O salmão, que sempre foi apontado como um alimento rico em ômega3, teve a reputação abalada depois que circularam pelas redes sociais opiniões adversas, algumas de especialistas na área da saúde. A polêmica seria que, se criado em cativeiro, o peixe não conteria os ácidos graxos da família ômega-3. Diante desse diz-que-diz-que das redes sociais, a engenheira de alimentos Renata Menocci Gonçalves reuniu amostras de salmão, criado em cativeiro, para analisar em laboratório a composição lipídica dos peixes. O estudo fez parte da tese de doutorado defendida pela engenheira, no início deste ano, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Alimentos e do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá, sob orientação do professor Jesuí Vergilio Visentainer, do Departamento de Química.Os dados finais da pesquisa indicaram altos índices de ômega-3 nos diferentes tipos de amostras, resultado que não chegou a surpreender a pesquisadora, que partiu do princípio que o salmão é uma fonte importante desses ácidos graxos. O estudo ganha importância à medida que dá respaldo científico e traz uma resposta bem embasada para a sociedade.Considerando que a procura pelo salmão incide, em grande parte, por ele ser um alimento com alto índice de ômega-3, gordura que se destaca em dois ácidos graxos principais: EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenóico), Visentainer reforça que o estudo é de fato uma prestação de serviço para a comunidade. O professor lembra que os peixes de água fria e profunda, como o salmão e a sardinha, por exemplo, são tidos boas fontes de ômega-3, embora não possam sintetizar todos os ácidos graxos, que são obtidos através da dieta. A criação em cativeiro do salmão seria economicamente inviável se ele não recebesse esses nutrientes, pois comprometeria o crescimento e desenvolvimento do peixe. É por isso que a farinha utilizada como ração na salmonicultura costuma ser de boa qualidade, sendo obtida a partir de resíduos do processamento de peixes ou pequenos crustáceos que são fontes do ômega-3, segundo Visentainer.Os estudos foram realizados durante dois anos, período em que, a então doutoranda reuniu várias amostras em laboratório. Porções de salmão fresco, enlatado e congelado fizeram parte dos lotes pesquisados, que também incluíram amostras próximas do prazo de vencimento, encontradas em oferta nos supermercados da cidade. Levadas para a identificação e quantificação dos ácidos graxos saturados, mono-insaturados e poli-insaturados, as amostras não apresentaram diferenças significativas entre si. “Todas foram caracterizadas com teores de ômega-3 acima dos padrões estabelecidos pelos vários órgãos de controle”, afirma.A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera que acima de 80mg em 100g de alimento, ele pode ser caracterizado rico em ômega-3. “Na nossa pesquisa os teores variaram entre 492 mg a 827,63mg, portanto muito além dos parâmetros da Anvisa”, explica Renata, destacando que a concentração menor foi para o salmão enlatado, enquanto que a mais elevada foi verificada no peixe congelado.
Outro parâmetro é a Tabela Brasileira, que estabelece o teor de lipídios em torno de 9,7g por 100 g de peixe. Nas análises feitas na UEM, esses índices ficaram em uma faixa de 9,7g a 12,86g.O professor Oscar de Oliveira Santos Júnior, co-orientador da tese, destaca que o trabalho está respaldado em métodos químicos altamente sensíveis e técnicas analíticas sofisticadas, como a cromatografia em fase gasosa com detector de ionização em chama, que permite quantificar com precisão os ácidos graxos presentes em cada amostra.
BenefíciosMuitas pesquisas têm comprovado que o ácido graxo DHA atua na formação, no crescimento e no próprio funcionamento do cérebro. O leite materno é uma boa fonte do componente, mas para isso é vital que a mãe tenha uma ingestão adequada do nutriente. Estudos indicam que a deficiência do DHA pode ser uma das causas da depressão pós-parto e disfunções cerebrais em lactantes.O ácido graxo EPA está relacionado com a prevenção de doenças coronárias, dentre outras.
Coloração artificialO foco da pesquisa de Renata Menocci foi a análise lipídica do salmão, por isso não há como atestar se o peixe de cativeiro mantém a cor avermelhada característica da espécie graças ao uso de corantes, outra polêmica levantada nas redes sociais.Discussões à parte, Visentainer explica que o salmão, do extrativismo, é um peixe de carne branca e que a coloração avermelhada é obtida devido a um carotenóide chamado astaxantina, que é sintetizado por algas e plânctons, que por sua vez são a comida preferida de muitas espécies de peixes e crustáceos que estão presentes na ração oferecida ao peixe. Dessa forma, mesmo em cativeiro ele poderia acumular a astaxantina na carne, dando a ela a cor roseada.