pela liberdade na criação de receitas, que passaram a ser servidos em 16 torneiras”.

Para os sócios, a grande vantagem do brewpub é atuar sem a preocupação burocrática e logística que envolve os produtos engarrafados. Por enquanto eles pretendem manter o foco na produção local e na gestão da Cathedral Fábrica Bar, que tem capacidade limitada de público.

“Aprendemos que, além de produtos de qualidade, precisávamos oferecer uma experiência de consumo única e envolvente. O desafio agora consiste em descobrir como expandir sem perder a identidade e a essência do negócio para continuar cumprindo nossa missão, que é mudar o hábito de consumo das pessoas”, completa.

Paraná é destaque nacional em microcervejarias

Embora o número oficial de cervejarias no Paraná ainda esteja em fase de levantamento, dá para afirmar que o estado está se tornando um polo de microcervejarias. Somente a Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva) registra 45 associados, sendo que 15 têm fábrica própria.

Em março foi aprovada, pela Assembleia Legislativa do Paraná, a criação da Rota da Cerveja Artesanal, deixando Maringá de fora. A rota é formada pelos municípios Almirante Tamandaré, Araucária, Campo Largo, Colombo, Curitiba, Pinhais, Piraquara, Ponta Grossa, Quatro Barras e São José dos Pinhais. Piên e Palmas também devem ser incluídas no circuito turístico.

Diante da exclusão de Maringá, o Núcleo das Cervejarias de Maringá (Nucem), composto pelas cervejarias Cathedral, Araucária, EdenBeer e RedCor, lançou a campanha ‘Vá além da Rota’, incentivando os consumidores a conhecer as cervejarias artesanais locais premiadas nacionalmente.

Na avaliação do consultor e coordenador estadual do Programa do Turismo do Sebrae/PR, Aldo Cesar Carvalho, as cervejarias maringaenses estão bem estruturadas e unidas na organização do setor no município. E devem ser incluídas na Rota. “Maringá é uma alternativa gastronômica do estado, tem destaque na produção de cerveja artesanal, tem forte consumo local e agrega valor para a atividade do turismo”, observa.

Em termos práticos, Carvalho explica que a valorização do produto local é uma tendência mundial que ganhou força por volta de 2000, mas chegou ao Brasil somente nos últimos sete anos. “O trabalho de preparação das empresas brasileiras para o período da Copa do Mundo contribuiu para potencializar a valorização da produção e da paisagem interna”.

Longe de ser modismo, o consultor afirma que a tendência sinaliza um movimento oposto à globalização, embora o acesso à informação é fundamental nesse processo para que os produtos de uma determinada região se tornem conhecidos. “Produtos feitos com matérias-primas específicas da localidade ganham força turística pela exclusividade. Ainda não é possível mensurar o quanto o setor de cerveja artesanal vai expandir, mas é certo que há grande potencial, e a capacitação é essencial para quem quer ingressar nessa área”, frisa.