Pelo terceiro ano consecutivo, a Campanha Plante Seu Futuro, que adota o Manejo Integrado de Pragas para reduzir o uso de agroquímicos nas lavouras, consegue uma economia aproximada de 50% no uso de inseticidas. Os resultados da campanha, relativos à safra de soja 2015/16, foram divulgados nesta terça-feira (27), em Londrina, durante abertura do treinamento para assistência técnica com planejamento em boas práticas agrícolas para a safra 2016/17, que contou com a presença de 100 profissionais da assistência técnica pública do Paraná.O evento aconteceu na Embrapa Soja com a participação do secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara; do chefe geral da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias; do representante da Unidade de Coordenação de Projetos da ONU/FAO no Sul do Brasil, Carlos Biasi; do diretor-presidente do Iapar, Florindo Dalberto; e do diretor técnico da Emater, Paulo Hidalgo.O desafio da campanha é implementar sua divulgação para o conjunto dos produtores do Estado, disse o secretário Norberto Ortigara. “Já vimos que a adoção das boas práticas agrícolas oferece resultados rentáveis e animadores para os produtores. Agora é preciso convencê-los que esse é o caminho a ser percorrido para tornar a agricultura paranaense rentável e sustentável”, afirmou.
RACIONAL E BIOLÓGICO - Segundo Ortigara, muitos agricultores são resistentes e estão acostumados a comprar pacotes tecnológicos, quando deviam optar por um meio racional e biológico para o controle de pragas e doenças. O secretário voltou a afirmar que não se trata de não colocar nenhum produto químico na lavoura. “Mas colocar somente quando necessário e quando for comprovado realmente o risco de pragas e doenças”.Ortigara apelou ao setor privado a contribuir com essa estratégia do poder público de incentivar o uso reduzido de produtos químicos sobre as lavouras, sem deixar de buscar resultados rentáveis economicamente. “Acreditamos que hoje essa é a estratégia adequada e a forma correta de fazer no Paraná”, ressaltou. O importante é que tenham equipes técnicas para orientar o produtor sobre o melhor momento de entrar com produtos químicos nas lavouras, acrescentou.
PROPRIEDADES - As ações da Campanha Plante Seu Futuro vêm sendo executadas, em caráter demonstrativo, em 123 propriedades do Paraná, caracterizadas como Unidades de Referência, onde se avalia o impacto da utilização do Manejo Integrado de Pragas, um conjunto de tecnologias para controle de pragas e doenças sobre as lavouras.Essas ações são conduzidas em parceria pela Emater e Embrapa, que ajudam o produtor a adotar tecnologia de manejo que busca manter o ecossistema da soja, o mais próximo possível do equilíbrio. Trata-se de um manejo que colabora com a sustentabilidade da lavoura e a preservação do meio ambiente no longo prazo, evitando o uso abusivo de inseticidas.Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Osmar Comte, o “MIP” promove o controle racional das pragas, por meio da associação de diferentes táticas como o uso de cultivares mais resistentes às pragas de controle biológico, prioridade a agrotóxicos mais seletivos aos insetos, que sejam mais seguros ao homem e ao meio ambiente e uso somente quando necessário.
RESULTADOS - O número médio de aplicações de inseticidas nas Unidades de Referência que utilizaram o MIP no Paraná, na safra 2015/16, foi de 2,1 aplicações durante todo o ciclo vegetativo, enquanto a média estadual foi de 4,5 aplicações entre os produtores que não utilizam a tecnologia. Isso mostra que a redução na aplicação de inseticidas foi superior a 55% nas áreas que adotam o MIP.
Na avaliação por evento tecnológico, com variedades transgênicas RR ou RR + Bt, o número médio de aplicações nas áreas monitoradas que utilizaram Bt foi de 1,9 pulverizações. E nas áreas comerciais, que utilizam a tecnologia Bt, o número de aplicações de inseticidas dobra para 3,8 vezes.Um bom indicador da campanha relativa à safra 2015/16 foi o tempo decorrido até a primeira intervenção com inseticidas para o controle de pragas, que se deu aos 67 dias nas áreas monitoradas. Já nas áreas comerciais, não monitoradas, a entrada da primeira intervenção ocorreu aos 36 dias.O impacto da campanha foi positivo também em rentabilidade e produtividade. Nas áreas de manejo, nas Unidades de Referência, o custo da lavoura de soja foi avaliado em duas sacas por hectare e produtividade de 57,1 sacas por hectare. Nas propriedades normais, a média de custo da lavoura, no Estado, foi de quatro sacas por hectare e produtividade de 55 sacas por hectare, o que comprova que o Manejo Integrado de Pragas não reduz produtividade e ainda promove ganho em rentabilidade, disse o técnico da Emater Fernando Teixeira de Oliveira, que apresentou os resultados.
RECONHECIMENTO - A FAO, órgão das Nações Unidas para Alimentação, reconheceu o esforço do governo do Paraná em promover boas práticas agrícolas para o desenvolvimento sustentável e inseriu esse trabalho em sua plataforma eletrônica, onde apresenta essas recomendações para o mundo. “Podemos ajudar na divulgação desse trabalho na plataforma da FAO, que tem penetração mundial”, disse Biasi.A FAO emitiu certificado de reconhecimento aos técnicos que se empenharam na avaliação e elaboração da publicação “Resultados do Manejo Integrado de Pragas da Soja na Safra 2015/16 no Paraná”, Osmar Conte, Fernando Teixeira de Oliveira, Nelson Harger, Beatriz Corrêa-Ferreira, Samuel Roggia, André Mateus Prando e Celso Daniel Seratto.
GRANDE PRODUTOR - A adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), preconizada pela Campanha Plante Seu Futuro, é dirigida a todos os produtores do Paraná. Inclusive aos grandes, que normalmente estão acostumados a comprar os pacotes tecnológicos recomendados.O produtor e engenheiro agrônomo Richard Dijkstra participou do evento e contou que está contabilizando lucros e produtividade com a adoção dessa tecnologia. Ele é proprietário da fazenda Frank'Ana, em Ponta Grossa, que tem uma área de 1.790 hectares. “Há quatro anos faço o controle biológico na minha propriedade e constatei que posso aumentar a produtividade das lavouras e reduzir o custo com o controle biológico”, disse.Segundo Dijkstra, ele conta com apoio de assistência técnica da Emater, Embrapa e consultoria da Fundação ABC, de Castro. De acordo com o agricultor, a produtividade das lavouras de soja em sua propriedade está rendendo de 200 a 300 quilos por hectare a mais em sua média de rendimento. E o custo de produção, que variava em torno de US$ 100 por hectare, caiu para US$ 43 por hectare com a adoção do MIP.Dijkstra defendeu o fortalecimento da divulgação dessas práticas para que essas referências sejam replicadas para os demais produtores. “Os resultados são realmente positivos com o uso racional dos agroquímicos e com isso conseguimos um solo e meio ambiente mais equilibrado e bem mais eficaz”, afirmou.